Ulisses de França Braga "Clarinete"

 




Ulisses de França Braga, nasceu em 05.06.1944, em Matriz de Camaragibe, filho de Edson Simões Braga e Christina de França Braga. Casou-se com Nilce, filha de seu Abílio Pereira, patriarca da tradicional família santanense. O casal teve os filhos: Fernando, Stella e Ulisses.


Luiz Antônio de Farias, Capiá, relatou em crônica que em 1964 foram aprovados em concurso do Banco do Brasil, Cloves Damasceno Amorim, Hélcio Gabriel Alvim, Jarbas Melo Carvalho, Narciso Pereira Alécio, Manoel Oliveira Queiroz (Mané do Bode), Paulo Silva (Paulo Sabão), todos nomeados para a agência local.

“Por extrema necessidade de pessoal, pois na época o Banco se achava em plena expansão, foram nomeados, também, candidatos aprovados em outros municípios de Alagoas, principalmente Maceió. Entre eles estava Ulisses Braga, que para espanto de todos nós “monolíngues”, falava fluentemente inglês e espanhol e tinha noções de francês e de alemão.”

Ulisses, em 2011, escreveu o prefácio do livro de Zé Neto “O Marechal Que Virou Major”, discorrendo, em suas palavras iniciais, seus primeiros passos no solo sertanejo: ”Eram cerca de dez e meia da manhã de uma quinta-feira, 28 de janeiro de 1965, quando o ônibus poeirento e bem chacoalhado parou em frente à Sorveteria Pinguim, extensão da Praça do Monumento. Descemos, eu e o Nilton Almeida Cavalcanti, e apanhamos as nossas malas no bagageiro. Olhei ao redor, numa primeira sondagem daquela que seria, pelos próximos 12 anos, a minha residência e a que iria me trazer o amadurecimento de que tanto necessitava: Santana do Ipanema, cidade líder na árida região sertaneja de Alagoas. Era pleno verão, e a temperatura não deixava dúvidas sobre onde eu estava.”

“...Assim, poucas horas após ter chegado a esse torrão que aprendi a amar, formei o meu primeiro grupo de excelentes amigos: Darras Noya, Fonfa (Idelfonso), major Guedes e Nêgo Désio. O regente do grupo, dono do bar que ali funcionava, com o seu bigode bem cultivado e uma pança imponente, era o gentil e atencioso Miguel da Barriguda. Hoje, todos habitam outras esferas, mas as saudades ainda estão muito vivas.

O Darras, grande amigo vitalício, tinha dois filhos: Nestor e José, ambos Peixoto Noya; o Noya, claro, herdado do pai. O Peixoto veio de dona Marinita, mulher de fibra e educadora merecidamente homenageada por todos, que pertencia à estirpe do Marechal Floriano Peixoto.

Desde esses tempos teve início essa amizade duradoura com aquela família, tendo o José ou Zé Neto de Darras se tornado companheiro de tantas aventuras; às vezes, homéricas; às vezes, frustrantes.”

Prossegue Capiá: “No vigor de seus 20 anos e no alto de seus 1,98 m, magro igual a “rato de casa de ferragem“– tanto é que seu apelido era Clarinete – Ulisses ganhou logo a admiração dos colegas. Sua presença, como poliglota, afastou de vez a preocupação que era causada quando chegavam estrangeiros à “terrinha”.

A princípio notavam-se certos conflitos de postura e de costumes entre os nativos e os “forasteiros”, principalmente os cosmopolitas. Entretanto, essas “discórdias” tinham mais um propósito de gozação do que de deboche. As dissensões se acentuavam quando o assunto era a preferência pelas iguarias consumidas como tira-gosto, nas ocasiões em que os grupos se juntavam para celebrar o culto ao vício da embriaguez. Enquanto os matutos cultuavam a buchada de bode, a carne do sol, o guisado de carneiro, a galinha guisada ou ao molho pardo, a rabada de boi e de porco, os pracianos defendiam o consumo do marisco, do camarão, da lagosta, do sururu, do caranguejo, do siri, e de outros sofisticados manjares que eram trazidos por eles, semanalmente, da capital.

Ulisses Braga – o Clarinete – era um mestre em “inventar” guloseimas, para acirrar cada vez mais o “conflito” entre as partes. Em uma determinada ocasião ele trouxe, de Maceió, um queijo gorgonzola, para ser degustado no final de semana, acompanhado de “louras suadas” e outras similares. Falou “mundos e fundos” do novo produto. No dia certo da degustação, Ulisses, ao abrir a geladeira da república, deu por falta do “badalado” petisco. Imediatamente interpelou Dona Zefa, a serviçal:

– Dona Zefa, cadê aquele queijo que eu trouxe domingo, de Maceió?

– Ah, Seu Uliço, ele tava mofado e eu botei no lixo.

Carnaval de 1969. Acervo da família.



Diz ainda Capiá: “Era pessoa extremamente inteligente, culta, educada e de uma presença de espírito acima do normal. Nos finais de semana tinha duas opções: ou se deitava numa rede, na república para ler, só se levantando para as necessidades usuais ou se dedicava ao "vício da embriaguês", da sexta à tarde até o domingo de bar em bar ou na república.”


Foi transferido em 1984, inicialmente para Batalha, depois Atalaia, como supervisor e depois, como chefe de setor na superintendência em Maceió, no período de 1988 a 1994, quando se aposentou. Segundo seu compadre Tonho Cupim, chegou na gerência regional com todo gás, querendo resolver tudo rapidamente, tanto que recebeu o apelido de “furacão branco”.

Eu o conheci em 1975, quando tomei posse como menor aprendiz. Impressionava sua altura, embora eu, adolescente, receava chamá-lo pelo apelido. Apesar da gente trabalhar em setores diferentes, ninguém passava incólume às suas incansáveis brincadeiras. Era pessoa espirituosa e criativa, sempre inventando alguma coisa para estimular a interação e a descontração. Comunicativo, tornou-se radioamador para se conectar com o mundo. Jamais esqueci que ele foi responsável por implantar sessões semanais de cinema na AABB com uma máquina de projeção de 16 mm. Na minha pesquisa “Contextualização e memória do cinema santanense” sua participação está registrada.

Depois de muito tempo, já aposentado, tomamos conhecimento de que implantou e administrou uma emissora de rádio web "Rádio Braguinha" voltada à música popular brasileira. Fez-se canção que ressoa mundo afora. Faleceu em 22.07.2017.


Junho, 2023


P.S. - Nossos agradecimentos a Luiz Antônio de Farias, “Capiá”, pela gentil cessão de trechos de suas crônicas “O troglodita” e “Cadê o queijo, dona Zefa?” publicadas no livro “Saudade, o meu remédio é contar”, além do seu depoimento para compor o recorte biográfico e a Tonho Cupim, -compadre-, pelo depoimento e informações.

Comentários

  1. Boas lembranças

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  2. Hayton Rocha19/06/2023, 08:46

    Grande Braguinha! Não sei sabe, até brevê de teco-teco ele conseguiu. Antônio Guedes, aliás, amigo comum entre nós, dizia que numa das exibições aéreas dele tirou um fino tão grande na imagem da padroeira local que correu uma lágrima no olho. Da santa, ressalte-se.

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  3. João Francisco das Chagas Neto19/06/2023, 22:11

    Um pessoa de inteligência acima do normal , um grande coração e comunicativo.
    O nosso Clarinete de saudosa memória..

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