Caminhos do Colégio Estadual

 


                 Mês passado soubemos da notícia da morte cantor norte americano B.J. Thomas (1942-2021) aos 78 anos, no dia 29.05.2021, de complicações de câncer do pulmão.  O que isso tem a ver comigo, aparentemente? Nada, não fossem as lembranças que vieram à tona.

            Billy Joe Thomas, mais conhecido por seu nome artístico B. J. Thomas, foi um cantor americano famoso por seus hits nos anos 1960 e 1970. No Brasil é famoso pelas canções "Rock And Roll Lullaby"(clique para ver) da trilha sonora da novela Selva de Pedra (1972) e "Raindrops Keep Fallin' on My Head" do filme Butch Cassidy and the Sundance Kid (1970), música ganhadora do Oscar (melhor canção original). Outros hits numa escala menor, foram: "Oh Me Oh My" (1971) e "Long Ago Tomorrow" da novela O Primeiro Amor (1972). O cantor recebeu nove indicações ao Grammy Award, das quais venceu cinco entre 1966 e 1977.

            1972 foi um ano de grandes transformações pessoais que nem eu mesmo tinha consciência da sua dimensão. O admirável mundo novo de descobertas onde o adolescer reinaria sem caminho de volta.  Durante o 4º ano primário, ao mesmo tempo, era necessário fazer o curso intensivo de admissão ao ginásio ministrado no prédio do Ginásio Santana e as provas realizadas no prédio do Grupo Escolar Ormindo Barros, em 1971. Após o êxito, aguardava-nos o ingresso no Colégio Estadual Professor Deraldo Campos, distante cerca de 2 quilômetros de casa.

            Enquanto eu ouvia nostalgicamente a canção "Rock And Roll Lullaby" o novelo da linha do tempo foi se desenrolando, reconstituindo ruas, surgindo pessoas, restaurando horas e situações e eu me vi posto a caminho do colégio estadual com o fardamento cinza engalanado com uma linha azul-marinho na lateral da calça de cima a baixo. Éramos debutantes de sonhos e desafios que a vida iria nos reservar.

            As incertezas eram muitas. Tudo era intenso para um menino que nunca tinha deixado a barra da saia da mãe. Laconicamente, assim como na canção, “quando eu chorava ela acalmava meus medos e enxugava minhas lágrimas com um rock roll de ninar”, pois música tinha de sobra lá em casa.

            Eu tinha alguns roteiros predeterminados para me dirigir ao educandário. Um deles; eu seguia pela rua 26 de julho, pequeno trecho da N S de Fátima, Benedito Melo, Coronel Lucena, Praças Enéas Araújo, Manoel Rodrigues da Rocha, Tertuliano Nepomuceno, subia e descia o aterro (BR 316), andava alguns metros para atravessar o leito seco do riacho Camoxinga, na maioria das vezes.

            Naquele trecho, a paisagem do riacho era panorama típico da vida campestre. Uma imensa craibeira crescera à margem esquerda embelezando o cenário bucólico. Saudava os caminhantes lançando e deitando suas folhas e flores na estrada exaltando a circunstância solene do ritual diário de recomeçar.

 Atestar as cheias e enxurradas do riacho eram alegrias desmedidas. O som das suas águas correndo em direção ao Ipanema era uma sinfonia que acalmava qualquer coração pueril. Muitos estudantes atravessavam assim mesmo para evitar trecho mais longo e, em último caso, restava-nos arrodear pela ponte do aterro.

            O maior prêmio depois de passar de ano era assistir à florada amarelo-ouro da grandiosa craibeira que nos enchia de esperança por um ano vindouro de aprovação menos sofrida. Doce engano, quanto mais conhecimento, mais aflição e afobação naqueles dezembros juvenis. Ainda assim, a barra do tempo não me pesava sobre os ombros.

            Uma estrutura chamada de “quebra-corpo” era atalho que dava acesso à área do colégio. Ao atravessá-lo, as pessoas são obrigadas a fazer um pequeno desvio, um “jogo de corpo” em forma de semicírculo, para cruzar para o outro lado. Depois se passava pelo campo de futebol de chão batido. Ao lado do campo foi construída uma descoberta quadra de cimento poliesportiva. Do mesmo lado, próximo ao prédio principal havia uma quadra de futebol de salão de piso de saibro que eventualmente era utilizada.

Rua Gilmar P Queiroz

            A entrada principal do colégio, na rua Gilmar Pereira de Queiroz, raramente era utilizada. Os acessos preferidos eram os portões alternativos. Curiosamente, outra craibeira longeva dá as boas-vindas a quem por ali chega. As estradas do entorno não tinham nenhum tipo de pavimentação.

           Na parada obrigatória de 7 de setembro as turmas masculinas eram as últimas a desfilarem, sem nenhum tipo de sonoridade da banda pela distância e sob o olhar crítico do professor-fiscal e do público a vociferar o termo pejorativo “agora é a reborreia”, chamando atenção para o momento de ir embora pois só tinha o resto do desfile e portanto, sem importância.

Parada 7 de Setembro, Edgar Farias, Pangaré e Bolinho, na reborreia.

            Em 1964, Mileno Ferreira da Silva (1925-1988) foi convidado pelo Governador major Luiz Cavalcante para reformar o prédio do quartel onde funcionara o antigo batalhão do exército transformando-o no Colégio Normal de Santana.

            O terreno, comprado pelo exército, era uma fazenda de Frederico Rodrigues da Rocha (1895-1982), que fora o primeiro intendente interventor em 1930. Ali havia a casa grande recuada no meio de jardins, florida com pés de príncipes (buganvília) planta trepadeira espinhosa de pétalas vermelhas que se esparramava lindamente encostada em cercas e jiraus.

            A escola foi fundada em 26.03.1964, implantada no prédio onde fora instalado o quartel do Exército. O batalhão chegara de repente e, com a mesma rapidez, fora embora. O enorme prédio que servira de quartel, ficou ocioso e depois foi transformado em educandário à semelhança do Ginásio Santana, que abrigara o 2º. batalhão de polícia.

            O Colégio Estadual Deraldo Campos foi implantado num plano baixo arenoso, provavelmente entulho do riacho Camoxinga que teria mudado de curso, fazendo meandros até a sua foz sob à ponte do padre.

            Em 1970, Governador Lamenha Filho, editou decreto cujo nome passaria a se chamar Colégio Estadual Professor Deraldo Campos em homenagem ao secretário de Educação Estadual. O colégio foi avanço importante para a mocidade da terra visto que oferecia cursos a partir da 5ª série. O primeiro diretor da unidade escolar foi Mileno Ferreira da Silva que o dirigiu com punho de ferro durante cerca de vinte anos. 

            O colégio tinha muitas salas de aula. O pátio interno era imenso. Fomos alunos de 1972 a 1978, compreendendo as séries ginasiais, no horário vespertino e o curso científico, no horário noturno.

            Após 30 anos de dedicados à educação, Mileno Ferreira consta da galeria de honra dos professores-fundadores do Ginásio Santana e do Colégio Estadual. Em decorrência de problemas cardíacos faleceu em 1988. Projeto de Lei apresentado pelo deputado conterrâneo Nenoí Pinto alterou nome do colégio que passou a se chamar "Mileno Ferreira" no mesmo ano do falecimento.

            Às vésperas do quinquagésimo aniversário, prestamos homenagem aos sonhadores que ingressaram na turma da 5ª série ginasial de 1972, incluindo os professores contemporâneos. Aos falecidos, que descansem em paz! Serão sempre lembrados! Ninguém sabe quais as estradas que serão percorridas na fugaz existência. Caminhando, o caminho se faz...

 




            “Você não sabe o quanto eu caminhei

Pra chegar até aqui. (Clique para ver)

 A vida ensina e o tempo traz o tom...”

(Toni Garrido, Bino, Lazão e Da Ghama)

           

 

01-Benedito Barbosa Araújo (in memoriam)

02-Cid Brito dos Santos

03-Carlos Cesar Ferreira de Sá

04-Cleide Cândida Pereira Teodósio

05-Cícero França Campos (in memoriam)

06-Cícero José Vieira Barbosa

07-Cesário Manoel Granja Melo

08-Carla Mercês da Rocha Jatobá

09-Débora Maria de Lima

10-Délvia Maria Aquino

11-Dilza Menezes da Silva

12-Djalma Nobre Azevedo

13-Djalma Teles Novais

14-Elias Alfredo Gomes

15-Esperidião Barbosa Neto

16-Ednaldo Quintela Fontes

17 Everaldo Soares Prazeres

18-Fátima Regina Silva

19-Francisco Viana da Silva

20-Gilberto Azevedo Menezes (in memoriam)

21-Gilberto Carlos da Silva

22-Gil Pacífico Vieira

23-Gilvan Siqueira Melo

24-Ilza Cardoso Pontes

25-Ivan Siqueira de Melo

26-João Neto Felix Mendes

27-João Soares de Melo

28-José Avelar Ferreira

29-José Carlos de Brito (in memoriam)

30-José Ferreira dos Santos

31-José Freitas Rodrigues

32-José Gilmar Oliveira Costa

33-José Lito Ferreira damasceno

34-José Rodrigues da Rocha (in memoriam)

35-Josebel Vicente Gomes

36-Lúcia Araújo

37-Lúcio Luís Alcântara Duca

38-Myria Azevedo Silva

39-Maria Áurea Silva

40-Mirta Alcântara Vieira dos Anjos

41-Maria Erailda Silva

42-Maria de Fátima Comes Limeira

43-Mileno Gonçalves Ferreira

44-Maria Hélia Amorin

45-Maria Margarete Nobre Azevedo

46-Marlizabeth Rodrigues Nobre

47-Maria Salete da Conceição Silva

48-Rita de Cassia Aquino Barros

49-Rogério Quintela Agra

50-Rosa Maria Marques Agra

51-Régia Vitoria Oliveira Lima

52-Sérgia Maria de Bulhões

53-Sílvia Maria de Bulhões (in memoriam)

54-Wilson Viana Alves

                                                                                                                                  Julho de 2021

Comentários

  1. Reví na mente todo trajeto seguindo por você, da sua casa ao Colégio Estadual e também voltei ao passado..
    Uma bela crônica, Xará.!

    Parabéns!

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  2. Caro cronista, e amigo João Neto Félix. Os componentes desta lista nominal, dos seus colegas de turma de escola, primeiro que estão lisonjeados, onde quer que se encontrem. Estão vibrando, ainda que inconscientemente, tanto os que leram, e os que por ventura jamais lerão. Ainda assim reverbera em[e de] suas vibes, uma centelha de doce ternura, por esta sua narrativa. A música, arrisco dizer, é um dos poucos artifícios que o inexorável senhor tempo, não consegue apagar, ou desbotar, nem mofar, é não perecível. Além do poder que tem de aflorar na alma, coisas que sentimos, e mesmo que não tenhamos nos apercebidos ficou l, impressa, tatuada para sempre! Parabéns! ass Fabio Campos.

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  3. Bela crônica, me fez lembrar o meu tempo de Colégio Estadual, da 5a a 8a e 2° e 3° anos, todo aquele trajeto de ida e vinda, o riachinho, as quadras, onde iniciei meus jogos de salão e finalizei já no Ginásio de Eaportes, dos amigos q até hj fazem parte de minha vida, meus professores, aquele imenso pátio, as primeiras namoradas...muitas maravilhosas lembranças!

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