Mulheres na história santanense: Ana Teresa Rodrigues Gaia

 




A história, na maioria das vezes, escrita sob o ponto de vista masculino tem relegado às mulheres papel insignificante, quase inexistente. Erro crasso. E com a história santanense não foi diferente. Há exaltação à doação de terra e contribuição às construções, contudo se omite zelo, catequese e a manutenção diuturnas.

Para agravar ainda mais as narrativas, o que temos na verdade é um repertório de teses controversas, carente de documentos comprobatórios e fontes de consultas reduzidas e desatualizadas. Por conta disso, infelizmente continuamos cometendo as mesmas injustiças históricas dos antepassados.

São situações compreensíveis visto que não sabemos, previamente, quando momentos evolutivos da formação tornar-se-ão marcos significativos. A beleza da nossa trajetória é justamente as contradições, mas é um tormento para os pesquisadores e historiadores.

Vamos aos fatos: “Na segunda metade do século XVIII, Martinho Rodrigues Gaia, de origem portuguesa e procedente do lugar chamado Vila de Minas do Rio de Contas, Bahia, costumava ir a Penedo a negócios, tendo casado com Ana Teresa, talvez, penedense.


Tomando conhecimento de que na ribeira do Panema havia grande extensão de terras devolutas e estando interessado na agropecuária, Martinho Rodrigues Gaia e seus irmãos Martinho Vieira Rego e Pedro Vieira Rego, pleitearam e conseguiram uma sesmaria na região.


O lugar escolhido para sediar o domínio da sesmaria ficou próximo à barra do riacho Camoxinga rodeado por elevações naturais como os serrotes do Gonçalinho e da Goiabeira e as serras Aguda e Remetedeira ao sul; e o serrote do Pelado ao norte.

Martinho Rodrigues Gaia construiu a sede da sua fazenda em lugar aprazível à margem esquerda do rio Ipanema, a cerca de 200 metros do Poço dos Homens, no alto barranco do segundo patamar em ordem de afastamento do rio. Os fundos da casa-grande estavam voltados para o cenário do rio Ipanema. O lado esquerdo encontrava um declive que levava à foz do riacho Camoxinga. A frente plana da casa dava acesso a um longo aclive e a direita mostrava um terreno plano e uma ladeira suave adiante.

Nasceu o Padre Francisco em Penedo em 1757, no Bairro do Seboeiro. Seu pai era José Francisco, natural de Serinhanhém, Pernambuco. Sua mãe, dona Teresa Correia, talvez natural de Penedo. Francisco estudou para padre. Sendo menino pobre, foi levado mais tarde para Portugal onde conseguiu a graduação em Direito Pontifício pela universidade de Coimbra e ordenado no final de 1781 ou princípio de 1782.

“Quando o Padre Francisco José Correia de Albuquerque chegou pela primeira vez à ribeira do Panema, em 1787, já encontrou o arraial de mamelucos. Ficou o padre hospedado na casa do seu grande amigo Martinho Rodrigues Gaia. O Padre Francisco já trabalhava em outros lugares e veio designado para exercer as suas funções sacerdotais na região, porém, tendo como ponto central dos seus movimentos religiosos, o arraial da margem do Ipanema.

Na bagagem trouxe uma imagem de São Joaquim e outra de Santa Ana, diretamente da Bahia, a pedido da esposa do fazendeiro Martinho Rodrigues Gaia, Ana Teresa, primeira devota de Santa Ana nas terras da Ribeira.

Ainda a pedido daquela fervorosa cristã, o santo padre fez erguer uma capela onde antes era o curral de gado, 100 metros a noroeste da casa-grande de Martinho Rodrigues Gaia. Além do terreno cedido para a capela, este fazendeiro ainda muito contribuiu para a sua construção. Por trás da capela, o sacerdote construiu também um abrigo para beatas. Ele mesmo dourou o altar e esculpiu em madeira a imagem do Cristo Crucificado. Terminado todo o serviço, o padre colocou, então, no altar, as imagens de São Joaquim, Senhora Santa Ana e o Cristo por ele confeccionado. A capela foi inaugurada em 1787, mesmo ano em que o sacerdote chegara ao arraial de mamelucos”

Não se sabe o verdadeiro nome da fazenda de Martinho Rodrigues Gaia, contudo, toda a região que se chamava “Ribeira do Panema” passou, a partir da fundação da capela, a ser apontada como “SANT’ANNA DA RIBEIRA DO PANEMA”, com a sede na capela do arraial.

Sant`Anna da Ribeira do Panema passou a ser o local predileto do Padre Francisco e continuava funcionando como arraial nas terras de Martinho.

Através da devoção de Ana Teresa, Santa Ana trazida para a Ribeira, entronizada na primeira capela em 1787 tornou-se a padroeira do futuro município. Lá está, na mesma igreja ampliada e bela, dominando e protegendo as terras santanenses.

Sendo a religiosidade marca expressiva do povoamento o nome de Ana Teresa deveria ser indissociável das narrativas, contudo o que há mesmo é silêncio acerca da sua relevância com os cuidados da fé. O que se pretende não é requerer mudança da história. Longe disso, porém os santanenses devem à matriarca homenagens e exaltação da sua crença na excelsa padroeira Santa Ana, juntamente com os outros personagens consagrados. Rogamos que as gerações atuais e vindouras não se esqueçam de interceder à padroeira pela memória daquela que foi sua primeira devota.

Janeiro, 2023

Comentários

  1. bartolomeucontabilidade@gmail.com16/01/2023, 08:56

    Excelente, João Neto.

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  2. Abílio José Martins jr16/01/2023, 10:00

    Parabéns pela narrativa e por sua devoção.

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  3. ANA TERESA Rodrilgues Gaia. Bom dia amigo! João Neto. Muito pertinente seu texto, enaltecer as mulheres, ainda que postumamente às suas existências. É um dever histórico cultural com o passado esseresgate. Devido às questões sociais de cada época, simplesmente se relevou o valor feminino. Nada mais justo, resgatar esse legado. Fabio Campos

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    1. Obrigado pela suas considerações e generosidade. Valeu confrade Fábio.

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  4. Boa noite Xará!
    Mais um belo registro e um justo reconhecimento...
    Podemos até não mudar a história, mas podemos contá-la sob outra ótica.
    Parabéns.
    João Neto Oliveira

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    1. Valeu Xará, obrigado pela leitura e comentário.

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  5. Importante iniciativa, painho! A história sempre foi contada por o viés dos homens e isso não é por acaso, então devemos correr atrás pra mostrar que nunca existiu apenas uma versão dos acontecimentos.
    Que as mulheres santaneses escrevam e relatem suas vivências!

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    1. Ainda temos um longo caminho, contudo é caminhando que o caminho se faz...

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  6. Magnifico entender mais a história dessa cidade que é a raiz de muitos de nós! Sabe nos contar mais sobre José Vieira Rego estou fazendo a história de minha família e não encontro muita coisa sobre ele.

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