Música na veia, na vida e além do horizonte

 





           

    
A música sempre esteve muito presente em nossa casa nas mais diferentes formas: rádio, vitrola, coral da igreja, livros e execução de instrumentos musicais. Como até hoje acontece o advento do período natalino nos transforma, independentemente do querer. Nas décadas de 1970 e meados da década de 1980, havia uma expectativa a mais em razão do lançamento anual do elepê (LP-Long Play) de Roberto Carlos que era ansiosamente aguardado em todo o país no mês de dezembro.


Na virada da década de 1970 RC se tornou um cantor e compositor basicamente romântico, algo que não se modificou desde então. Em seguida, mudou também seu público-alvo, que deixou de ser o jovem e passou a ser o adulto. Entre 1961 e 1998, Roberto lançou um disco inédito por ano. Segundo a Pró-Música Brasil, Roberto Carlos é o artista solo com mais álbuns vendidos na história da música popular brasileira, tendo vendido mais de 140 milhões de cópias e eu, adolescente, fazia parte deste grupo, confesso!


Roberto Carlos, 1972. Arquivo Nacional


Aliás, eu e meu pai éramos clientes fiéis do mercado musical. Eu, como opção preferencial e ele, em razão do seu trabalho como prestador de serviço de auto-falante nas comunidades rurais ainda sem energia elétrica, que incluía grupo gerador de eletricidade a diesel.

A iminência da chegada do fim de ano já nos deixava de sobreaviso e as andanças na loja “Cardoso Discos” aumentavam. A loja ficava no centro comercial e quando os discos chegavam tocava o dia inteiro e a notícia rapidamente compartilhada boca a boca, a mais antiga estratégia de comunicação. As rádioemissoras divulgavam massivamente. Telefone fixo era privilégio distante da maioria da população e que na nossa casa também não tinha. Telefones celulares, internet, whatsapp e redes sociais ainda não passavam de utopias e fantasias cinematográficas.

Em 24.12.1974, a Rede Globo exibiu um especial do cantor, que obteve um enorme índice de audiência. A partir daquele ano, o programa seria veiculado anualmente, sempre no final do ano. Em 1975, o grande sucesso seria “Além do Horizonte", porém o disco estava recheado de canções que agradaram ao público e à crítica e se tornaram grandes destaques: Quero Que Vá Tudo Pro Inferno, O Quintal Do Vizinho, Inolvidable, Amanheceu, Existe Algo Errado, Olha, Além Do Horizonte, Elas Por Elas, Desenhos Na Parede, Seu Corpo, El Humahuaqueño e Mucuripe, composição dos nordestinos Fagner e Belchior. (Clique aqui para ouvir as canções)

Com uma viagem de lazer marcada no período, eis que chegam os discos à loja Cardoso Discos. Com a grana contada a questão era de escolha; ou uma coisa ou outra. A situação era embaraçosa, um dilema. Qual a melhor opção? Cada escolha com as suas vantagens e desvantagens? Entretanto, após algumas reflexões adolescentes o veredito foi pela compra do disco e cancelamento da viagem.




Com a popularização do cedês (CD-Compact Disc) a partir da segunda metade da década de 1980, os discos de vinil tornaram-se obsoletos e sumiram do mercado fonográfico, encontrando-se apenas nos sebos e entre colecionadores. A indústria tratou de migrar os acervos para os cedês, que também perdeu importância para o “streaming”, tecnologia de transmissão contínua que serve para distribuir conteúdo digital, seja áudio ou vídeo, que se popularizou a partir de 1996, graças à internet que vem se tornando mais rápida com o passar dos anos.

A tecnologia também é utilizada em outros canais, por exemplo: o episódio do seu podcast ou do seu seriado favorito fica salvo num servidor. Pode-se acessá-lo por meio de um website ou de um aplicativo específico, a qualquer hora. É o que acontece quando você escolhe um filme na Netflix ou uma playlist no Spotify. Rádios online só existem graças ao streaming, igualmente para aulas e reuniões por videoconferência.

Eu ainda mantenho minhas coleções de vinis e cedês, incluindo os discos herdados de Seu Liô. A música, independente de sua mídia, é essencial na minha existência. Nunca me arrependi. Através dela viajei pelos mundos afora. Contudo, a mais extraordinária viagem que realizei não precisei ir a lugar algum. O caminho do autoconhecimento é a mais fantástica jornada que poderemos fazer porque nos conduz ao encontro do reconhecimento das limitações e potencialidades, superando dramas, traumas e nos libertando conscientemente para o tempo de viver. Nunca estive sozinho. Estou com os dois pés no chão. Na minha caminhada optei pelas trilhas da música.

Julho, 2022




Comentários

  1. Hayton Rocha11/07/2022, 08:45

    Grande declaração de amor à música. Parabéns! Há quem diga, meu caro, que a música é a forma mais prática que o homem tem de se aproximar do Criador.

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  2. Sensacional, João Neto. Boas lembranças

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  3. O que seria das nossas vidas sem uma trilha musical para embalá-las? Um tanto de vazia, não é mesmo? Belo texto, João, ao qual li ao som em mente de cada canção mencionada.

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  4. Velhos tempos, belos dias!
    Saudade do meu pai, Alciro. Como o seu pai, João, também não perdia um lançamento do Roberto. Criou o Recanto Turístico em São José da Tapera e tinha também um serviço de auto-falante na Avenida. Seu texto me remota aos belos idos da década de 70.

    Aos amantes da boa música, sempre haverá um lugar bonito para se viver "Além do horizonte"! Haverá alguém embalado pela nostalgia, pela melodia, pela arte. Um apaixonado, um saudoso, ou simplesmente um apreciador da boa música, desvendada em prosa e melodia.

    E se a natureza for generosa no entorno, ou se nossa áurea for habitada pela paz, reinará harmonia e felicidade, com certeza!

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    1. A música tem poder de levar pelos caminhos da memória. É isso aí. Grato.

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  5. Belas recordações, João. Lembro que no início dos anos oitenta, tocava em todas as casas da cidade em que cresci: "Eu deixei minha porta entreaberta, você chegou sem me avisar…" Era RC que anunciava a chegada do Natal.

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    1. Oliveira, era assim mesmo! Engraçado que o som ficava alto para que todos da rua ouvissem. Risos.

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  6. Muito legal o seu texto, João! Parabéns, meu amigo!

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  7. Parabéns pelo texto caro confrade e amigo João Neto Félix. A música é algo que vai acompanhar a gente desde o nascimento até a morte. Feito uma trilha sonora de um filme chamado vida. Você acaba de me inspirar para compor minha crônica semanal (rsrs) de qualquer forma obrigado. Sou grato por vc, pelo que escreve, pelas emoções trazidas do passado do hit pop "o rei" Roberto Carlos, um ótimo influencer na nossa formação e bom gosto musical. ass: Fabio Campos.

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  8. Caro confrade Fábio obrigado. Você é sempre muito generoso comigo.

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  9. Você, João de Liô, com suas boas lembranças nos brinda desta vez com Roberto Carlos, o Rei da Eterna Juventude..
    Que bom !
    Parabéns pelo gosto musical.

    Um grande abraço, Xará!

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    1. Valeu Xará. Obrigado pela leitura e comentário.

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  10. Feliz daquele q tem a música como part'e de sua alma, a vida fica muito mais leve! Todos esperavam ansiosos pelas novas músicas do rei Riberto Carlos pra embalar as festas de Natal e Ano Novo! Nesse momento "eu me lembro com saudade o tempo que passou...

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