Santana do Ipanema em canções: "Cuidado Iracema", de João Silva

 






“João Leocádio da Silva, o "Mestre João Silva", (Arcoverde PE 16.08.1935 - Recife PE, 06.12.2013), foi compositor, cantor e produtor musical.


João Silva


Foi um dos maiores parceiros de Luiz Gonzaga ao longo de sua carreira, produzindo mais de cem músicas, dentre os sucessos: "Danado de bom","Nem se despediu de mim","Forró de Ouricuri","Pagode Russo","Arcoverde Meu" e "De fiá Pavi". Sua participação foi de fundamental importância para que em 1984, Luiz Gonzaga recebesse seu primeiro disco de ouro, com o elepê "Danado de Bom".

Em toda a sua vida João Silva compôs mais de duas mil músicas gravadas por grandes nomes da música brasileira, como: Alcione, Abdias, Ary Lobo, Azulão, Benito de Paula, Beth Carvalho, Bezerra da Silva, Delmiro Barros, Demônios da Garoa, Dominguinhos, Elba Ramalho, Fagner, Falamansa, Flávio José, Flávio Leandro, Forró Limão com Mel, Forró Mastruz com Leite, Frejat, Genaro, Genival Lacerda, Jackson Antunes, Jackson do Pandeiro, Lenine, Luiz Gonzaga, Mariana Aydar, Marinês, Messias de Holanda, Moreira da Silva, Ney Matogrosso, Novinho da Paraíba, Núbia Lafayette, Oswaldinho, Quinteto Violado, Rastapé, Santana, “O Cantador”, Silvério Pessoa, Sivuca, Trio Nordestino, Trio Parada Dura, Trio Virgulino, Wanderley Cardoso e Zeca Baleiro.”

Conheça o Mestre Zinho, homenageado do São João de Maceió de 2019 e intérprete da canção “Cuidado Iracema”, composição de João Silva.


Mestre Zinho

“Era 1987 quando Erivan Alves de Almeida, o Mestre Zinho, estava à beira da morte, imobilizado em uma cama de hospital. Vítima de um acidente de carro, ele realmente teve muita sorte em escapar com vida. Ter resistido, ainda, no hospital, era improvável. Mas, mesmo assim, ele conseguiu. Em um daqueles dias, deitado na cama, a porta do seu quarto se abriu, e, ao abrir, ela revelou a figura imponente de um homem: era Luiz Gonzaga, o Rei do Baião em pessoa, que o visitava.

A visita não era surpresa, dado o tamanho de Zinho àquela época: em oito anos como cantor do grupo Os Três do Nordeste e com sete discos lançados, ele não só substituiu à altura Zé Cacau, que deixou a banda em 1979, como também levou o conjunto à melhor fase de sua longa existência.

Foi Luiz Gonzaga quem deu a Zinho o título de Mestre, com o qual seguiu com ele até o fim de sua carreira. O Rei do Baião, no quarto com Zinho, lhe disse: “depois de mim e de Lindu (vocalista do Trio Nordestino), você é o melhor cantor de forró vivo”. Pediu-lhe, ainda, que levasse em frente a bandeira do baião. Depois dali, Mestre Zinho, já recuperado, deixou o seu grupo, assinou com a Polygram e gravou seu primeiro disco solo, “Murro em ponta de faca”, de 1988. Com participação, inclusive, de Luiz Gonzaga na faixa “Forró Fum”.

A vida tentou, muitas vezes, colocar um ponto final em sua carreira. Além do acidente de carro na década de 80, Mestre Zinho teve um infarto e um derrame, no ano de 2008, que lhe custaram parte do movimento das mãos, mas nem isso o impediu de fazer música. Só parou mesmo em 2010, aos 67 anos, quando metástases decorrentes de um câncer na próstata, contra o qual lutava já há quatro anos, forçaram-no a tal.

Quando se pensa nesta figura, imediatamente se pensa nesta anedota com Luiz Gonzaga, ou em suas parcerias com Dominguinhos, que também gravou suas sanfonas no disco de estreia do Mestre, com Elba Ramalho, que gravou “Agora é sua vez”, uma composição sua, com Ney Matogrosso, que fez uma versão marcante para a faixa “Pra virar lobisomem”, também de Mestre Zinho, e com muitos outros artistas. Pensa-se muito em Mestre Zinho, o personagem, e muito pouco Erivan Alves de Almeida, o homem.

O homem que nasceu em Rio Largo e cresceu em um universo difícil e de poucas oportunidades. O homem que descobriu a música no seio da cultura popular, brincando de Chegança, tradicional folguedo alagoano, em sua cidade natal. Antes de ser mestre, o Zinho trabalhou numa fábrica de tecidos como tecelão, cantou em todas as casas da noite maceioense que lhe abriram as portas e participou de festivais na Rádio Gazeta e na Rádio Difusora. Até puxador de samba enredo ele foi, pela escola Unidos do Poço.

Mestre Zinho batalhou muito e sofreu em muitas de suas batalhas. Tocou em inúmeras portas de loja, de cinema e em cima de caminhões na capital alagoana antes da oportunidade lhe surgir à porta e ele se tornar o rosto d’Os Três do Nordeste. Bem antes da Polygram, Mestre Zinho não era mestre: era só neto de um. Erivan apaixonou-se pelo forró vendo tocar seu avô, o Mestre Bruno, sanfoneiro que dominava a sanfona de 8 baixos, um instrumento quase em extinção, mesmo no coração do Nordeste, onde melhor se desenvolveu. Ele era um menino simples, crescido num lugar simples, e que jamais o deixou de ser.

Gonzagão não estava errado quando disse que ele era, além de o melhor cantor de forró vivo, seu sucessor. Mas esqueceu, ou talvez só não tenha percebido à época, que Mestre Zinho era, ainda, muito mais.”

A canção “Cuidado Iracema”, foi incluída no álbum de 2005 “Gelo na Farinha”. Mais uma vez, Santana do Ipanema volta à inspiração dos compositores.


Cuidado Iracema ( João Silva ) Clique para ouvir


Peguei uns trens

botei dentro de um trem

e fui procurar sossego

por aí com Iracema

Iracema


Bem não cheguei em Santana de Ipanema

já ouvi no pé-de-serra

um tei tei


lá na estrada muita gente avistei

era forró de pé-de-serra e gritei


Corre Iracema

olha a barreira, Iracema

ribanceira Iracema corre!


cuidado Iracema

macambira rasga a saia

aí tem bicho, tem lacraia

tem lagarta e cobra que morde, mata


não tenha medo da lagarta Iracema

e a cobra que morde, mata


mata, mata, mata Iracema

e a saudade é muito ingrata



Janeiro, 2023

Fontes de referência:
Secom Maceió: Conheça Mestre Zinho, homenageado no São João de Maceió, 2019;
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Silva_(compositor), acesso em 09.01.2023.

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