Raul no serviço público. Acervo da família |
Raul Pereira Monteiro, nascido em 04.12.1919 e falecido em 08.08.2007, filho de Joaquim Monteiro da Rocha e de Ana Rosa. Casado com Helena Neiva Monteiro, nascida em São Paulo-SP. Da união nasceram os filhos Paulo Neiva Monteiro, casado com Ana Elizabeth Brito Wanderley Monteiro e são pais de 03 filhos: Ana Rosa Neiva Monteiro Abrantes, viúva de Paulo Abrantes de Oliveira; Eugênio Neiva Monteiro, solteiro, e a filha mais nova Maria Helena Neiva Monteiro, falecida em 18.05.2022, até então divorciada.
O poeta deixou 05 netos: Paulo Neiva Monteiro Júnior, Ana Paula Wanderley Monteiro Videres e Renata Wanderley Monteiro, frutos da união de Paulo Monteiro e Ana Elizabeth; Helena Neiva Monteiro Saraiva e José Saraiva Deolindo Neto, filhos de Maria Helena Neiva Monteiro.
Em 1942, foi convocado para servir às fileiras do exército brasileiro. De prontidão no porto de Recife, não chegou a embarcar rumo à Itália na 2° Guerra Mundial em virtude do fim da guerra. Era considerado ex-pracinha.
Foi morar com o tio Francisco Alves Pereira, irmão de sua genitora, em Campina Grande, que era Presidente da SANBRA-Sociedade Algodoeira do Nordeste Brasileiro, indústria de beneficiamento de algodão, influenciando-o a entrar no negócio. Com o filho de seu parente Gilberto Pereira instalou uma cafeteria, mas o comércio não logrou êxito.
Depois de casado (1949), fixou residência em Serra Branca, também na Paraíba, onde negociava com algodão e agave, cultivares produzidos em terras arrendadas. Entretanto, problemas com o proprietário desencadearam prejuízos que inviabilizaram a atividade, fazendo com que ele voltasse para Campina Grande, onde, no fim da década de 1950 ingressou no serviço público, como agente fiscal de renda.
Em 1960 começou a construção de um imóvel na rua Tiradentes n° 369, Centro. O imóvel foi edificado com ajuda do tio, que era então um dos diretores do Banco Industrial de Campina Grande, facilitando-lhe um empréstimo. Quando finalizou a construção em 1962, mudou-se com a família. O filho mais velho, Paulo, ficou morando com o avô e as tias em João Pessoa.
Exerceu o cargo de Diretor de Fiscalização de 1961 a 1965 na rainha da Borborema, Campina Grande. Depois foi transferido para Capital no mesmo cargo. Na maçonaria, ingressou inicialmente em Campina Grande. Em João Pessoa, frequentava a loja maçônica Branca Dias, no centro, atingindo a graduação máxima. Na Capital residiu nas ruas João Oscar, Centro, Afonso Campos, Centro, na Duarte da Silveira, Centro e finalmente na Avenida São Paulo, Bairro dos Estados, onde residiu até falecer em 2007.
Foi associado da Academia Paraibana de Letras e é patrono da Academia Maceioense de Letras, desde 2008. Lançou os seguintes livros: Olegário e Amélia, poemas; Quando a Vida era Mais Doce, romance (1991); Mosaico Poético, poesias (1992); Imagens de Meu Caminho, poesias (1998); Espinhos na Estrada, estórias reais (1999) e Lembranças, seu último livro, prosas. Publicou vários trabalhos em jornais e em compilações.
Raul, em nota publicada na obra Quando A Vida Era Mais Doce, romance (1991), esclarece que: “ … era uma obra de ficção, exceto quanto ao cenário que, inclusive, envolve (para mim) uma adorável jóia da natureza, denominada rio Ipanema. Um rio, à margem do qual nasci e vivi durante toda a infância e puberdade, pelo que o homenageio afetuosamente. É um curso d'água salobro e temporâneo, que serpenteia num leito pedregoso e se lança em demanda do "São Francisco", cortando regiões agrestes dos sertões de Pernambuco, onde nasce, e das Alagoas, onde termina. Um rio, enfim, no qual eu nadava, fazia pescarias e apanhava bonitos e canoros passarinhos, em companhia de outros garotos, que como eu se compraziam com o exercício de uma vadiagem às vezes predatória e não raro arriscada, porque sempre longe das vistas corretoras e do amparo cauteloso e seguro de nossos pais.”
Nas notas explicativas, confessa: “Autodidata convicto, comigo mesmo aprendi que quase ninguém, ou efetivamente ninguém escreve um livro dominado pela vaidade mórbida de se promover literariamente. Não o faz, outrossim, movido por encomenda cujos moldes machuquem ou contrariem o seu pensamento de escritor nato ou, pelo menos, de fiel artífice ou cioso operário da pena, no campo maravilhoso das letras. Do contrário, como uma reação deveras natural, sentir-se-á na tessitura da peça alguns sintomas de contrafação ou desordem ideológica. Porque o pensamento é uma força livre do espírito humano, que se identifica pela exteriorização na obra por ele modelada através da concepção e da operacionalidade espontânea do artista ou produtor. (...)
Na dedicatória da obra Mosaico Poético (1992), registra:
À memória de meus avós e de meus pais
À minha esposa e filhos
Aos meus queridos netos
Aos meus irmãos que se foram daqui para Deus, e aos que inda palmilham os caminhos da Terra
À minha generosa madrinha, Senhora Santana,
e aos seus devotos filhos santanenses
À minha tia Dorinha (Mª das Dores) e aos seus irmãos falecidos
Aos queridos primos Wanda Elizabete e José Francisco e respectivos filhos e netos.
Aos meus tios e padrinhos, falecidos.
Aos meus primos vivos e à memória dos que faleceram.
Ainda na apresentação do trabalho, declara-se: “Da abaldeira estrutura das peças que compõem o presente livro, ver-se-á que não nasci poeta, tampouco consegui ser um bom versejador, apenas, como outras pessoas, faço versos para me regalar. E quando desejo que a minha produção se apresente mais aprimorada, ou se encaixe devidamente nos limites da técnica versificatória, submeto-a à apreciação dum velho amigo meu - o Cel. Adabel Rocha, atual Vice-Presidente da Academia Paraibana de Poesia. Ele, de bom grado, me estimula e orienta.
Na verdade, herdei do meu saudoso Pai, uma certa inclinação para a poesia a vocação de construir versos românticos de saudação à Natureza em momentos de recordação e de euforia. E vou mais adiante, às vezes, fazendo da poesia um sadio instrumento de comunicação e homenagem. Exatamente como meu Pai também fazia, movido por emoções transparentes, ou mesmo envoltas na opacidade de conveniências, por princípio indevassáveis. Mas ele, meu Pai, sem dúvida nascera poeta, embora o não tenha declarado a pessoa alguma do nosso quadro familiar, tampouco a quem por tradição compunha o nosso círculo de relações de amizade.
Eu, pessoalmente, acho que dedicar a alguém um poema, é um gesto afetivo e louvável, que a escrita puramente intelectual não substitui convenientemente, ou melhor, não transmite igualmente o amor e a saudade que a poesia, como uma rosa de aroma sutil, exala junto à pessoa distinguida ou homenageada.
No mais, quando a gente escreve espontaneamente sobre alguma coisa, está necessariamente cumprindo um impulso do espírito, e se o pensamento se inclina para o mundo encantado do Amor e da Fraternidade, ao concluirmos a tarefa que a intuição nos incumbiu, sentimo-nos, de fato, tranquilos ou como que realizados…
O livro é uma amostra singela dos modelos de poesia que mais me agradam: Acrósticos-Glosas-Poemas-Sonetos. Daí o seu título com cheiro ativo de miscelânia - Mosaico Poético.
Ainda, sobre a obra, justifica: “Das glosas que se vão ler, alguns motes são de autoria do meu irmão José Pereira Monteiro, que também faz versos e, nesse gênero, atendendo a pedido meu especificamente, realiza crítica com aptidão e imparcialidade. É ele, sem dúvida, o mais autêntico herdeiro de meu pai, no âmbito da poesia, sem que de tal dê mostras a ninguém. Denunciam-no, porém, os olhos abstratos e seu profundo amor à natureza.”
Biblioteca no distrito de Areia Branca,
Santana do Ipanema. Foto Robson França
“Saudade é bem uma imagem
Do passado, em nossa mente,
Que chega e sai como aragem,
Murmurando adeus a gente.”
José Pereira Monteiro
Raul, dedicou poema à terra:
Foto: acervo da família
Imagens do Meu Caminho, poesias (1998)
Santana de Ontem
(À minha irmã Maria de Lourdes, que nunca se afastou da nossa Santana)
Recordando as Alagoas
- Zonas matutas e urbanas -
Saúdo várias pessoas
De minha terra - Santana.
Santana do "Ferrageiro",
De uma bendita memória,
E de tantos mensageiros
Que fizeram a nossa História.
Santana de Pedro Agra,
"Benito" Nepomuceno,
De "Duda" que roga praga
A quem lhe negue um aceno…
Santana, abrigo dos loucos
Que nascem nas redondezas
E ficam lá, pouco a pouco,
Desfrutando gentilezas...
Santana das procissões
De sua excelsa padroeira
E do padre Zé Bulhões
Que foi bom a vida inteira.
Santana, querida terra,
Onde o Ipanema se alinha
Para lavar pé-de-serra
No curso de Capelinha.
Santana, declaro enfim,
Escudado na verdade:
Você está perto de mim
No aconchego da saudade.
Amigos do Ipanema escreveram:
De Miracatu - SP
Há nas margens do Ipanema
Muita moita e muita cobra
Matéria-prima de sobra
Para se fazer um poema
José Monteiro
De Alagoas
Como o Raul, sou fiel
Aos encantos do Ipanema,
Por isso mesmo o meu lema
É manter esse papel.
Clodolfo Melo (Médico)
De Niterói:
Se não fosse o meu Ipanema,
Água em Santana não tinha
E essa cidade-rainha
Viveria a duras penas
Agnaldo Marques (Médico)
De Maceió:
Quem não gosta do Ipanema
Não diga que é do Nordeste
Pode ser "cabra da peste"
Porém de ruindade extrema.
José Marques (Advogado)
De Santana do Ipanema:
Quando o meu tio Nezinho
Um sabonete me dava,
Eu depressa o inaugurava
Num banho lá no "estreitinho"
Alberto Agra (Farmacêutico)
De Maceió:
Sou do Ipanema um labeu,
Escudo que se respeita
Do cristão ao nova-seita
Todos me tiram o chapéu
José Pereira Monteiro (Vaqueiro e Poeta)
Do Jorge:
Se eu sair da "pindaíba❞
E aguentar o alto custo,
Vou conhecer Zé Augusto
Na famosa Paraíba.
"Dió" (Pescador)
De Maceió:
Eu encerro esses louvores
Com toda sinceridade
Quem não morre de saudade
Distante de seus amores?
(Padre Alberto)
Agosto de 2022
Virou biógrafo de primeira grandeza, definitivamente. Parabéns pelo resgate.
ResponderExcluirObrigado Hayton. Valeu!
ExcluirParabéns, João, por mais um texto de primeira. Corroboro com a observação de Hayton. É só escolher a personalidade a ser biografada.
ResponderExcluirObrigado Fernando pela assiduidade nas leituras.
ExcluirParabéns e mais parabéns, João de Liô, por mais uma biografia ..
ResponderExcluirValeu Xará do Mato!
ExcluirJoão, agradeço por trazer ao meu saber mais um ilustre escritor e poeta santanense que tão bem engrandecia nosso Rio Ipanema e nossa madrinha Senhora Santana! Parabéns!
ResponderExcluirObrigado amigo!
ExcluirCaro João li agora essa importante página da memória santanense, desta vez destacando nosso querido Raul Monteiro, primo legítimo do meu pai José Francisco Filho, o pioneirto do cinema no sertão. Acredito que a comunidade de Santana valoriza e divulga trabalhos como esses que iluminam nosso presente com as preciosas luzes do passado. Parabéns.
ResponderExcluirRomero, eu que agradeço sua valiosa contribuição. Obrigado.
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