Há Sempre um Nome de Mulher - Judite Rocha de Oliveira (1911-1993)


Judite Gonçalves Rocha, filha do Coronel Manoel Rodrigues da Rocha (1857-1920) e de dona Maria Isabel Gonçalves Rocha – dona Sinhá, (1876-1966) nasceu em Santana de Ipanema, no dia 21.02.1911.

"Ainda na infância foi estudar em Aracaju, matriculada pelo pai no Colégio Nossa Senhora Santana, dirigido pela professora Quintina Diniz de Oliveira Ribeiro, permanecendo no regime de internato durante cinco anos."

Por falta de registros, não foi possível obter informações precisas sobre sua formação educacional. Provavelmente, elementar, secundária e docência, visto que era seu desejo dedicar-se ao magistério.

"Casou, em 23.06.1937, com o santanense Benedito Alves de Oliveira(1906-1997), filho de uma família de agricultores de algodão, João Alves de Oliveira e dona Totonha, irmão da professora Helena de Oliveira Chagas, Breno, Irene e Gildete Oliveira Bulhões. Até os dez anos ele viveu e trabalhou em uma fazenda do município. Posteriormente, mudou-se para Aracaju para prosseguir os estudos do preparatório, ficando no Grêmio Escolar do Dr. Evangelino Faro, instituição da qual se tornou proprietário. Trabalhou para se manter no antigo Colégio “Tobias Barreto”.

Tentou seguir o curso superior na Escola de Odontologia de Sergipe, mas a instituição teve uma breve existência no Estado - o curso superior foi criado na gestão de Graccho Cardoso. Foi à Bahia continuar seus estudos na Faculdade de Odontologia daquele Estado, entretanto, sua formação foi interrompida, mais tarde, por dificuldades financeiras.

No entanto, o jovem alagoano sempre lutou por seus ideais. Contou com o apoio de José Augusto da Rocha Lima (professor e inspetor do ensino em Aracaju). Benedito de Oliveira ocupou cargos de auxiliar de direção do Colégio "Tobias Barreto", depois diretor do Grupo Escolar "General Valadão", destacando-se como um dos melhores diretores do Estado, por demonstrar sua capacidade administrativa ao dirigir esta escola por 32 anos. "Acumulando experiência e tendo um ciclo de amizades, detendo um grande capital social e cultural, o que lhe favoreceu uma posição de destaque na sociedade aracajuana e prestígio na iniciativa escolar".

Dentre as ações desenvolvidas por Benedito de Oliveira nesse período, destacam-se a fundação de uma biblioteca, o atendimento dentário, a implantação de uma sopa nutritiva acompanhada de pão, iniciativa desenvolvida junto ao então diretor do Departamento de Educação, José Rollemberg Leite". Incentivou também a parte artística, conseguindo um piano para as festividades escolares.


O grande sonho de Judite era a fundação de uma escola em Aracaju, cuja missão designou e passou a apoiar o esposo nesse objetivo. Tornou-se a grande auxiliar do Ginásio Jackson de Figueiredo, fundado em 1938, assumindo, especialmente, a responsabilidade pelas crianças e adolescentes que permaneciam internos na Instituição, cuja pedagogia atrelava educação à disciplina, formando gerações de sergipanos, alagoanos e baianos.

Tinha com a escola uma relação filial, visto que o casal não teve filhos, dedicando-se, por quarenta e dois anos, ao trabalho de educar, entendido e conduzido com uma disciplina férrea, sempre ao lado do professor Benedito."

Antes de sua mudança definitiva para Aracaju, Judite ainda exerceu o mandato de vereadora eleita para o período de 1936-1937 e continuou participando da sociedade santanense, conforme veremos a seguir:

"O primeiro mandatário eleito de Santana do Ipanema foi o senhor Joel Marques(1896-1977), que foi fundador da banda de música do povoado Capim (atual cidade de Olivença) e base da futura filarmônica “Aratanha”, em Santana do Ipanema. Advogado prático, aproveitando a Constituição de 1934 e a manobra política de Getúlio Vargas, Joel Marques foi eleito e tomou posse em 07.01.1936. Foi o primeiro gestor eleito cujo nome passou a se designar “prefeito”. Exerceu um curto mandato até o final de 1937, visto que foi exonerado.

As primeiras vereadoras eleitas foram Judite Rocha de Oliveira e Maria de Melo Bulhões (Maroquita, irmã do Padre Bulhões), para mandato no período de 07.01.1936 a 02.09.1937. No período a mesa diretora da Câmara de Vereadores ficou assim organizada:

Presidente: Ormindo Silva Barros

1ª Secretária: Judite Rocha de Oliveira

2ª Secretária: Maria de Melo Bulhões

Domício José Gregório

Severiano Ferreira Barbosa

João Araújo Abreu

Francisco Soares Melo

Marinho Rodrigues Oliveira

Calixto Anastácio

Fato interessante é que mesmo tendo se mudado para Aracaju a professora continuou participando da sociedade santanense principalmente pelo fato de que sua mãe, dona Sinhá Rodrigues, permaneceu residindo na cidade. Em 1949, Judite Rocha fez uma carta aberta à população conclamando oposição ao projeto do prefeito coronel José Lucena Maranhão que propunha a demolição do cemitério público onde hoje se localiza a igreja da Sagrada Família, visto que sua área impedia a construção de estrada onde atualmente localiza-se trecho da rodovia BR 316.

Após muitas discussões e diante da impossibilidade de acordo, o administrador tomou uma decisão. Reuniu seus comandados e anunciou que faria uma viagem. No meio da noite os trabalhadores deveriam ir ao cemitério demolir a golpes de marreta todas as catacumbas.

Deveriam também cavar as covas e retirar os restos mortais encontrados para que pudessem ser transportados posteriormente para o cemitério de Santa Sofia. Tudo isso deveria ser feito em apenas uma noite, devendo o serviço estar concluído ao amanhecer, sem fazer muito barulho para não chamar a atenção da população, tarefa que ficava relativamente facilitada pelo fato do cemitério ficar num lugar afastado.

No dia seguinte, quando a cidade despertou e a notícia se espalhou, os trabalhadores foram instados a parar o serviço, mas a resposta já estava na ponta da língua: - Só paro com “orde do coroné”!

Enfim, a atitude arbitrária do prefeito Lucena Maranhão no tempo exíguo destruiu parte da história santanense, além do desrespeito à memória de muitas famílias, principalmente as mais pobres que não dispunham de recursos para custear a remoção dos restos mortais para o cemitério Santa Sofia, recém-construído.

Em 1977, por ocasião das festividades dos 40 anos do Colégio Jackson de Figueiredo, o casal foi homenageado pela sociedade aracajuana.

O Lions Clube de Aracaju-Centro homenageou com um banquete o casal Benedito e Judite de Oliveira por estarem vivendo quatro décadas de missão “Instruir e Educar" em Aracaju.

À noite, os insignes educadores foram também especialmente homenageados, recebendo uma "Medalha de Honra ao Mérito", da então novel Associação Profissional do Magistério do Estado de Sergipe, sob a presidência do ilustre Prof. Walter Santana Leão.



Outra importante cerimônia aconteceu na noite da "Gratidão”, na qual os ex-alunos prestaram uma homenagem de reconhecimento aos ilustres diretores, ao fixarem no saguão do colégio, o busto em bronze, do casal, pelos relevantes serviços por eles prestados a Sergipe e aos cidadãos de nossa terra. Hoje esses bustos ainda se encontram no "hall" de entrada do colégio "Jackson de Figueiredo".

Aqui destaco as palavras proferidas pela ex-aluna e ex-secretária do Colégio, Maria Amélia Rocha - uma das promotoras da homenagem, juntamente com o ex-aluno José Adilson de Menezes:

O casal Judite/Benedito Oliveira, nestes 40 anos de dedicação ao ensino, merece muito mais do que esta ínfima homenagem que ora prestamos, simbolizada, entretanto, na perenidade do bronze, doravante acobertado pela pátina do tempo sobre um pedestal alicerçado pela amizade dos ex-alunos desta casa.


No final da vida, Judite enfrentou problemas de demência, falecendo em decorrência de complicações neurológicas, aos 82 anos, no dia 16.09.1993. O professor Benedito faleceu quatros anos depois da esposa em 18.05.1997. Foi sepultado em Aracaju como era seu desejo."

A cidade de Aracaju prestou homenagem à professora designando nome de rua no bairro Farolândia.


Março, 2023








Fontes de referência:

Melo, Darci e Floro de Araújo. Santana do Ipanema Conta sua História, Rio, 1976;

Pimentel, Carmen Regina Carvalho. Dissertação apresentada no programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Sergipe como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Educação, São Cristovão SE, 2014;

Comentários

  1. Memórias de nossa Santana. Sempre fomos um povo educado. Nos tempos longínquos de 1936 já tínhamos elegido mulheres vereadoras...que bela lição

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  2. Dona Judith e Maroquita Bulhões, irmã do Pe Bulhões, as primeiras vereadoras eleitas em Santana do Ipanema..
    Prof Benedito era filho de João Alves de Oliveira e Dona Totonha, irmão de Breno, Professora Helena de Oliveira Chagas, Irene e Gildete Oliveira Bulhões.
    Parabéns, Xará, pelo resgate dos educadores: Judith e Benedito Oliveira.

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