Assinatura por extenso

 

Raimundo Aquino foi o primeiro fiscal rural da recém-criada agência do Banco do Brasil em Poço das Trincheiras ou, como ele chamava, “Póço de las Trinchèras”.

Lá assumimos ele, eu, Isabel Missias, Dorinha Duarte, Emília Nishimura, Socorro Bastos, Bartolomeu Oliveira, Sebastião Malta, João Neto (João de Liô) e Edson Araújo, o gerentão.

Equipe unida, dedicada e harmoniosa, apesar da inabilidade do Edson pra lidar com bicho gente. Mas a casa funcionava.

Um certo cliente não tinha costume de pagar suas dívidas no banco e Raimundo, como fiscal, tinha que correr atrás. O cabra era quiabo, escorregava, sumia...e Raimundo no calo dele. Marcaram uma vez, duas, três vezes e o “mutuário” não aparecia. Até que numa manhã Raimundo entrou na agência pisando duro e anunciou: “o FDP está na cidade. Vamos esperar. Comigo o cabra ou vem...ou não vem!”.

Veio. Entrou perguntou se seu Raimundo estava. Estava. Conversa vai, conversa vem o devedor pediu uma prorrogação de prazo. O fiscal concordou e, cuidadoso, botou papel na máquina e redigiu o ajuste. Orgulhoso de sua redação estirou o papel na mesa e disse:

- “Pronto, assine aqui”. E o FDP respondeu com espalhafato:

- “Ahhhh, não me assino não!!!!!

Raimundão empurrou a cadeira giratória com a bunda até o meio da sala, levantou seu um metro e noventa com 104 quilos de peso e mais umas 40 arrobas da proverbial “gentileza” dos Aquinos, braços abertos:

- “Você não assina???? Diga por que não assina”!!!!

- “Seu Raimundo, eu não me assino porque não seio. Eu sou nafabeto. Assino com o dedo!” E meteu o polegar.

Raimundo aprendeu mais uma lição no trato com seus fiscalizados, boa parte deles analfabetos. Nas transações seguintes concluía a cuidadosa redação, estendia o papel e perguntava ao matuto:


- “Vai assinar ou botar o dedo?”

*Antônio Alves Sobrinho(Tonho Cupim)

*Antônio Alves Sobrinho (Tonho Cupim) é bancário aposentado, maçom, pernambucano de Betânia, radicado nas terras alagoanas há décadas. Fomos companheiros de jornada no Banco do Brasil.