Criado na China há mais de 4 mil anos, o sino era
utilizado como meio de comunicação, tendo como objetivo contar horas ou avisar
aos trabalhadores o horário de início e fim do trabalho. De lá, foi difundido
pela Ásia, Oriente Médio e Europa, sendo utilizado como meio de comunicação e
instrumento musical.
Primeiramente, o desenho é feito em madeira,
chamada chapelona, com o formato, a espessura, o peso, a nota musical, o
diâmetro e a altura. Em seguida, é feito o modelo em argila. Depois de seco, as
gravações são aplicadas e o sino é coberto com terra sintética.
Os sinos são instrumentos musicais da família dos
idiófonos. São dispositivos de produção de som aparentemente simples. Seu
corpo obcônico é constituído de uma liga metálica chamada bronze, que é uma
combinação aproximada de 75% de cobre e 25% de estanho, podendo variar
dependendo do tamanho. A temperatura de fusão do bronze depende das
proporções dos metais, variando entre 1000 °C e 1200 °C.
Instrumentos idiófonos são assim definidos em razão
do próprio corpo vibrar para que ocorra a produção de som. No interior do sino
encontra-se o badalo - um pêndulo preso que, quando oscila, colide com as
paredes internas emitindo o som. Outra forma de fazê-lo soar é atingi-lo
externamente com uma espécie de martelo acionado por um mecanismo. Como a
produção de som no sino depende de batida em seu corpo, ele é denominado
instrumento percussivo.
A Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa consideram
os sinos sagrados. O sino representa um chamado para as missas nas igrejas,
principalmente. Nas cerimônias litúrgicas é utilizado um objeto chamado sineta.
Como o nome propõe, trata-se de um pequeno sino. Sua função é chamar a atenção
da comunidade para o momento mais importante da celebração litúrgica, a
consagração do Pão e do Vinho que, para os cristãos, se tornam o Corpo e Sangue
de Cristo.
A intensidade e o ritmo das badaladas expressam
sentimentos de alegria, dor, reverência, saudade, respeito, dignidade,
confiança, esperança, zelo, paz e plenitude, entre muitos outros. Anuncia
mensagens que alcançam muitas pessoas ao mesmo tempo.
Ocultos no campanário, às vésperas da tradicional festa
da padroeira Senhora Sant’Ana de 2021, de 17 a 26 de julho, novos sinos tocarão
para fortalecer a fé dos santanenses no segundo ano de festejos limitados por
imposição de regras sanitárias de distanciamento social em decorrência da
pandemia do coronavírus, vigente deste março de 2020.
Em processo de acabamento |
Os instrumentos foram adquiridos da Fundição Artística Paulistana, sediada em Diadema SP. A empresa também restaurou outros que vinham sendo utilizados desde 1947. A instalação ficou a cargo da empresa Deodoro Instalações de Maceió em 16.07.2021 para abrilhantar os festejos de 2021.
A tradição família Angeli na arte de fabricar
sinos iniciou-se em 1770, na Itália, com Giuseppe Angeli. Está estabelecida no
Brasil desde 1898. Seu filho, Angelo Angeli, viajou com sua esposa, Elvira
Butassi e seus filhos para o Brasil com o intuito de internacionalizar a
empresa e para lecionar como professor de fundição no Liceu de Artes e Ofícios
de São Paulo. Em 1938, assume a empresa seu filho, Viscardo Armínio José Angeli
e permanece como dono até 1964. Nesta data, Fernando Lucas Angeli torna-se o
novo responsável pela empresa. Em 2010, seu filho, Flávio Angeli, assume a mais
tradicional fábrica de sinos do país.
Chegada dos instrumentos |
Atualmente, o comando da empresa e a
responsabilidade de manter a tradição, está com o bisneto do fundador Angelo,
Flávio Angeli, mantendo a técnica familiar na fabricação artesanal dos sinos,
indo em busca de novas tecnologias para fortalecer e modernizar a cultura pela
automação de balanço, automação de martelo, entre outras inovações.
A paróquia de Senhora adquiriu 02 novos instrumentos: um de 110 kg, afinado na nota musical “MI” e um de 56 kg, em “SOL”. A afinação dos sinos se dá pela massa do instrumento, considerando altura, diâmetro, espessura e peso. Além disso, receberam personalização com o nome da paróquia em alto relevo nas paredes externas.
Ao final da celebração da missa do domingo, dia 11 de julho, o pároco santanense Jacyel Soares Maciel professou o rito de bênção dos sinos.
Rito de benção |
Os instrumentos anteriores eram utilizados desde
1947, quando foram inaugurados pelo padre Fernando Medeiros (1910-1984), durante
o evento denominado II Feira Noturna de Atração de Santana do Ipanema. Evento
foi tema de crônica publicada neste blog.
O campanário, parte da torre dedicada à fixação dos
sinos se compõe de quatro aberturas no formato de arco ogival para livre
circulação do vento no vão, além de embelezar os templos religiosos pelos
detalhes arquitetônicos. O maior e mais
longevo de todos os sineiros da paróquia de Senhora Sant’Ana foi o senhor Luís,
apelidado de “Major”.
Desde 2015, durante o paroquiato do padre Adauto
Vieira, o relógio da matriz, embora funcionando, deixou de repicar as horas por
defeito no mecanismo. Foi recuperado e voltou a soar.
Os sinos dobram porque têm algo a dizer. Eis um
pouco da linguagem dos sinos: enterro de irmãos - homens, três dobres de uma
pancada, mulheres, dois dobres de uma pancada; crianças de menos de sete anos,
repique festivo na hora do enterro. Os dobres para papa, bispo e vigário, são
feitos em sentido contrário, isto é: começam pelo sino grande, prosseguindo
pelo médio e terminando no pequeno. Ou, na ausência do médio, tocam-se os
pequenos. Cada exemplar tem sonoridade diferenciada ainda que, aparentemente,
sejam iguais.
O badalar dos sinos nos desperta para algo, nos
faz parar, ouvir e voltar o nosso olhar contemplativo às coisas espirituais. Os
sons dos sinos têm a magia de nos guiar pelos caminhos da transcendência. Quando ouvir o
sinal de três batidas dos sinos, lembre-se da Santíssima Trindade: Deus Pai,
Filho e Espírito Santo.
Hino à Senhora Sant’Ana
Escolhida por Deus ab eterno
Para ser mãe da Virgem Maria
Vós brilhais com fulgor sempiterno
No esplendor que do céu irradia
Santa Mãe da Mãe de Deus
Recebei filiais corações
Derramai de lá dos céus
Graças mil sobre os nossos sertões
Vossa Glória da Virgem dimana
Protegei-nos Senhora Sant’Ana
Nossa Terra a vós é consagrada
Padroeira de nossa cidade
Ajudai-nos em nossa jornada
Protegei-nos avó de bondade
Vede avó de carinho e bondade
Como sofrem os vossos netinhos
Acolhei toda humanidade
Dispensai-lhes os vossos carinhos
Afastai-nos do mal ó Sant’Ana
Conduzi-nos ao reino dos céus
Nós queremos após luta insana
Contemplar a grandeza de Deus.
Julho de 2021
Para saber
mais:
Devoção e
hino à padroeira dos santanenses (
II Feira de
Atração de Santana do Ipanema, 1947 (
O planger
dos sinos (
Sinos:
Física e música fundidas em bronze, Thiago Corrêa de Freitas, Ana Lucia
Ferreira e Thales Gonçalves Barros
Muito bom.
ResponderExcluirValeu Bartô, obrigado!
ExcluirMuito legal a sua pesquisa e informações, João.
ResponderExcluirObrigado Goretti.
ExcluirCaro amigo e confradre João Neto Félix, li com bastante atenção sua crônica. Parabenizo-o e agradeço pela chuva de conhecimentos a respeito do sino. Ao final, veio-me uma cena, guardada ternamente no berço infantil de minha memória, dos breves documentários reproduzidos na tela do cine Alvorada, antes de começar a exibição do filme. Sinos dobravam, solenemente! E em câmara lenta! Aqueles sons, ficaram por todos os anos de minha vida e estão até hoje guardados, embalando meus sonhos de outrora! Por quem os sinos dobram? Filme da obra do escritor americano Ernest Hemingway, é tbm música de Raul Seixas, o Google me disse agora!ass: Fabio Campos
ResponderExcluirAgradecemos a gentileza das suas palavras caro confrade Fábio. O título do filme está imortalizado em nossas lembranças.
ExcluirMenino!
ResponderExcluirNunca, em tempo algum, alguém tirou tanto de um sino. já em outra crônica você mostrou suas qualidades de sinófilo.
Abraços do velho
Antonio Sobrinho
Os sinos exercem magia sobre nós. Encantam-nos.
ExcluirSeu texto me fez recordar de um pequeno poema de Fernando Pessoa. Confira:
ResponderExcluir“O sino da minha aldeia
O sino da minha aldeia,
Dolente na tarde calma,
Cada tua badalada
Soa dentro de minha alma.
E é tão lento o teu soar,
Tão como triste da vida,
Que já a primeira pancada
Tem o som de repetida.
Por mais que me tanjas perto
Quando passo, sempre errante,
És para mim como um sonho.
Soas-me na alma distante.
A cada pancada tua,
Vibrante no céu aberto,
Sinto mais longe o passado,
Sinto a saudade mais perto.”
Hayton, linda poesia. Enriqueceu o texto.
ExcluirEita, sinhô,
ResponderExcluirUsei de boa fé a palavra sinéfilo, que não significa "amigo dos sinos" mas de chineses kkk.
Só encontrei algo parecido em hespanhol, segundo o Google
É o cabra que toca sinos.
Vc já deu seus balanços no campanário de Nossa Senhora Santana. Fique, pois, assim.
Abraços
Antônio Sobrinho
Tonho, não se preocupe! A universalidade dos sinos une todos os povos.
ExcluirLeia-se sinófilo e não sinéfilo
ResponderExcluirJoão de Liô,
ResponderExcluirA cada crônica vmoce se supera ..E essa pesquisa sobre sinos foi algo fora -de- série ..Estava lendo essa obra e ouvido o Major repicado os sinos da Matriz.
Muito bom, Xará, Parabéns!!
Obrigado Xará do Mato.
ExcluirVocê se superara.. corrigindo
ResponderExcluirValeu.
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