Sem dúvida, Dona Joaninha, esposa do maestro Manuel Vieira de Queiroz (†1924) foi uma das mulheres mais marcantes na história santanense. Ao que tudo indica, esta família de Pernambucanos chegou à Vila de Santa Ana da Ribeira do Panema a convite do coronel Manoel Rodrigues da Rocha (1857-1920) de quem era amigo e conterrâneo.
Natural de Águas Belas, Maestro Queiroz radicou-se na cidade, juntamente com a família em meados do século XIX. Exercia a profissão de coletor federal. Concomitantemente era músico e maestro, fundou a filarmônica Santa Cecília em 22.11.1908, dia do músico e de Santa Cecília, padroeira dos músicos. Foi fundador também do primeiro teatro santanense.
Pessoa influente, exerceu o cargo de conselheiro municipal durante a gestão do Intendente (Prefeito) Coronel Leopoldo Augusto Wanderley, (1916-1918) conforme ata de 07.01.1916, no Paço Municipal da Intendência.
Dona Joana (Joaninha), era uma das pessoas mais caridosas da Vila. Certamente influenciada pelo ambiente musical em que vivia, era pessoa de hábitos maviosos. Naquela casa tudo era harmonioso e musical. (Oscar Silva, Fruta de Palma,1990). Moraram no prédio onde está instalado o Museu Histórico de Artes Darras Noya.
Casarão onde residia a família Queiroz
O casal teve os filhos: Clotilde, que foi agente dos correios e telégrafos, Anteia, exímia florista e zeladora especial do altar do Senhor Crucificado na Matriz de Senhora Santana e Alano, que se casou com Leonor e teve os filhos Zilda, Zora, Zélia, Guido e Agildo.
Oscar Silva, em seu livro “Fruta de Palma”, escreve sobre a personagem: “Parecia ela adquirido da música do esposo a mansuetude no trato com as pessoas, falando macio e piano, como se em tudo quisesse ver harmonia em conjunto. Além de outros modos de servir aos que a procuravam, dona Joaninha Queiroz sabia, como poucas pessoas, aliviar as terríveis dores dos mais horrendos panarícios.
Meu amigo José de Aureliana estava com um dedo por acolá de vermelho, inchado com um baita panarício. Certo dia, convidou-me para acompanhá-lo à casa dona Joaninha. Sempre fui medroso, mofina mesmo, para me submeter a espremeduras de tumores, que, felizmente, pouco me apareciam. Tratando-se, porém, do corpo de outrem, não tive dúvidas em aceitar o convite.
Meio velha, já estava dona Joaninha começando a ficar cega, entretanto, ainda enxergava muito bem um dedo inchado. Pegou a mão do meu amigo, pôs-lhe o dedo sobre a mesa, apanhou um canivetinho e, como se obedecesse à batuta do maestro Queirós – Zás! ...
O sangue preto esguichou pelo talho profundo. José de Aureliana torceu o rosto numa careta infernal, mas nem gemeu. Dona Joaninha como que sorria entre os dentes. E eu tremia danadamente, como se o dedo cortado fosse meu.”
Numa época em que ainda não havia médico na região, dona Joaninha era a pessoa mais experiente em primeiros socorros da localidade, atendendo a todos que a procuravam.
O Maestro faleceu em 02.12.1924. Não há outras informações sobre o falecimento de dona Joana. Foram sepultados no antigo cemitério do Monumento, onde atualmente é a igreja da Sagrada Família. Os restos mortais da família foram levados para o túmulo no cemitério Santa Sofia, construído por volta de 1949, quando o antigo cemitério construído na gestão do padre Veríssimo da Silva Pinheiro, entre 1888 e 1892, foi demolido sob protestos da população pelo então prefeito José de Albuquerque Lucena Maranhão (1883-1955) sob a justificativa de que o campo santo ocupava área de expansão de importante estrada para a modernização rodoviária do município. Sem consenso e à revelia, na calada da noite, ordenou a demolição.
Jazigo da família do maestro Queiroz |
Janeiro, 2022
Muito bom, e leve.
ResponderExcluirValeu Guimaraes ! Grato.
ExcluirÉ eu tremia danadamente. Oscar é demais.
ResponderExcluirOscar Silva, grande escritor!
ExcluirMuito bom o seu texto, João! Gostei de conhecer aspectos da personalidade de dona Joana.
ResponderExcluirObrigado pela sua valiosa opinião.
ExcluirMuito bom. Bravo!
ResponderExcluirObrigado pelo leitura e comentário.
ExcluirSinhô,
ResponderExcluirSeu pendor para desencavar minudencias da vida de Santana muito me agrada e deleita. Parabéns e continue cascaviando a história.
Abraços do Antonio Cupim
Obrigado pela leitura e opinião.
ExcluirÉ.. como disse Tonho Cupim acima: João de Liô é mestre dos bons em cascaviar a história de Santana do Ipanema..
ResponderExcluirParabéns, Garimpeiro da História de Santana, João de Liô!
Xará, obrigado pela leitura e o adjetivo.
ExcluirBoa tarde Xará!
ResponderExcluirApesar de não conhecer a história dos citados, é emocionante a forma como você relata, com seriedade no texto e pitadas de humor, sem perder a essência.
Parabéns
Xará, obrigado pela leitura e comentário.
ExcluirMuito legal conhecer a histórias de pessoas q marcar época em nossa cidade!
ResponderExcluirAnônimos que fizeram diferença na história da nossa terra.
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