Dilemas

 

Viver é um desafio para qualquer um. Em toda nossa existência a angústia não nos perderá de vista. Vigilante obcecada, não dá trégua e se aproveita de qualquer vacilo para comprovar quão frágil é a natureza humana, obrigando-nos a fazer malabarismos na corda bamba.

Foto: redes sociais

E não demora muito para que nossas fragilidades sejam expostas, fazendo-nos duvidar de nós mesmos e experimentar a face nua e crua da insipidez e da aridez paralisante de quem se encontra perdido no meio do deserto a milhas e milhas distantes de qualquer terra habitada. Nos momentos cruciais estamos sós, com os nossos pensamentos e decisões acertadas ou não!

É um engano a gente imaginar que as nossas escolhas estarão listadas num contrato assinado com cláusulas imutáveis, sem repactuações. Cedo ou tarde, as vicissitudes da vida nos colocarão em encruzilhadas. E aí, diante do inevitável, precisaremos reafirmar ou decidir por novos caminhos com a certeza de que, para cada escolha, teremos que pagar o quinhão das consequências.

É preciso pensar duas vezes qual o caminho a trilhar. No itinerário surgirão os conflitos e dilemas que levarão de encontro a nós mesmos e de encontro aos nossos princípios. “Viver é isto: ficar se equilibrando o tempo todo entre escolhas e consequências”. Jean-Paul Sartre (1905-1980).

Qual é a sua fonte de renovação? Será que é suficiente e conseguirá suprir ou, pelo menos, equalizar as consequências? É a partir dessa pergunta pessoal e intransferível que se fortalecerá o nosso poder de decisão. Além do mais, será preciso discernir quais fontes poderão nos nutrir quando chegarem os dias sombrios: renúncia, resignação, música, livro, espiritualidade, filme e família.

“De fato, não conseguimos controlar tudo em nossa vida, mas podemos optar em como vamos lidar com o que nos acontece, fazendo o que nos cabe, aceitando as coisas que não conseguimos mudar. O que muitos não têm consciência é que mesmo ao fazer nada, isso também é uma escolha”. Jung(1875-1961)

A coragem é seguir, mesmo com medo. Mas, para onde ir? Não nos enganemos: qualquer opção escolhida em algum momento nos levará a conflitos internos e as mesmas perguntas precisarão ser repetidas. Não há uma receita pronta. Cada um é cada um. Resta olhar para a luz interior, à luz dos seus princípios, espiritualidade e coerência sem nunca fazer vista grossa às implicações. Viver é isso e muito mais.

“Observa um homem em meio à dúvida e ao perigo, e saberás, nessa hora de adversidade, o que ele realmente é", escreveu o filósofo romano Lucrécio. “É então que as expressões sinceras são arrancadas dos recônditos do seu peito. A máscara é arrancada; resta a realidade."

"Algumas pessoas têm uma vida mais cheia de problemas do que outras. Mas não se iluda: todas as jornadas de vida passam por trechos ásperos. Todos somos testados e chamados à ordem. Existirão ocasionais percalços na estrada, surpresas desagradáveis, atrasos irritantes, acidentes e enganos que aborrecem. Dias em que tudo dá errado. ("Quando vêm tristezas, não vêm isoladas como espiãs, mas aos batalhões", observa Shakespeare em Hamlet.) Há momentos em que o mundo inteiro parece estar desmoronando. A adversidade ocupa uma boa parte da vida, e, quanto mais cedo aprendemos a lidar com ela, mais suave fluirá a nossa vida.

Faz-se mister prepararmo-nos para as ocasiões em que o caminho fica de repente mais íngreme, a estrada mais pedregosa, o vento e a chuva nos batem no rosto e uma parte de nós deseja, mais que tudo, voltar atrás. Nessas épocas, para se manter a firmeza de princípios, quase todas as virtudes do arsenal podem ser exigidas - perseverança, coragem, autodisciplina, responsabilidade, atividade e integridade. Também pode-se recorrer à lealdade e amizade de alguns bons companheiros, além da fé em Deus, para atravessar a batalha."

Dezembro, 2024

Referência:

Bennett, William J. Antologias. O livro das Virtudes II.1995