Marcondes Benedito Farias Costa é alagoano de Viçosa. Nasceu em 16.07.1947. Médico, compositor e escritor que dividia parte do seu tempo com a composição de belas músicas no estilo nordestino (xote, baião, forró e etc.), valsas, toadas e outros ritmos.
Marcondes Costa é médico psiquiatra formado em 1972 pela UFAL-Universidade Federal de Alagoas. Exerceu o cargo de diretor do Hospital Portugal Ramalho, onde desenvolveu trabalho de comunidade terapêutica. É autor de vários livros, dentre eles: “Loucura e Asilo”, psiquiátrico, IGASA, Maceió, 1976 e “Restos Diurnos”, poesias, Sergasa, Maceió, 1995.
Sobre o título “Restos Diurnos”, (1995) discorre seu irmão Marcos de Farias Costa: “... ferozmente freudiano, apita a razão vital de um dos autores, no caso, Marcondes, médico de profissão e psicoterapeuta por vocação. Sua poesia parece a “soma dos atos”, sua própria existência interior traduzida em criação artística. Lembra um aforismo da escritora aristocrática austríaca Maria Ebner-Eschenbach (1830-1916), que reza: “não é o que experimentamos, senão a maneira como sentimos o que experimentamos. Desce o pano.”
Autor de mais de uma dezena de canções, dentre as quais “Acordo às Quatro”, música que, merecidamente, caiu no encanto e foi gravada pelo rei do baião Luiz Gonzaga, em 1979, depois de ter ocupado uma das faixas do elepê produzido pelo “Grupo Terra” em 1978, um grupo musical genuinamente alagoano. Clique para ouvir
Violão: Chico Elpídio
Viola e Cavaquinho: Zailton Sarmento
Baixo: Messias Gancho
Flauta: Jorginho Quintela
Bateria: Cláudio Carlos
Vocais: Edson Bezerra e Eliezer Setton
Direção Musical, Montagem e Arranjos: Chico Elpídio
A canção foi incluída no elepê de Luiz Gonzaga de 1979, intitulado “Eu e Meu Pai”, pela gravadora RCA Victor.
O professor doutor Edson Bezerra, que foi um dos vocalistas do “Grupo Terra”, disse-nos que a canção foi considerada o hino do Mobral-Movimento Brasileiro de Alfabetização naqueles anos. Relatou-nos também sobre o encontro fortuito entre o compositor e o rei Luiz Gonzaga em Caruaru, a capital do forró. Estavam no mesmo local e um dos filhos do compositor que o acompanhava dirigiu–se ao velho “Lua”, avisando-o da presença do Marcondes, mas o rei do baião apenas faz a indagação: - Ah, você é o médico autor daquela música?
Pelo que nos parece a inclusão de Santana do Ipanema nos versos da composição não teve outra motivação senão a de se encaixar na inspiração do autor. O acaso elevou ainda mais o bairrismo dos sertanejos e foi muito importante para a divulgação da terra. Fato curioso é que no verso que cita o nome da cidade é acompanhado, em algum momento, do nome “Iracema” para acomodar a rima. Pelo menos três composições se apropriam do mote.
Santana do Ipanema (José Batista e Batista da Silva), 1959
“...Eu quero ir mais não posso
A Santana de Ipanema
Tem dias que eu não almoço
Só pensando em Iracema…”
Acordo às Quatro, 1978
“...E os menino
Digo sempre a Iracema
Em Santana de Ipanema
Todos os três vai estudá…”
Cuidado Iracema ( João Silva ), 2005
“...Peguei uns trens
botei dentro de um trem
e fui procurar sossego
por aí com Iracema
Iracema
Bem não cheguei em Santana de Ipanema
já ouvi no pé-de-serra
um tei tei…”
Euzébio interpretando a canção "Acordo às Quatro"
Em abril de 1995, por ocasião da II Feira de Arte e Cultura realizada na Associação Atlética Banco do Brasil, que teve nossa coordenação e apresentação pelo radialista Wellington Costa (†) incluímos a canção no musical “Santana do Ipanema em canções”, interpretada pelo cantor santanense Euzébio Ferreira Nascimento (*1972†1997).
No musical participaram os seguintes cantores e músicos: Waldo Santana, Dênis Marques, Benedito, Jozenilda, Maria Aparecida, João Neto, Cida, Senno e Sandro, Arly Cardoso, Euzébio F. Nascimento(*1972†1997) e a participação especial do grupo forrozeiro Trio Maravilha: Olivan (sanfoneiro), Tampinha, “Antônio Ferreira Neto” (*1958†2016), (triângulo) e Mariá (Zabumba). Os arranjos foram criação coletiva.
Canções do musical
Luar do Sertão ( Catulo da Paixão Cearense ) 100 anos de cinema
Branca ( Zequinha de Abreu/ Duque de Abrante ) 100 anos de cinema
Olhando Estrelas ( Look for a star Garry Miles - versão Paulo Rogério) 100 anos de cinema
Saudade de Santana (Márcio Pinto/ Waldo Santana )
Festa de Santana ( Dotinha )
Acordo às Quatro ( Marcondes Costa )
Santana do Ipanema ( José Batista/ Barbosa da Silva )
Santana dos Meus Amores ( Remi Bastos )
Santana ( Cícero França Campos - Lopreu)
Camoxinga ( Remi Bastos )
Saudade ( Remi Bastos )
Acordo às Quatro, 1979 - Luiz Gonzaga (Clique para ouvir)
Acordo às quatro, tomo meu café
Dou um cheiro na muié' e nas crianças também
Vou pro trabáio', com céu ainda escuro
Respirando esse ar puro que só minha terra tem
Levo comigo minha foice e a enxada
Vou seguindo pela estrada, vou pro campo trabaiá'
Vou ouvindo o cantar dos passarinho
Vou andando, vou sozinho, tenho Deus pra me ajudar
Tenho as miúças, carneiro, porco e galinha
Tenho inté' uma vaquinha que a muié' vive a cuidar
E os menino, digo sempre a Iracema
Em Santana de Ipanema, todos os três vai estudar
Pois eu não quero fio' meu analfabeto
Quero no caminho certo, da cartilha do ABC
Eu mesmo nunca tive essa sorte
Mas eu luto inté' a morte, mode' eles aprender
Eu mesmo nunca tive essa sorte
Mas eu luto inté' a morte, mode' eles aprender
É, menino meu tem que aprender
Nem que seja pelo antigo
A, B, C, D, E, F, G, H, I, J
K, L, M, N, O, P, Q, R, S, T, U, V
X, Y, Z!
Fi' de caboclo alagoano tem que estudar
Mode' eles aprender
Eu luto até a morte...
Fevereiro, 2023
Fontes de referência:
Costa, Marcondes Benedito Farias, Loucura e Asilo, Indústria Gráfica Alagoana S.A. Igasa, Maceió, 1976;
Costa, Marcondes Benedito Farias e Costa, Adler Sady Rijo Farias, Restos Diurnos, Serviços Gráficos de Alagoas S.A. - Sergasa, Maceió,1995;
Depoimento do professor Edson Bezerra;
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