Na trilha da música: Carpenters

 

         Lá em casa se ouvia muitos programas de rádio nas décadas de 1960 e 1970. As estações de minha preferência eram aquelas que tinham melhor qualidade de transmissão: Sociedade da Bahia, Globo e BBC de Londres, um programa transmitido em português, claro! Nas audições se tocava de tudo, incluindo os sucessos destacados no eixo Rio e São Paulo. Parece que até hoje não mudou quase nada. Quem tinha melhor condição financeira poderia ter uma vitrola ou uma radiola que era um móvel mais chique que incluía o rádio e a vitrola com maior potência de som.


De tudo que se ouvia, é claro que alguns artistas e canções se destacavam pela voz e estilo, segundo a percepção dos ouvintes. Dentre eles, quero destacar os “Carpenters” de quem continuo ouvindo até os dias atuais, embora o grupo tenha se encerrado com a morte repentina de Karen Carpenter. Em 1983, Karen teve uma fatal parada cardíaca decorrente de complicações da anorexia nervosa, uma doença ainda pouco falada na época. Mas o seu legado já estava escrito na história musical. Ainda hoje tenho alguns discos de vinil da dupla.


Tomei conhecimento do falecimento de Karen muito tempo depois. Foi um choque: ela tinha 32 anos e estava no auge. Eu desconhecia os seus problemas de saúde. A comunicação era bem diferente dos dias atuais. Recordo-me de que em 1978 eu havia assistido uma única apresentação da Karen na tevê, cantando “Ave Maria” nas celebrações natalinas. Tardiamente soubemos que Karen tinha atravessado momentos difíceis, que a manteve longe dos holofotes, como a depressão, o fracasso do casamento, a luta silenciosa contra a anorexia e bulimia. E esses problemas de saúde a tornaram mais conhecida.


Muito pode ser dito sobre esta cantora e baterista, mas seria o bastante dizer que a cantora era a dona de uma das mais belas vozes já ouvidas na música pop, na opinião de muitos especialistas. A voz grave e rara de textura aveludada, profundamente melancólica da cantora ainda nos encanta.


A voz grave sofisticada de Karen pode ser melhor ouvida quando esta é digitalmente isolada dos instrumentos, criando um efeito quase "a capella", mas alguns instrumentos ainda podem ser ouvidos. (Clique para ouvir)

Em entrevista, Richard confessou que o seu talento musical era raro. Cantava com uma desenvoltura incrível, sem necessidade de preparativos. (Clique para conhecer mais)

Muita gente mais nova pode não conhecer os “Carpenters”. Certamente um dos grupos mais bem-sucedidos na música pop mundial. Grupo que na verdade era uma dupla: Karen Carpenter, nos vocais, e seu irmão, Richard, no piano e arranjos. Os irmãos colecionaram megassucessos como: "We’ve Only Just Begun", "Only Yesterday", "Close to You" e "Calling Occupants of Interplanetary Craft". A dupla estava no auge, com muitos hits, fãs, reinventando um novo jeito de compor e cantar, porém a carreira foi interrompida tragicamente.

Chegaram a vir ao Brasil para divulgação do disco "Made in America" em novembro de 1981. Deram entrevistas, foram às emissoras, falaram com a imprensa e gravaram um clipe para o programa "Fantástico" no Pão de Açúcar. Em entrevista ao GLOBO, publicada em 04.11.1981 Karen afirmou:




- Pela recepção calorosa que estamos tendo, temos certeza de que quando montarmos um show no Brasil, as pessoas gostarão de ouvir nossos antigos sucessos e conhecer nossas músicas novas.

Mas não houve tempo...

Foi uma ótima surpresa quando descobri que uma carioca apaixonada pela dupla iria lançar um disco em sua homenagem. “Quem nunca se imaginou sendo o seu ídolo e cantando como ele? Quem nunca foi atrás de tudo que já foi gravado por seu ídolo? Quem não virou artista por influência de seu ídolo? Quem, sendo músico, nunca quis fazer uma homenagem, um tributo, aos seus ídolos? A Isabella Taviani já passou por todas essas situações, mas não satisfeita em só imaginar foi lá e fez. E fez bonito!

Antes de se tornar cantora, trabalhou em repartição pública (Detran) e deu aula para crianças carentes. Filha de uma pianista e neta de um cantor de ópera, procurou o curso de soprano apenas para aprimorar a voz, pois já sabia que o que queria era MPB.

Pensando em aperfeiçoar sua performance no palco, ela fez curso na Casa das Artes de Laranjeiras (CAL). Isabella formou-se em canto lírico e, desde então, vem desenvolvendo um estilo que cativa a todos que a ouvem pela força e melodia envolvente de suas composições. Influenciada por cantoras como Simone, Dalva de Oliveira, Elis Regina, Maria Bethânia e a soprano Maria Callas.


Em 2016 lançou o cedê “Carpenters Avenue", seu novo trabalho só com músicas dos Carpenters. “Eu passava as tardes na casa da minha prima escutando diversos discos internacionais que ela tinha. Até que escutei “Please Mr. Postman” e “Only Yesterday”. Minha paixão foi instantânea!”, relembra a cantora. A paixão veio com o conforto de perceber que vozes graves e doces, como a de Karen Carpenter e a sua, podiam realmente se tornar especiais cantando. Pronto, a avenida musical por onde passaria ganhava uma nova luz.


"Carpenter Avenue" contém 12 faixas, sendo metade gravada no Brasil e a outra em Los Angeles, no lendário estúdio da Capitol Records. Para a empreitada, Isabella se cercou de grandes músicos. Traz ainda Dione Warwick, maravilhosa cantora e amiga pessoal de Karen, na faixa "Close to You". (Clique para assistir)


Não há fronteiras para a música. Viva Karen Carpenter! (1950-1983).


Outubro, 2022



Fontes consultadas:

Acervo “O Globo”
https://culti-e-popi.blogspot.com/2014/10/o-quao-bela-era-voz-de-karen-carpenter.html



Comentários

  1. Hayton Rocha03/10/2022, 08:39

    Texto maravilhoso, João. Uma ode à magia da música que embalava nossos sonhos nos melhores anos de nossa vida. Parabéns!

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  2. Não tem como não viajarmos espiritualmente para esses idos anos da nossa juventude. Ótimo!

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