Por ocasião do centenário da emancipação política de Arapiraca neste ano, reproduzimos matéria publicada no jornal “O Panema”, órgão noticioso e de interesse coletivo do município. Sant’Anna do Panema, 31.03.1929
Direção: José Limeira Filho
Gerência: Valdemar Lima
Ano:1 Nº 5
Reprodução da matéria com atualização dos vocábulos.
“Em prol do progresso de futuroso Município”
Dentre os municípios do interior do estado, sem dúvida nenhuma, Arapiraca e dos que estão a merecer as atenções dos públicos poderes no sentido de ampará-lo com melhoramentos compatíveis ao seu atual desenvolvimento.
Todos quantos conhecem Arapiraca admiram-se do progresso que há tido num lapso de vida administrativa relativamente curta inaugurada na passada administração que, num ato de justiça, constitui-o em município independente. Esse ato do executivo estadual, sobre coroar uma longa e justa aspiração dos arapiraquenses, deu-lhes, além disso, asas para elevar-se a um plano inteiramente superior. Incentivando-o a maiores proporções de trabalho e de atividades que concorrem em um futuro muito próximo para a independência econômica do município.
E, não obstante, a crise geral que tudo tem superá-lo, pelo esforço hercúleo dos seus habitantes, vemos esse município marchando ao lado das comunas que progridem. Aí está comprovando o grau de seu adiantamento orçamento da receita municipal que em 1924 no início da administração era apenas de 10$000 (Dez mil réis, equivalente hoje a 250,00 reais) e hoje, em menos de um lustro, se eleva à cerca de 22$000 (Vinte e dois mil réis, equivalente hoje a 550,00 reais), mais do dobro, o que evidencia de modo claro e insofismável a sua ascendência progressiva e, todavia, as suas riquezas naturais conte, quão de um modo absoluto entregues a si mesmo estacionadas e inexploradas.
O trabalho agrícola, que é intensivo, especialmente no cultivo de algodão, mandioca e fumo, é seguido ainda pelos processos radicalistas da rotina, de maneira que, as suas possibilidades de riqueza, com a adoção dos métodos científicos modernos, hoje, em voga na agricultura, serão ampliadas ainda mais, concorrendo, desta sorte, para o aumento da fortuna comum e quiçá, das rendas públicas.
Sabemos quanto de benefícios nos são advindos com o estabelecimento de redes rodoviárias cortando todo o interior do Estado, ligando os mais longínquos municípios à capital, estreitando num só abraço de onde decorre o mútuo auxílio, os interesses econômicos da população e finalmente levando a civilização até o mais obscuro lugarejo do Estado.
É este, incontestavelmente, um serviço de alta monta e de incomparável valor, que por si só vale por um grande programa administrativo.
Compreende-se, assim, a visão larga do nosso governo e de sua patriótica orientação, que, bem avisado e compenetrado dos seus deveres constitucionais, vem nos dotar com melhoramentos de tão alta significação, a cuja realização não poupa sacrifícios, contribuindo para o maior desenvolvimento de nossas atividades criativas na agricultura, no comércio e nas indústrias. E o povo, por um desvanecimento justo, sente-se feliz e satisfeito, porque vê que as suas necessidades estão sendo olhadas com carinho e interesse.
Reconhece os benefícios que deste modo lhe vão sendo ministrados, os quais, atuando fortemente em seu ânimo, impulsionam ao desejo de outras realizações consentâneas com o caráter e o grau de progresso que almeja.
Dali essa sede de trabalho, que não estanca, essa soma de esforços que não diminui; essa azáfama de atividades que não para; em que, assemelhando-se mais a uma grande colmeia de operários, vemos de mãos dadas governo e povo, conjugados e empenhados no mesmo ideal comum.
Contudo, é preciso notar que, à medida que desdobramos, de energias, à medida que andamos para a frente nessa marcha progressiva, outras necessidades surgem, novas obrigações repontam, a que se não pode faltar por se constituir em sérios obstáculos ao nosso aperfeiçoamento, tornando-se, por consequência, efetiva o dispensável a aplicação dos meios de remoção.
Casos há que só a ação dos poderes públicos os pode realizar, por se acharem sob a exclusiva dependência do estado. São os que ocorrem no presente, no município de Arapiraca, onde o seu progresso atual pede maior número de escolas públicas, por serem cientes para a totalidade de crianças em idade escolar a cadeiras de instrução primária existentes: reclama a construção de uma linha telegráfica que tendo ali uma estação, lhe facilite a comunicação com os diversos lugares que dispõem dos benefícios desse serviço público, e aos quais se acha ligado por interesses recíprocos; finalmente, existindo na sede do município uma agência de correios acontece poucas vezes por mês, talvez 5 ou 6, são recebidas correspondências, redundando esta exiguidade de serviço não poucos embaraços e prejuízos ao comércio local que tanto contribui, de modo satisfatório para o acréscimo das rendas públicas.
Então é admissível que uma (... ilegível…) de movimentos no comércio e indústrias e com uma população bastante numerosa se ressinta de tamanha carência de comunicações, quando outras localidades relativamente menores são melhormente aquinhoadas.
Aí ficam enumerados os melhoramentos de urgência imprescindíveis ao progresso de Arapiraca, que tornando-os públicos, apelamos para quem de direito à sua realização.
Jornal “O Panema”, maio de 1929.
"A maior realização de Valdemar de Souza Lima no âmbito da história local foi a de pioneiro do jornalismo santanense, o que mereceu destaque na contracapa do seu livro sobre Graciliano Ramos, cuja primeira edição tem o selo da Editora Marco, de Brasília (1971).
Interessado que foi sempre na evolução cultural do seu Estado, fundou com outros colegas o jornal “O Panema”, que circulou em Santana do Ipanema.
Oscar Silva anotou algumas referências históricas que reiteram a existência desse jornal pioneiro, do qual existem exemplares no acervo do Museu Histórico Municipal.
Resgatando fatos relacionados com as ameaças de invasão do território santanense pelo bando de Lampião, ele apresenta como fonte uma matéria publicada nesse jornal.
Dias depois circulava O Panema e em suas colunas dava a notícia... (Oscar Silva, p. 78).
Certamente o periódico foi tragado pela voragem da crise econômica decorrente da quebra da bolsa de Nova Iorque, debilitando a economia mundial e repercutindo na vida sertaneja, sem dúvida afetada também pela Revolução de 1930.
Tadeu Rocha também testemunha a existência do "jornalzinho municipal”, onde o professor Zezinho Limeira publica imaginárias cartas amorosas (Tadeu Rocha, 1964).
Tratava-se de jornal sem periodicidade, conforme testemunho prestado por Valdemar ao redator da nota biográfica contida no introito da segunda edição do seu livro sobre Graciliano Ramos."
José Marques de Melo, 2010, do artigo “Vozes que ampliam as fronteiras santanenses muito além das margens do Ipanema”, do livro: Sertão Glocal: um mar de ideias brota às margens do Ipanema, Maceió, 2010.
João de Liô,
ResponderExcluirCom suas pesquisas bem alicerçardas , nos traz essa jóia rara , o exemplar de jornal "Panema" de 1929..
Parabéns, Xará, por mais essa..