Hoje lembraremos de uma das pessoas mais conhecidas de Santana do Ipanema. Você certamente o conhece: João Agnelo dos Santos. Fácil não? Daremos mais uma dica: Fala mansa, anda lentamente, conversa pouco e é lacônico nas respostas. Aficionado por rádio, não desgruda um instante sequer do aparelho. Conseguiu decifrar a charada?
Na lida diária escolheu a canção como trilha sonora, saindo a cantarolar pelas ruas, becos e ladeiras “Meu calhambeque bip, bip”. Com o passar do tempo, o tema se incorporou ao personagem. Trata-se de trecho de versão de Erasmo Carlos para a canção “Road Hog” de autoria do cantor e compositor americano John D. Loudermilk (1934-2016), conhecida como “O calhambeque", gravada por Roberto Carlos em 1963. (Clique para ouvir)
Eis parte das estrofes da canção:
(...) Com muita paciência o rapaz me ofereceu
Um carro todo velho que por lá apareceu
Enquanto o Cadillac consertava eu usava
O Calhambeque, bip-bip, quero buzinar o Calhambeque (...)
(...)Mas o Cadillac finalmente ficou pronto
Lavado, consertado, bem pintado, um encanto
Mas o meu coração na hora exata de trocar
O Calhambeque, bip-bip
Meu coração ficou com o Calhambeque (...)
Estamos falando do popular Calhambeque. Nem ele mesmo se lembra com precisão de quem o batizou. Porém, segundo Hélio Moreira que testemunhou o início da sua trajetória de fretista popular das feiras de rua, cantarolando o jargão: “Meu calhambeque bip-bip”, concluiu que fora ele mesmo o autor. O homenageado tinha um carrinho de mão cujo título da música estava estampado na dianteira do rústico veículo que transportava pequenas compras e objetos de quem dele precisasse. Quando indagado sobre a origem do seu codinome é comum vê-lo atribuir a outrem. É mais prático do que vasculhar memórias embaralhadas no quebra-cabeça existencial.
Forjado no trabalho e no seu jeito de ser, o carrinho e condutor passaram a ter único nome. Val Cardoso foi acusado de ter sido o autor da alcunha pelo próprio Calhambeque, mas negou categoricamente a indicação. Lembrou que quando da mudança do seu bar da rua Pedro Brandão para o Tênis Clube na década de 1960, o encontrou na agremiação já conhecido pelo codinome e atuando como serviçal, contratado por Miguel da Barriguda.
Na verdade, quantas vezes fingimos desconhecer algumas lembranças? Por razões inconscientes, preferimos a negação. Por se tratar de pessoa simples, digamos que teria mais valia se a invenção fosse atribuída a pessoa de destaque social. Enfim, esse é o Calhambeque, personagem folclórico cujo nome está imortalizado na história santanense.
É comum encontrá-lo andando pelas ruas de Santana sempre alegre, sorriso fácil, não envelhece nunca. Com um rádio ligado ao “pé do ouvido” tocando a 100,9 FM - Rádio Correio do Sertão. O rádio de pilha foi um presente do saudoso prefeito Isnaldo Bulhões, que em vida atendeu um pedido de Calhambeque. “- Preciso de um rádio de pilha para ouvir a Correio do Sertão, pois o meu está quebrado”.
Fato curioso é que de uns tempos pra cá, vagou a corruptela do nome por semelhança fonética para “Carambeque”. Por ser tendência a pronúncia de palavras breves e o dinamismo do idioma na conversação coloquial, houve nova adaptação espontânea do termo para “Caramba”. A interjeição que expressa admiração e espanto ganhou status de substantivo. Assim ficou e muitos conterrâneos já usam as várias possibilidades.
Em 2021, reportagem do jornalista Malta Neto flagrou o Calhambeque, aos 70 anos, chegando ao sistema drive thru para mais uma etapa da vacinação contra o coronavírus(Covid-19). "Chegou de mansinho, em seu “carro velho”, ou melhor, a pé, mas buzinando, bip-bip."
Quem tem nome de música não vive sozinho, nem pode penar! “Faz o luar brilhar e o coração vazio, voa vadio, feito uma pipa no ar…" "Agora eu penso que estrada da vida tem ida e volta, ninguém foge do destino esse trem que nos transporta...”
Encontro recente com o escritor Djalma Carvalho |
Agosto, 2022
Mais uma vez e seguindo um roteiro, o nosso escritor, João de Liô, rasgata mais um personagem que faz parte do acervo histórico de Santana.
ResponderExcluirJoão Agnelo ,popularmente conhecido do CALHAMBEQUE, hoje veio á tona.
Parabéns, Xará!
Grande Ivaldo! Inesquecível.
ResponderExcluirGrande Calhambeque! Sempre o encontro nas ruas quando vou a Santana. Parece q não envelhece nunca! Patrimônio histórico santanense!
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