Mário Hermano(1941-2016) era uma pessoa queridíssima em Santana do Ipanema. Durante décadas, cuidou da contabilidade da centenária e tradicional loja “Casa o Ferrageiro” especializada no comércio de ferragens e materiais de construção. Era o servidor que levava o movimento de caixa ao banco, diariamente. Pontualmente, ao meio dia, chegava ao Banco do Brasil com a papelada rigorosamente ordenada. Fazia gosto processar o movimento da empresa.
Calmo e centrado, foi professor do Ginásio Santana, no curso técnico de contabilidade, ministrando a disciplina mecanografia e processamento de dados, cuja educação e gentileza faziam dele um dos profissionais mais respeitados. Com paciência e atenção, ele transformava o aprendizado em uma experiência enriquecedora, sempre incentivando os discentes a alcançarem o melhor de si.
Mas suas contribuições foram além dos muros do tradicional educandário. Como dirigente voluntário do Lar de Idosos Sociedade São Vicente de Paulo, dedicou parte do seu tempo na administração do lar. Seu compromisso com o bem-estar dos residentes era evidente em cada ato de serviço.
Exercendo a presidência do Sindicato dos Comerciários de Santana do Ipanema, lutou incansavelmente pelos direitos dos trabalhadores. Sua liderança era marcada pela integridade e pelo profundo respeito que tinha por todos aqueles que representava. Sua voz era ouvida com atenção e reverência, pois todos sabiam que ele sempre agia em prol do bem comum.
Católico fervoroso, semanalmente, durante anos, atuou como comentarista assíduo nas liturgias das celebrações matutinas na Igreja Matriz de Senhora Santana. Sua voz era inconfundível. Aos domingos as missas eram transmitidas pela emissora de rádio AM “Rádio Correio do Sertão”, nos anos 1980.
A função exigia que ele portasse o microfone durante toda a celebração. Era natural que sua voz se misturasse às vozes dos coralistas nos momentos dos cânticos. Talvez o que ele não soubesse era que sua voz se destacava dentre os cantores, na transmissão, repercutindo nos milhares de aparelhos receptores por toda a região.
No período, seu Liô tinha o hábito de acompanhar as cerimônias dominicais no seu velho rádio de mesa “Mullard” que ainda hoje é preservado como relíquia. Como era músico, detentor de uma aguçada percepção musical, eu o ouvia murmurando sozinho:
- Vixe, como seu Mário é desafinado!
Essa observação, que poderia parecer uma crítica severa, era na verdade um reflexo do carinho e da familiaridade que todos sentiam por seu Mário. Mesmo desentoado, ele era uma figura indispensável às celebrações e um símbolo de dedicação e serviço.
Por respeito e admiração, eu nunca revelei essa observação com receio de que ele ficasse triste e até pudesse desestimular sua participação nos rituais. Ademais, seu Liô havia falado somente para si mesmo!
Na década de 1990, com a popularização dos microcomputadores pessoais, seu Mário também aderiu à tecnologia com o foco na modernização e excelência nos serviços contábeis. Malta Neto, um dos precursores da novidade na região, tanto na instalação, quanto na manutenção, confidenciou-nos que foi chamado para corrigir uma falha operacional do seu computador. Ao abrir o gabinete, os cabos flats, na época existentes, estavam amarelados devido à ação da nicotina proveniente do uso contínuo de cigarros próximo do equipamento. Nem com a aplicação do diluente químico “thinner” conseguiu remover as manchas impregnadas nos componentes, ressaltou Malta. O uso contínuo de cigarros lhe trouxe sérios problemas de saúde, contudo ele encarava tudo com bom humor, dizendo:
- O que tiver de ser, será!!
A cooperação voluntária do indivíduo em diversos segmentos sociais representa o mais alto nível de socialização, uma vez que demonstra o compromisso e a consciência coletiva em prol do bem-estar comum. Através do engajamento espontâneo em atividades comunitárias, o indivíduo reforça valores fundamentais como solidariedade, empatia e responsabilidade social. Este tipo de cooperação transcende o interesse pessoal, promovendo um ambiente em que a colaboração mútua é a base para o desenvolvimento sustentável e harmonioso da sociedade. Dessa forma, ao se envolver voluntariamente em ações sociais, cada indivíduo não apenas contribui para a resolução de problemas coletivos, mas também fortalece laços sociais e promove uma convivência mais integrada e cooperativa.
Esse homem singular não só marcou a vida de seus alunos e colegas, mas também deixou um legado duradouro de bondade e serviço à comunidade. Em cada esquina de Santana do Ipanema, sua presença ainda é sentida, e suas ações continuam a inspirar aqueles que o conheceram. Ele não foi apenas um professor dedicado, mas um verdadeiro farol de bondade e serviço. Seu legado vai muito além das aulas e dos ensinamentos, pois ele plantou sementes de inspiração e compaixão que continuarão a florescer.
Janeiro, 2025
Show de crônica. Parabéns confrade João Neto de Liou.
ResponderExcluirJosé Malta Fontes Neto.
Homenagem mais que merecida amigo João.
ResponderExcluirHomenagem mais que merecida amigo João.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMário Hermano é merecedor dessa homenagem postada por você, João de Liô.
ResponderExcluirParabéns, Xará!
João de seu Liô, tudo que falou, o Mario era isso e muito mais, tive o privilégio de trabalhar no Ferrageiro com seu Mário Hermano
ResponderExcluirJoão de seu Liô, tudo que falou, o Mario era isso e muito mais, tive o privilégio de trabalhar no Ferrageiro com seu Mário Hermano
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