Transcorria o ano de 1959. O governo do prefeito Hélio Cabral (1926-2010) aproximava-se do final (1956-1960) deixando inúmeras realizações culturais, marca de tradição familiar, honrando a premissa de que o gestor é, nos cargos de liderança que ocupa, aquilo que é na família. A valorização das artes era marca indelével.
Dentre outros feitos, foram criados a Biblioteca Municipal,
Museu Histórico e de Artes, Feira de Livros e a reedição de livreto sobre o Missionário
Padre Francisco Correia e os primórdios de fundação da cidade. O opúsculo de 28
páginas; “Escorço Biográfico do Missionário Apostólico Doutor Francisco José
Correia de Albuquerque (1757-1848)”, do biógrafo Padre Teotônio Ribeiro (1855-1929),
havia sido publicado em 1ª edição em 1917, motivado pelo período em que foi pároco da Vila de Sant’Ana da Ribeira do Panema, de 1884 a 1888, após conhecer a vida magnânima do padre Francisco Correia. O livreto
havia sido encontrado na biblioteca particular do Padre Bulhões (1886-1952) e
cedido ao prefeito pela irmã do padre, Maroquita Bulhões.
O esporte santanense vivia o auge das conquistas:
o Ipanema Atlético Clube sagrara-se tricampeão matuto de futebol em 1958.
Em 1959, estreou o escritor santanense Djalma de
Melo Carvalho com a crônica “Festas de Santana”, publicada no jornal “Gazeta de
Alagoas” em 02.08.1959, abordando a religiosidade do povo e as festividades da Padroeira
Senhora Sant’Ana, incluindo a programação do marco inicial da festa da juventude,
denominada à época, “Dia da Mocidade”, criada pelo idealismo dos pioneiros:
Emílio Silva, estudante secundarista do Colégio Diocesano de Garanhuns, Geraldo
Bulhões (1938-2019), acadêmico de direito na UFAL-Universidade Federal de
Alagoas e Nestor Peixoto Noya(1940-2016), secundarista do Colégio Batista Alagoano de Maceió.
A crônica consta da 1ª edição do livro “Festas de
Santana” de 1977. A obra foi revisada, atualizada em 2ª edição e distribuída como brinde aos amigos e parte ao abrigo de idosos "Casa São Vicente de Paulo".
Além da religiosidade, o cooperativismo e a
solidariedade também se consolidaram como virtudes dos "sertanejos da
terra espinhosa", como assim definiu o mestre Graciliano Ramos. Naquele ano
foi criada a agremiação de serviço social “Rotary Clube”.
No mês de julho, de Sant’Ana e de férias escolares,
filhos da terra e visitantes convergiam à terra animados, exaltados e ansiosos
pela iminência das celebrações marcantes da excelsa padroeira, do frio noturno sazonal, da neblina matinal na serra, do rio Ipanema cheio e reencontros. Tempo propício à celebração, alegria
e festa.
Os jovens da época queriam ser lembrados no
novenário como tantos outros segmentos sociais. Momentos de oração para lhes
fortalecer o espírito frente aos permanentes desafios vindouros. Com esse intuito,
reivindicaram inclusão da categoria à comissão organizadora da festa. Foram
atendidos.
Por outro lado, o trio fundador queria mobilizar e
dinamizar os jovens sertanejos pelo lazer e esporte, que era convite a boa convivência,
competição, integração e à confraternização. Naquele ano a juventude santanense
construiu uma ponte para o futuro com iniciativas inéditas e integradoras que contemplavam
à valorização espiritual, atividades esportivas, culturais e solidárias que marcariam
para sempre a sociedade local, segundo o depoimento de Emílio Silva, um dos pioneiros.
Eis parte
da programação esportiva e cultural do dia 19.07.1959, dia da juventude:
- 7:30 h – Saudação à juventude da terra de Martinho
Vieira feita pelo acadêmico de direito Geraldo Bulhões;
- 8:00 h - Missa solene celebrada na Igreja Matriz;
- 9:30 h - Disputa do torneio de futebol de salão,
sendo vencedora a equipe da UESA local. Também foi realizada 1ª gincana automobilística,
incluindo homenagem póstuma ao político José Amorim Pereira que havia sido
assassinado em 1958. Zé Amorim, vereador, cedia seu veículo fubica(andorinha)
para que a rapaziada aprendesse a dirigir;
- 13:30 h - Fundação do grêmio lítero recreativo Onildo
Nepomuceno em justa homenagem ao jovem poeta e ex-professor, que tanto fez em
prol da juventude santanense quando fazia parte do corpo docente do Ginásio
Santana;
- 19:00 h - Novena. Logo após queima de fogos de
artifício;
- 22:00 h - Animado baile no Tênis Clube Santanense;
- 24:00 h - Coroação da primeira rainha da juventude,
sendo escolhida a senhorita Risoleide Lins, filha de Waldemar Lins.
No ano seguinte, a equipe organizadora foi
reforçada com os personagens: Isnaldo Bulhões (1942-2020), José Abdon Malta
Marques(1940-1997), José Pinto de Araújo e José Alfredo Noya. Aos poucos, outras modalidades esportivas
foram incluídas.
Com o
passar dos anos a festa tornou-se também filantrópica, direcionando arrecadação
de alimentos e recursos direcionados às pessoas carentes, entidades e à Igreja.
A coordenação da festa sofreu inúmeras alterações ao longo do tempo. Atualmente a festa é composta por várias modalidades esportivas amadoras, shows artísticos e a escolha da rainha da juventude, escolhida em desfile. A festa cresceu tanto que passou a ser realizada em vários dias e em vários locais para atender as exigências da contemporaneidade. Com a diversificada programação ganhou fama e ultrapassou fronteiras, tornando-se a maior festa jovem de Alagoas.
A última eleição da rainha jovem no Tênis Clube
aconteceu em 2004, no final do governo do prefeito Marcos Davi (2001-2004). Em
2005, o desfile ganhou as ruas e passou a ser realizado em praça pública, na
primeira gestão da prefeita Renilde Bulhões.
Última escolha da rainha no Tênis Clube 2004 fotos: portal maltanet |
Primeira escolha da rainha na praça pública em 2005 fotos: portal maltanet |
Desde seu início até os tempos atuais teríamos 62
edições. Excluindo ano em que deixou de ser realizada em virtude de greve da polícia
militar na segunda gestão (1997-2000) do prefeito Paulo Ferreira (1931-2018) e nos
anos 2020 e 2021, parcialmente, por conta das restrições da pandemia do coronavírus, temos 59 edições.
Rainhas da Juventude:
1959 - Risoleide Lins
1972 - Maria Carmélia Carvalho (Melo)
1983 - Ísis Salgueiro Araújo
2012 - Polyane Gomes
2013 - Raíza Vanderlei
2014 - Shayanne Alves
2015 - Eagly Santos
2017 - Franciele Pereira Silva
2018 - Maria Daniele Oliveira Vanderlei
2019 - Pauline Lima Santos
2022 - Iasmim Vanderlei de Carvalho
2023 - Danyelle Ramalho
2024 - Ana Clara Ferreira
Julho de 2021
Entrevistas a Emílio
Silva(fundador), Djalma Carvalho (Escritor), José Pinto de Araújo (participante
das primeiras edições), exemplar do jornal Gazeta de Alagoas de 02.08.1959 de Djalma Carvalho e
Portal Maltanet.
Parabéns João Neto. Enfim o quebra-cabecas está coerente e inteligentemente arrumado! Apenas uma "correção": o nome é Risoleide, minha grande amiga. Morou conosco na nossa casa em Maceió.
ResponderExcluirUma sugestão: não ficou nada de Onildo Nepomuceno, grande poeta e meu primo
Estamos pesquisando sobre Onildo Nepomuceno. A digitação me fez errar o nome de Risoleide, mas já foi corrigido.
ExcluirE o nome completo do grêmio era Grêmio Litero-Recreatvo
ResponderExcluirEngraçado: eu só tinha 11 anos e participei de tudo ativamente. Lembro-me muito bem da sessão solene de instalação no primeiro andar do sobrado do meio da rua
Zé Geraldo, corrigido.
ExcluirFaltou interrogação na minha sugestão
ResponderExcluirEntendi. Às vezes a digitação nos atrapalha. Faz parte.
ExcluirQuando digo que me lembro, estou consciente das armadilhas da história oral e dos truques da memória... Portanto sujeito a "erros"
ResponderExcluirNão se preocupe! Construiremos juntos. Obrigado pela contribuição.
ExcluirQue legado estimado escritor João Neto Félix, Vossa Senhoria acaba de deixar para os estudantes, pesquisadores, historiadores, e claro, para a posteridade. Aqui sem dúvida nenhuma vossa excelência, está literalmente imprimindo nossa história, nossas vidas, nosso passado e desenhando o Escorço Bibliográfico da Festa da Juventude. ass: Fabio Campos.
ResponderExcluirObrigado caro confrade Fábio. Como diz o confrade Capiá Farias: "Nossa história precisa ser contada." Avante.
ExcluirQue pesquisa bem elaborada sobre a Festa da Juventude, minha amigo João de Liô.
ResponderExcluirParabéns pelo trabalho.
Valeu Xará ! Abraço.
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