Capiá
é nome atribuído a planta, rio, povoado e a alguns personagens: José Soares de Andrade, estreou o apelido; Luiz
Antônio de Farias, o segundo e Manoel Francisco de Souza, o terceiro até agora.
No dicionário Aurélio a palavra
“capiá” consta de variação morfológica de “caiapiá ou carapiá” do Tupi-guarani,
que tem o significado: “Designação comum a várias espécies do gênero Dorstenia
brasilienses, da família das moráceas, também chamada de contraerva. É uma raiz
que empiricamente se aplica contra um veneno.”
“Carapiá é uma planta que pode ser
considerada, hoje, nativa do Brasil, nas encostas da Mata Atlântica, Cerrado e
Caatinga, amplamente utilizada pelos índios, caboclos, povos do mato,
sertanejos e quilombolas. Suas folhas são consideradas planta medicinal, e sua
raiz, um tubérculo poderoso. Porém, hoje, essa planta está com sérios riscos de
extinção.”
No Brasil,
empiricamente, é usada para tratamento de febres, dismenorreia, atonia do
aparelho digestivo, gastrite, disenteria, reumatismo, dermatite, como
expectorante, tônico-estimulante, contra picadas de serpentes (emplastro com
raiz fresca) e em diarreias crônicas.
José Soares de Andrade(1967-2014), natural do
povoado, era pessoa com transtorno mental que fazia dele andarilho incansável. Perambulava
pelas cidades limítrofes e ruas santanenses pedindo insistentemente qualquer
coisa. Dizem que o que ele recebia de doação redistribuía imediatamente,
reiniciando sua mania, sem descanso. Há muitas histórias hilárias reforçadas pelos
trejeitos, gagueira, repetição das palavras e respostas rápidas e objetivas às
conversações e indagações. O registro fotográfico do encontro antológico entre Capiá e Alegria, outro pedinte compulsivo, imortalizou o momento. Segundo populares, Capiá faleceu há alguns anos.
Foi sepultado em Ouro Branco.
O ilustre personagem conta o porquê na
crônica “Por que Capiá?”, constante do livro “Saudade, meu remédio é contar”,
cujo trecho reproduzimos a seguir: (...) “Havia no povoado Capiá, um bode
pai-de-chiqueiro, dotado de uma barba considerável, que "fazia ponto"
diariamente em uma bodega do lugarejo (Capiá), onde os "papudinhos",
assíduos frequentadores da birosca, repartiam suas talagadas com o referido
animal. À tardinha, o embriagado caprino saía trôpego para "curtir" a
carraspana sob um frondoso pé de figo que havia em uma praça da localidade.
Concomitantemente, naqueles primórdios, eu exibia
um exuberante cavanhaque capaz de fazer inveja ao animal em questão. Do mesmo
modo, também já gostava de "afogar minhas mágoas num copo de bar",
como diria o poeta. Determinado dia, cheguei na república dos bancários,
localizada na Rua Prefeito Adeildo Nepomuceno Marques, em alto estado de
ebriedade, quando me deparei com Mário Beleza, colega do Banco do Brasil, que
numa inteligente presença de espírito, exclamou:
- Aquele que vem banzeiro que só o bode do Capiá!
A partir daquele momento foi criado meu apelido que, com o passar dos anos, foi
simplificado apenas para Capiá.”.
Manoel Francisco de Souza |
Manoel
Francisco de Souza (1954-1995), Mané Capiá, gracejador e gaiato inveterado. Fora-lhe
atribuída a alcunha pela semelhança da barba com o Luiz Antônio.
Numa roda de amigos tinha mania de imitar o canto
de pavão que parecia um gato miando, desesperadamente.
Esse fato se passou na sua casa e foi contado por
ele mesmo. Dona Cícera, sua esposa, havia contratado uma secretária para
auxílio nas estafantes tarefas domésticas. A Maria era morena esbelta de curvas
bem delineadas que não tardou a despertar à atenção do astuto Capiá.
Após calcular várias vezes as consequências de eventual assédio,
decidiu se arriscar. Sem alternativa, a ingênua serviçal se viu acuada, nada
restando senão denunciar os galanteios do patrão e garantir o emprego.
Após a denúncia, dona Cícera
conhecendo o marido que tinha, advertiu-o severamente:
- Capiá, tenha jeito de homem! Você está dando em
cima da secretária!! Tenha vergonha na cara e procure seu lugar!!!
E Capiá que tinha resposta pra tudo, olhou com
seriedade para a esposa, respondendo com sagacidade, pausadamente:
- Mulher, o negócio é o seguinte: vamos demiti-la pois
ela não é uma pessoa de confiança. O que se diz em segredo ela não pode sair
por aí dizendo pra todo mundo...
Voltando ao tema central, concluímos com o argumento de que a relação entre a planta e o epíteto zombeteiro se dá de forma indireta, visto que a espécie deu nome ao rio, que por sua vez deu nome ao povoado e a alguns moradores do lugar ou quem ali esteve ou a quem apresentou alguma semelhança física com quem era assim chamado. Os fonemas que formam o vocábulo indígena carregam, em sua pronúncia fácil, intensidade comunicativa reforçada pela imagem folclórica dos personagens consagrados pela sabedoria popular.
Publicação de janeiro de 2005, revisada em julho de 2021
Capiá da Igrejinha, Canapi AL |
Rio Capiá, Maravilha AL |
É inteiramente intrigante os relatos históricos que são regiatrados no blog. Quantos fatos importantes que fazem parte de nossa convivência, porém sem conhecimento, até agora é claro. Ter um registro desses personagens folclóricos e de suas origens nos coloca na posição de que nunca esqueceremos nossas histórias, nosso povo, nosso costume.
ResponderExcluirMe diverti bastante com a leitura. Parabéns ilustre João Neto Mendes.
A história santanense é repleta de referências aos personagens folclóricos que enriquecem a convivência social. Obrigado.
ExcluirExcelente pesquisa, Xará!! Essa associação entre a planta, a localidade e os apelidos ficou muito boa. Parabéns pela crônica pesquisa..
ResponderExcluirValeu Xará do Mato. Obrigado.
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