Memorial do povo - Capela das Tocaias

 




Esse fato se deu entre o final da década de 1920 e início da década de 1930. Laducéa, a sexta filha do casal Ana Josefa Maria da Conceição(1896-1986) e Silvino Pereira de Barros(1891-1942), nasceu com um nódulo exposto na parte de trás da cabeça.

À medida que a criança ia crescendo o caroço também aumentava. A família morava no Sítio Cipó, na região da Sementeira, zona rural no entorno de Santana do Ipanema. O primeiro recurso para os problemas de saúde naqueles anos era procurar os chamados curandeiros (feitores de garrafadas) em quem acreditavam piamente e uma minoria procurava a farmácia do seu “Carôla”, homem prático e muito considerado.


São Manuel Mártir na igreja
da Corrente em Penedo AL
Nessa época era comum a morte de recém-nascidos como moscas, vítimas de gastrenterite, tosse braba(coqueluche), sarampo, verminose, ferida de boca e furunculose.

Depois de esgotar os recursos básicos, a família buscou ajuda com seu Cariolando Amaral, vulgo seu Carôla. Galego alto, tipo alemão, sério e usuário permanente de gravata, tipo borboleta. Tinha sua farmácia no “prédio do meio da rua”. Seu Carôla utilizou todos os recursos que estavam disponíveis, sem sucesso.




O primeiro médico da cidade foi o doutor Arsênio Moreira que somente chegou em 1936 para atuar como médico do batalhão de polícia que foi instalado para centralizar as ações de combate ao famigerado grupo de Lampião.

Naquela época não havia alternativa aos doentes de maior complexidade. Se os boticários ou práticos não conseguissem curar as enfermidades do povo, restava contar com a sorte ou recorrer à fé para sobreviver.

Diante da gravidade do caso, considerando os poucos recursos da época, a família pediu socorro e proteção aos céus, fazendo uma promessa por intercessão de São Manoel da Paciência ou São Manoel Mártir, padroeiro da Capela das Tocaias. Os termos em que a família firmou a promessa, incluíam a realização de procissão da comunidade até a igrejinha, entonação de cânticos religiosos, recitação do terço mariano e entrega de ex-voto na forma de uma cabeça esculpida na madeira pelo pai, seu Silvino e o espocar de foguetes, encerrando os louvores.

Esclareceu o filho Silvano Gabriel que dona Maria Pereira de Barros (1924-2022), mais conhecida como Maria Cabocla, era um ano mais velha que a irmã Laducéa. Pela tenra idade, não se recordava do fato, porém ouviu de dona Ana Josefa, sua mãe, reiteradamente, a mesma história no decorrer da vida.

Poucos dias depois da solene promessa, o nódulo que já estava do tamanho de uma laranja se rompeu, expelindo as secreções naturalmente. Depois murchou, estabilizou e cicatrizou, embora ninguém tivesse identificado de fato a doença. O mal foi erradicado e a garota, curada.

No dia marcado, a família, amigos e vizinhos do sítio Cipó(Sementeira) partiram em procissão em direção à Capela das Tocaias, distante 5 km, cantando e rezando efusivamente. Relatou dona Maria Cabocla que muita gente participou daquele momento devocional que conduziu o ex-voto, esculpido pelo pai da menina, seu Silvino. No pátio da capela foi realizado o ritual católico de celebração da palavra com a recitação do terço mariano, acendimento de velas e queima de foguetes, tudo como gesto de gratidão.

Laducéa (1925-1934) viveu até os nove anos e faleceu em decorrência de complicações de sarampo, segundo a família.


Outubro, 2024



Fonte de referência:

Entrevista concedida por Silvano Gabriel Pereira de Barros dos Santos em 01.10.2024, via Whatsapp.








Missa e lançamento do livro realizado na Capela no dia 12.01.2024


Comentários

  1. João de Liô, como diz nosso querido amigo, Luiz Antônio Farias, Capiá, " nossa história tem que ser contada". E isso você está fazendo muito bem e com propriedade .
    Parabéns, Xará, por mais essa revelação importante para história de Santana do Ipanema.

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  2. Muito interessante caro amigo e confrade João Neto Felix, esses casos de cura e fé do inicio do século passado. Muitas dessas histórias inspirariam muitos inscritores nordestino a produzirem grandes obras. A arte imita a vida ou a vida imita a arte? Ass. Fabio Campos

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