Washington Viana Alves, vulgo “Dotinha”, filho de Cícero Alves, sargento da Polícia Militar de Alagoas e de Maria Celeste Viana, do lar, santanense, nascido em 21.10.1959 na rua professor Enéas Araújo, conhecida como rua “Zé Quirino”, às margens do rio Ipanema. Cursou até a terceira série primária no Grupo Escolar Padre Francisco Correia e da quarta série, curso ginasial e o curso científico no Colégio Estadual Professor Deraldo Campos, atualmente Mileno Ferreira.
Em Santana do Ipanema, ainda menino subiu ao palco do Circo Teatro José Bezerra, o palácio de lona verde que estava em curta temporada na cidade. Além de circo, com palco e picadeiro, era também teatro. Cada dia com uma peça diferente. No drama “A Louca do Jardim” era casa cheia! O espetáculo era uma adaptação para o teatro de um cordel, que começava em versos: "Vinde musa mensageira, do reino de Elohim, traz a pena de Apolo e escreve aqui por mim: o assassino da honra ou a louca do jardim.”
Ao encerramento da performance do palhaço Meloso, lançou um desafio para um menino e uma menina cantarem para julgamento da plateia. Cantando a música “O Cabeção”, de Roberto Corrêa e Sylvio Son, gravada pelos Goldens Boys em 1970, o menino Dotinha foi vitorioso sob os aplausos do público e não parou mais de cantar. Sua concorrente, a menina Ladjane cantou o clássico da jovem guarda, a balada “Bilhetinho Apaixonado”, de Niquinho e Othon Russo, lançada em compacto simples pela cantora Kátia Cilene, em 1968 e ainda gravada pelos grupos The Pops e The Fevers.
No Cine Alvorada, nos anos 1970, nos programas de auditório participou e venceu várias etapas como calouro, sempre com o animador e comunicador Chico Soares. Dentre as canções vencedoras destaca-se a canção “Amor, Amor, Amor” de Marcos Roberto Dias Cardoso(1941-2012), mais conhecido como Marcos Roberto. A interpretação mereceu elogios do comunicador que o elegeu “o menino da voz de ouro”.
Ainda na arena das artes em parceria com Cícero França Campos (Ciço Lopreu) desenharam gravuras da parede lateral direita representando o cotidiano da vida sertaneja, entre as pinturas maiores já existentes do pintor pernambucano Reginaldo França. Rememora que fez inúmeros trabalhos em parceria com o pintor Barbosa.
A parceria com Ciço Lopreu rendeu até o ingresso dos dois amigos nas artes marciais durante um bom tempo. Cícero se engajou de tal forma que se tornou professor.
Relembra com nostalgia e reconhece as influências musicais de tantos anônimos que cruzaram seu caminho, a exemplo de Aderval José (Neguinho de dona Flora) que aprenderam juntos os primeiros acordes de violão. Aliás, o Neguinho de dona Flora, também cantava e era seu concorrente nos programas dos principiantes. Faz questão de citar sua admiração por alguns artistas do cancioneiro nacional, dentre outros: Agnaldo Timóteo, Orlando Silva e Ângela Maria.
Recorda das noitadas na rua dos porcos (Rua Tertuliano Nepomuceno) com pessoas que gostavam de tocar e cantar, tais como Sinésio, Pedro e Everaldo que se encontravam aos sábados para as serenatas na porta da casa de seu Zezinho que tinha uma bodega na rua. Anos mais tarde, dos inesquecíveis encontros musicais na casa de Pangaré; dos ensaios da banda “Os Naturais”; das tocatas com o violonista Tonho Cuscuz e Paulo Jia; da parceria com o irmão Uilton Alves(Cuíca) para farrear no bar de Hélio Farinheiro; do encontro de seresteiros no bar bafo-de-onça, todos na rua Tertuliano Nepomuceno. Um pouco daqui, outro dali foi tecendo o seu eclético repertório.
Cita que em 1978, foi fundado em Santana do Ipanema o segundo movimento de jovens cristãos, denominado COJEBI- Comunidade de Jovens em busca do ideal. Foram os fundadores: Vladimir Pontes Jardim, Jorge Luís Gonzaga, Ivonise Carvalho Silva, Maria do Carmo Araújo e Rosinete Vieira da Silva.
Em julho de 1979, sob a gestão da líder Ângela Bezerra, o grupo resolveu organizar a missa dos jovens durante as festividades da padroeira Senhora Santana no dia 20.07.1979, evento integrante da “Festa da Juventude”. Através de José Elgídio da Silva, amigo comum, conhecemo-nos naquele período participando dos ensaios dos cantos para a celebração da missa que inovou com o repertório do recém-lançado elepê “Hosana Hey” (cristificação do universo), letras e músicas de Roberto Malvezzi. Sob a regência do organista Luiz Maurício Bulhões, com participação do coral do grupo jovem com violão e instrumentos de percussão, a celebração contribuiu para o brilhantismo da festa. Dali em diante nossos laços se fortaleceram e a amizade continuou até os tempos atuais. Igualmente cresceu nossa afinidade musical, aprendizados mútuos, farras e compartilhamento de experiências.
A comunidade eclesial fortaleceu a vivência da fé e das atuações práticas como voluntários da paróquia Senhora Santana cantando nas celebrações litúrgicas e ajudando nas obras sociais nos bairros da periferia, sempre com a orientação do Padre Cirilo e supervisão da Irmã Letícia que nos assistia.
Naquela época estávamos iniciando o aprendizado autodidata de violão popular. Foram muitas noitadas de seresta na praça São Pedro, com os amigos comuns José Elgídio e Raimundo Aquino. Como nem tudo são flores, vivenciamos as angústias e incertezas da chegada da vida adulta. Na prática da fé a aridez também estava presente. Além do canto coral da igreja, o mesmo grupo gostava de se reunir para cantar música popular, dentre eles: Elgídio, João Neto, Raimundo, Ana Maria, Ana Marluce, Rosinete, Ivonise, Ivoneide e Edvan de Gerusa, dentre outros.
Com Edvan Pereira da Silva, que também era violonista e gostava de cantar, compuseram a canção “Viço da Flor”, (ouça) entre 1979 e 1980, que também foi gravada recentemente. Edvan, de saudosa memória, filho de dona Gerusa do bar de Tênis Clube e sobrinho do escritor Oscar Silva.
Licenciou-se em Ciência Sociais pela FFPA - Faculdade de Formação de Professores de Arapiraca, depois FUNESA e atualmente UNEAL-Universidade Estadual de Alagoas, especializando-se em Geografia na PUC de Minas Gerais. Lecionou nas escolas de ensino fundamental e médio em Santana do Ipanema, Dois Riachos e Arapiraca. Em seguida passou a integrar o corpo docente da FFPA-FUNESA-UNEAL. Atualmente é professor emérito.
Em 1985, já casado, sua esposa foi designada para assumir trabalho em Arapiraca. Enquanto aguardava transferência definitiva, ficava hospedado no Hotel Real. No período, houve um festival de música. O proprietário do hotel era o senhor Marcelo que gostava de música e tinha uma letra que foi oferecida para concorrer no festival. Para o desafio, Dotinha convidou o professor, compositor, cantor e violonista Dênis Marques para revisar a letra. Juntos fizeram os ajustes, compuseram a melodia e a cantaram, ficando na terceira colocação com o título “Luz, Som, Vida e Atenção”. (ouça)
Em 1986, incentivado pelo radialista Adeilson Dantas organizaram movimento para lançamento de compacto duplo de vinil resultando na gravação de sua canção autoral “Novo Horizonte”,(ouça)incluída no compacto “Som em Quatro Tempos” gravada no estúdio Som Indústria e Comércio, selo Beverly, em Recife. No projeto também participaram: Pangaré (Orisvaldo Barbosa da Silva), com a canção de sua autoria “Você Chegou”; Dênis Marques, cantando “Galopando em Emoções”, de Clerisvaldo B. Chagas e Dênis e o próprio Adeilson, cantando “Colorida”, de Dotinha, Dênis e Adeilson.
Confessou Dotinha que embora seu pai tivesse aparente aversão às cantorias e farras, acompanhadas do violão, na verdade seu temor era que os filhos pudessem se envolver com brigas, confusões e outras coisas mais. No entanto, ele gostava de música e também tinha seus cantores prediletos. Revelou que foi ele que no final dos anos 1970 o presenteou com um violão.
Ainda em 1985, inspirados pelo sucesso mundial da canção "We Are The World" (tradução: "Nós somos o mundo") composta por Michael Jackson e Lionel Richie, gravada em 1985 por 45 cantores norte-americanos, no projeto USA for Africa, cujo objetivo foi arrecadar fundos para o combate à fome e as doenças no continente africano. A iniciativa desencadeou no Brasil a campanha “Nordeste Já”, em prol da população carente da região inspirada pela ideia original da canção norte-americana. O compacto simples contou com duas músicas: “Seca d’Água” (poema de Patativa do Assaré) e “Chega de mágoa”. Jovens santanenses resolveram reproduzir as canções para apresentação no Tênis Clube Santanense durante a festa da juventude daquele ano no formato playback, após inúmeros ensaios na casa de Sérgio Nascimento, com o apoio do técnico de som Remi Silva. Participaram do projeto: Dotinha, Pangaré, Agnaldo Silva, Edvan, José Elgídio, Dênis Marques e Carmem Tenório, dentre outros. O inusitado evento foi bem impactante.
Em abril de 1995, por ocasião da II Feira de Arte e Cultura realizada sob nossa coordenação na Associação Atlética Banco do Brasil-AABB, incluímos sua canção “Festa de Santana”, (ouça) no musical que teve a minha interpretação. No evento participaram os seguintes cantores e músicos: Waldo Santana (Pangaré), Dênis Marques, Benedito, Josenilda, Maria Aparecida, João Neto, Cida, Senno e Sandro, Arly Cardoso, Euzébio Nascimento(1972-1997) com a participação especial do grupo forrozeiro “Trio Maravilha”: Olivan na acordeon, Tampinha (Antônio Ferreira Neto, 1958-2016) no triângulo e Mariá na zabumba. Os arranjos foram da criação coletiva.
Em 2020 compôs a melodia para poesia de José Elgídio do mesmo ano, “Seremos os mesmos?”.
O professor, escritor, cantor, compositor e violonista santanense compõe canções desde a adolescência e recentemente gravou 16 canções, dentre elas “Festa de Santana”.
Casado com Carmem Oliveira Alves, o casal tem 03 filhos e 03 netos. Na literatura, vai estrear de forma inusitada lançando 5 livros de uma só vez sobre diversos temas. Entusiasmado e inspirado revela que é seu propósito celebrar esta realização até o final do semestre em curso.
Festa de Santana ( Dotinha)
Num lugar qualquer
Do meu país
Festa tão bonita
Eu nunca vi
O Espírito Santo
Sendo pregado
Tem quermesse, prenda e diversão
É uma festa consagrada
Tem viola e violão
Tem forró e tem novena
Tem zabumba e foguetão
Moça bonita pros olhos ver
Muito acepipe pra se comer
Mês de julho, mês de Ana
É a festa de Santana
Abril, 2023
Parabéns Xará!
ResponderExcluirBelo resgate sobre o Dotinha, recheado de inúmeras outras informações correlacionadas...Muito bom.
Dotinha, de quem fomos quase vizinhos quando morei na Rua Belmira Brandão (Antiga Rua do Velandre) e que a nossa diferença de idade era inexpressiva, para compartilharmos as mesmas brincadeiras de criança.
meu velho amigo, Dotinha. seria ele um mabembe? muito bom João de Liô. a prática de escrever.
ResponderExcluirdigo mambembe
ResponderExcluirFaltou a parte dos episódios de atuação de nosso artista no grande Circus do palhaço Bigodinho.
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