Maestro Queiroz: pioneiro da música e do teatro santanense

 

Filarmônica Santa Cécília. Anos 20. Maestro Queirós com a batuta.
Acervo: Darras Noya/João Neto

         

   
“Conservatório do povo, depositária de tradições, museu vivo de nosso passado musical. Assim podemos começar a falar em banda de música, tema que, embora de tanta importância, tem sido pouco explorado pelos pesquisadores de nossa música popular.

Mas o que é uma banda? Como e quando surgiram as primeiras? A rigor, banda de música é um conjunto constituído de instrumentos de sopro (madeira e metal) e percussão. No que diz respeito à etimologia, banda, bando e bandeira têm a mesma origem: provém da raiz germânica “bandwa”, que significa bandeira ou estandarte. Do italiano, banda passou ao francês e mais tarde a outras línguas latinas, também dando origem ao inglês “band”.

Foi apenas no século XIX que as bandas adquiriram o caráter que têm até hoje, inclusive na Europa. Um dos principais responsáveis por essa atualização foi o criador do saxofone, o francês de origem belga Adolfo Sax.

Antes disso, as bandas de música mais antigas, compostas por instrumentos de sopro e percussão, eram chamadas também de charamelas. Calamus ou charamela são nomes latinos dados à flauta rústica, instrumento muito utilizado até o final do século XVIII, que se dividia em três tipos: a bastarda, a média e a pequena.

Segundo Vicente Salles, é muito provável que o termo charamela tenha dado origem à palavra charanga, nome muitas vezes pejorativo, que serve para designar as bandas de música de cidades do interior ou ainda qualquer banda de música desafinada.

No Brasil, as bandas de música, tal e qual as conhecemos atualmente são fruto do século XIX. Quando D. João deixou Portugal, em 1807, trouxe consigo a Banda da Brigada Real, que, segundo Vicente Salles, “embora modelada à maneira antiga não deixasse de constituir grande exemplo para as organizações similares no Brasil”.

Mas nosso país tinha seus grupos musicais desde a época colonial. Os conjuntos de pífanos, ou ternos, datam dessa época. O terno, também chamado de terço, costumava reunir três naipes: a flauta, o cavaquinho e o violão. Interessante notar que essa formação se estendeu à época do choro e das serenatas, mais recentemente.

Foi com o decreto de D. João, em 27 de março de 1810, que as bandas ganharam novo fôlego no país, e começaram a se disseminar. Pelo decreto, todos os regimentos militares ficavam obrigados a ter uma banda de música, com composição variando de 12 a 16 executantes. A partir de 1814, tem início a difusão do ensino e da prática de instrumentos mais atualizados.

Atualmente, as bandas podem ser de dois tipos: civis ou militares. Entre as civis, existem as bandas marciais, em geral pertencentes a colégios, e as fanfarras. Uma fanfarra é constituída quase que pelos mesmos instrumentos que compõem uma banda de música. A diferença reside na exclusão, na fanfarra, de todos os instrumentos de palheta, exceto os saxofones. Em alguns casos, quando são introduzidos instrumentos de cordas, como, por exemplo, o violoncelo e o contrabaixo, a banda de música é ainda filarmônica.

Verdadeiras escolas da arte, as bandas de música vêm contribuindo de forma inestimável para a preservação da cultura nacional, seja descobrindo novos talentos ou incentivando o interesse pela música. Muitos grandes vultos da música universal tiveram como rito de passagem a banda de música. Como forma de ilustração, podemos citar Verdi, que foi mestre de banda de música na Itália. No Brasil, vale registrar que um dos nossos maiores compositores populares, Luiz Gonzaga, começou sua vida musical como corneteiro do exército, dele dando baixa em 1939.

Intimamente ligadas à história da nossa música popular, as bandas contribuíram para o abrasileiramento de muitas danças europeias que aqui chegaram no século XIX, como a polca, a valsa, a mazurca e a quadrilha.

Além disso, como nos lembra Ricardo Tacuchian, vários gêneros musicais, como o choro, se bandizaram e graças a esse fenômeno se conservam até hoje. Entretanto, com o advento da música pop, do rock e dos instrumentos eletrônicos, as músicas de banda perderam espaço no mercado. Ricardo Tacuchian, em pesquisa realizada em 1982, registra que, no Rio de Janeiro, das 103 bandas civis catalogadas no Departamento de Cultura do Estado até aquela data, apenas 30 estavam em atividade, muitas vezes de maneira precária e irregular.

Não elitizável por sua própria natureza, se assentando no contexto popular, fonte de lazer e centro formador de músicos, as bandas fazem parte de nossa história, de nossa cultura e, em última instância, de nossa identidade.”

A denominação “Filarmônica” ou “Sinfônica”, antigamente, estava relacionada quanto à manutenção financeira das Bandas. A “Filarmônica” era mantida com recursos privados; “Sinfônica”, com recursos públicos. Atualmente, não há nenhuma diferença na expressão.

Em Alagoas, através de sua pesquisa de mestrado, fundamentada no desenvolvimento da música no Baixo São Francisco desde o ano de 1998, Maestro Nilton Souza procura trazer o mapeamento musicológico do Estado de Alagoas. “Eu trato dos aspectos musicais da região lagunar, englobando o interior do Estado, a exemplo de Marechal Deodoro, e o Litoral Norte e a Zona da Mata, além dos compositores e das bandas de cada lugar”.

Em Santana do Ipanema AL., no alvorecer do século XX, em 22.11.1908, exatamente no Dia da Música é fundada a Banda Filarmônica Santa Cecília, cujo fundador foi o Coletor Federal e maestro Manuel Vieira de Queiroz, “Maestro Queiroz” ou simplesmente “Seu Queirós” como era conhecido. Além da fundação da filarmônica, maestro Queirós, foi fundador do primeiro teatro Santanense, ainda no período de Vila. Era um homem dedicado às artes.

Muito bem relacionado, maestro Queiroz, além do cargo de coletor federal, exerceu o cargo de Conselheiro Municipal durante a gestão do Intendente (Prefeito) Coronel Leopoldo Augusto Wanderley, (1916/1918) conforme ata de 07.01.1916, no Paço Municipal da Intendência.

A Sociedade Musical Dramática Santanense, como fora intitulada, funcionou no primeiro andar do sobrado do meio da rua. Entre as peças encenadas, duas se destacaram: “Malfeitor de Quadraque” e “Amor e Ciúme”, esta última, de autoria de Segismundo Vanderlei. Eis alguns dos integrantes:

Capitão Francisco Vieira (Coletor), Aureliano Wanderley, Antônio Tavares da Guirra, Joaquim Ferreira, Segismundo Vanderlei, Ormindo Barros, Antônio Wanderley, José Lacerda, Manoel Vieira de Queirós.

Natural de Águas Belas PE, maestro Queiroz radicou-se na cidade, juntamente com a sua família. Era casado com dona Joana (Joaninha), que era uma das pessoas mais caridosas de Santana. Certamente influenciada pelo ambiente musical em que vivia, era pessoa de hábitos maviosos, falando macio e piano, com se em tudo quisesse ver harmonia de conjunto. (Oscar Silva, Fruta de Palma,1990, pg.54)


Casa do maestro no lado direito da igreja matriz de Senhora Santana


O casal teve os filhos: Clotilde, que foi agente dos correios e telégrafos; Anteia, exímia florista e zeladora especial do altar do Senhor Crucificado na Matriz de Senhora Santana e Alano, que se casou com Leonor e teve os filhos Zilda, Zora, Zélia, Guido e Agildo.

Fato curioso é que a Filarmônica Santa Cecília foi apelidada de “Carapeba”. Segundo o dicionário Aurélio a atribuição desse nome na linguagem popular, significa: desafinada e sem importância. A Banda perdurou com a mesma formação durante todo o período de Vila com atuação marcante em todos os acontecimentos da época. Passou por renovação em 1922, sendo extinta por volta de 1926, portanto, já no período de cidade e após dezoito anos de existência.

Eis alguns membros da “Carapeba”:

Manoel Vieira de Queirós (Maestro Queiros), fundador e maestro, Benício Mendes Barros, Adauto Mendes Barros, Dilermando Brandão, Manoel dos Reis, Pedro de Abreu, Manoel Anselmo, Joel Tavares, Belarmino Costa e Odilon dos Anjos.

Em 1918, no Distrito Capim (atualmente Olivença) foi fundada outra Filarmônica pelo Sr. Joel Marques, primeiro prefeito eleito de Santana do Ipanema, cuja formação tinha quinze músicos com instrumentos próprios. Entre eles, destacaram-se Joel Marques (Fundador), Amabílio Bulhões, Jonas Aragão, Miguel Bulhões, Pedrinho Preto e Juvino Azevedo (Juvino Sebança). A agremiação musical com músicos nativos desenvolveu-se e se tornou famosa nas redondezas. Em 1920 fora convidada para abrilhantar as festividades de Senhora Santana, fazendo sua primeira apresentação na sede do Município, recebendo elogios. Animou e fez sucesso nos carnavais da época.

O Escritor Santanense, Oscar Silva, registrou em crônica “Cinzas de um Carnaval”, pg.29, livro “Fruta de Palma” (Crônicas Nordestinas -1953), atuação de Bandas Filarmônicas nos carnavais de rua: “(...) vinha a primeira parte do carnaval: O Zé Pereira. Dois. Cada banda de música fazia questão fechada de apresentar o seu. Por uma rua saía o da “Aratanha”, banda de música de mestre Juvino (finado tio meu); por outro, ia passando “Carapeba”, a banda de Seu Queirós. Como em outros festejos populares, os partidários se agrupavam em torno de sua banda predileta. E era um clarinar de pistons, um matraquear de tambores, um estrugir de bombos e o vozerio a cantar pela Rua do Sebo, da Poeira, Camuxinga ou Monumento:


Viva Zé Pereira!
Viva o Carnaval!
Moça bonita
Na janela está!


Deixávamos a rua, quando o sono nos arrastava para a cama. Caíamos a dormir sonhando com a cara do Zé Pereira, aquela porção de lanterninhas acesas e conduzidas pelos homens que cantavam. Ao acordar, éramos espectadores do subir de um pano para a segunda parte da comédia. (...)”

Em 1922, em plena efervescência cultural vivida pelo País com a influência do movimento modernista da semana de arte moderna, é fundada a terceira banda de música denominada “Filarmônica Santanense” pelo político e comerciante Benedito Aquino Melo, entusiasta das bandas de música. Anos depois se tornou prefeito da cidade. Sua formação teve como objetivo a comemoração do centenário da Independência e em Santana haveria solenidades alusivas à data cívica naquele ano. Para integrar a banda foram convidados vários componentes da banda do povoado Capim que, de certa forma, contribuiu para dissolução da Banda com a migração dos músicos para a filarmônica santanense. A “Filarmônica Santanense” ficou conhecida pelo nome de “Aratanha”, cujo significado não foi identificado.

Eis alguns dos integrantes da “Aratanha”:

Juvino Azevedo (Juvino Sebança), Benedito Propício da Rocha, Manoel Ferreira dos Santos, João Lima, Virgílio de Sinhá, Coriolano Amaral (Seu Carola), Lourival Amaral, Maherbal Aquino, Pedro Calado, Lucas Farias, Jorge Firmo de Melo, Dion Abreu e Manoel Panta.

Portanto, entre 1920 e 1924, Santana do Ipanema tinha duas filarmônicas em plena atividade. Ficaram famosos os confrontos musicais entre as bandas “Carapeba” do Maestro Queirós e “Aratanha” do Mestre Juvino, que havia assumido a regência, cujas apresentações extasiavam os Santanenses. Havia torcida acirrada quando as duas se apresentavam e os ânimos se exaltavam em frenesi. Entre os registros de partidários ilustres, destaca-se Breno Acioly, ainda criança, partidário da Carapeba, segundo registro de Tadeu Rocha, conforme texto publicado no Jornal do Comércio de Recife, em 27.03.1966, duas semanas após a morte de Breno Acioly. Tadeu Rocha era jornalista, escritor e tio materno de Breno.


Filarmônica Santa Cecília.
Maestro Queirós com a batuta. Anos 20.


Infelizmente a Filarmônica Santanense “Aratanha” teve breve duração em virtude do seu fundador ter sido eleito intendente, cargo semelhante a prefeito municipal, em 1925.

Em pelo menos 02 fotos que datam entre 1908 a 1923 constatam-se duas formações da banda filarmônica Santa Cecília sob comando da batuta do maestro Queirós. Segundo relatos orais o maestro era muito rigoroso na condução dos trabalhos de ensaio da banda. Exigia muita disciplina nos ensaios e apresentações do grupo. A banda pelo que nos parece tinha aproximadamente entre 16 e 20 integrantes. A estrutura musical de uma banda tinha a seguinte formação: Tubas (sons graves), bombardinos (sons médios) clarinetes e pistons (sons agudos), além de alguns instrumentos de percussão, caixa e bombo. Havia no museu histórico e artes “Darras Noya” algumas relíquias desses instrumentos da filarmônica Santa Cecília em exposição, mas infelizmente sumiram.

A denominação de filarmônica “Santa Cecília” deve ao fato de que a referida Santa é padroeira dos músicos. Santa Cecília é uma santa cristã, padroeira dos músicos e da música sacra, pois quando ela estava morrendo ela cantou a Deus. Não se tem muitas informações sobre a sua vida. É provável que tenha sido martirizada entre 176 e 180, sob o império de Marco Aurélio.

Escavações arqueológicas não deixam dúvidas sobre sua existência, mas sua história só foi registrada no século V, na narrativa Paixão de Santa Cecília. Santa Cecília é a Santa da Igreja Católica que mais tem basílicas em Roma (nenhuma outra santa conseguiu tal feito) e é uma das santas mais veneradas da Idade Média, além de ser a primeira santa encontrada com corpo incorrupto, no ano de 1599, mesmo depois de tantos séculos. Uma estátua de seu corpo que não se decompôs com a força do tempo foi feita por Stefano Maderno (1566-1636).

Numas das fotos os componentes da filarmônica estão vestidos de uniformes e que, segundo o professor Nilton Souza, Maestro da Orquestra Sinfônica da Ufal, a vestimenta traduz influência das bandas do exército e polícia militar. Há poucos registros escritos das apresentações da filarmônica Santa Cecília sob a regência do Maestro Queirós, porém, era costumeira a apresentação de bandas musicais em todos os momentos importantes da cidade, sejam eventos religiosos, cívicos e outros eventos sociais.

O primeiro disco brasileiro foi gravado na Casa Edison pelo cantor Manuel Pedro dos Santos, o Baiano, em 1902. Era o lundu “Isto é Bom”, de autoria do seu conterrâneo Xisto da Bahia. A partir daí, mais e mais artistas começaram a gravar suas composições em discos que eram distribuídos pela Casa Edison do Rio e, também, pela filial que Figner havia aberto em São Paulo. A procura pelos discos cresceu tanto que em 1913 Fred decidiu instalar uma indústria fonográfica de grande porte na Av. 28 de Setembro, Vila Isabel, dando origem ao consagrado selo Odeon.

Segundo registros da Biblioteca Nacional, “Pelo telefone” foi o primeiro samba gravado no Brasil. A música, composta em 1916, no Rio de Janeiro, por Ernesto Joaquim Maria dos Santos, o Donga, e Mauro de Almeida, foi elaborada na casa de Hilária Batista de Almeida, a Tia Ciata, grande fomentadora da cultura negra no Brasil. Por ter sido concebida em uma roda de samba, onde acontecem improvisações e criações colaborativas, a autoria da canção foi reivindicada por vários músicos que participavam do encontro. A composição marcou também a transição do maxixe para o samba e o reconhecimento do segundo como novo gênero musical.

Entre 1910 e 1920 a difusão musical é bastante eclética por conta do início da popularização dos gramofones no Brasil. Nesses anos há grande difusão de música americana, alemã e francesa por conta dos discos e cilindros que vinham da Europa e Estados Unidos. Trata-se de momento importante para a música de bandas no mundo inteiro. A música brasileira, especialmente a popular começou a ser ouvida na Europa e Estados Unidos por meio das bandas, já que as gravadoras enviavam também os cilindros gravados por Edson e Odeon para fora do país.

No livro “Padre Batista”, 1997, pg.52, do escritor Tobias Medeiros, está registrada apresentação da banda por ocasião da primeira missa de posse do Padre Batista, em 1912, celebrada em Poço das Trincheiras AL, abrilhantando o evento. Nas audições o maestro apresentava-se com muita elegância, trajando fraque, vestimenta de gala para as solenidades.

Certamente a banda deve ter abrilhantado todas as procissões da festa de Senhora Santana naquele período, haja vista ser prática comum das bandas tocarem durante vários momentos no percurso das procissões religiosas. Em muitos lugares ainda continua em voga este costume. Era comum, também, o acompanhamento da banda nas missas solenes e dominicais.

Maria de Lourdes Silva Yô Yô, 88 anos, natural do Município de Santana do Ipanema, descreve a saudade que lhe envolve quando o assunto é filarmônica. “Ah, aquela época, quando se podia ouvir uma boa música tocada por aqueles grupos de professores e estudantes. Tudo era muito diferente, pois todas as comemorações durante o ano eram festejadas pra valer, principalmente o carnaval, a festa que eu amo de paixão, o dia Sete de Setembro e a tradicional comemoração da padroeira da cidade, Senhora Santa Ana. As filarmônicas percorriam a cidade inteira e eu fazia questão de me levantar pra olhar. Ainda bem que no interior a música não perdeu o seu valor.” Depoimento prestado por Maria de Lourdes a pesquisa elaborada pelo Prof. Nilton Souza, regente da orquestra sinfônica da Ufal, publicada em 28.02.2011 na internet, portal gazetaweb.com.

As bandas filarmônicas nas pequenas cidades eram escolas públicas do ensino musical. Desde a Colônia, o ensino da Música estava ligado à Igreja ou aos senhores que fomentavam em seus escravos o cultivo musical. Há inúmeros exemplos de fazendas que tinham uma banda e muitas ficaram conhecidas, já na área urbana e com um estilo de música mais popular e espontâneo, como banda de barbeiros, grupos que saíam pela cidade tocando, sobretudo em festas religiosas.

A história de Bandas Filarmônicas em Santana do Ipanema presta homenagem ao pioneiro maestro Queirós, pois sua música ainda continua ecoando nas veredas e nos ventos soprados nas serras do sertão santanense. O legado cultural e musical deixado não mais silenciou e merece reconhecimento da sociedade Santanense, pois novas gerações continuaram o trabalho até os dias de hoje. Lembramo-nos dos maestros que continuaram com brilhantismo os trabalhos musicais na cidade; maestros Juvino Azevedo, Abílio Mendonça, Miguel Bulhões, José Ricardo Sobrinho, Paulo Aguiar, João Edson Aguiar (Maestro Edinho), Paulo Cesar e a maestrina Lizandra.

1920. Numa noite silenciosa de inverno de julho, quando a lua airosa descortinava seu manto prateado sobre o povo, sob a proteção da Excelsa Padroeira Senhora Santana, a cidade adormecia serena. Era domingo dia de música e de festa da padroeira! Os primeiros raios do sol despertavam a cidade ao som da sinfonia das águas da cheia do Rio Ipanema no bucólico cenário sertanejo. Suas margens entre pedras e seixos amarelados, repletos de muçambês floridos se balançam de alegria. Mulungus vergados reverenciavam a mãe água pela dádiva da vida. As ramas das salsas bravas, insistentemente floridas, debruçadas sobre os barrancos tocavam a flor d’água num gesto de euforia e respeitosa irmandade.

Craibeiras imponentes fincadas entre as pedras desafiavam as forças das águas barrentas. As Serras dos quatro pontos cardeais abraçavam e protegiam esse pedaço de chão que, ao longe, começaram a reverberar os sons da Filarmônica Santa Cecília desfilando garbosamente e chegando à matriz de Senhora Santana para a missa solene da Padroeira, sob a regência do maestro Queiroz, com as presenças do padre José Bulhões, intendente (prefeito) tenente André Ferreira da Silva e a família do amigo Manoel Rodrigues da Rocha para a felicidade do povo santanense que de todos os cantos apareciam pra ver a banda passar e tocar. Viva Senhora Santana!

O Maestro faleceu em 02.12.1924, sepultado no antigo cemitério do monumento, atualmente igreja da Sagrada Família. Posteriormente seus restos mortais foram transferidos para o cemitério Santa Sofia.

Jazigo da família do maestro
Manuel Vieira de Queirós


Janeiro, 2021









Referências Bibliográficas:

Accioly Breno, 1921-1966. Breno Accioly: Obras Reunidas – São Paulo: Escrituras Editora, 1999, apres. pg. 08;
Carvalho, Djalma Melo, Festas de Santana, 1970;
Chagas, Clerisvaldo Braga, Seu Queirós, http://clerisvaldobchagas.blogspot.com.br/2010/08/seu-queiros.html; acesso 31.07.2015;
Diniz, André/Chaves Evelyn. História da Banda. 2004;
Medeiros, Tobias. Padre Batista. 1997, Pg 52;
Melo, Floro e Darci Araújo, Santana do Ipanema conta sua história, Rio,1976;
Ricardo, Maria do Socorro Farias, Um Mágico da Música, 1997;
Samba, História do; Opinião & Notícia; http://opiniaoenoticia.com.br/cultura/;acesso 31.07.2015;
Silva, Oscar, 1915-1991, Fruta de Palma: crônicas nordestinas. 2ª edição. Cascavel PR, 1990, pg.29 e 54;
Souza, Nilton. Decadência: Filarmônicas perdem espaço no Cenário Artístico Musical. 2011

Comentários

  1. Boa pesquisa João. Vc resgata muito bem a história cultural da cidade.

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  2. Olá pessoal gostei demais dessa crônica

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    1. Confrade Fábio Campos, muito obrigado pela leitura.

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  3. Boa tarde!
    Belo registro, de muitos fatos desconhecidos por nós e por muitos.
    Parabéns Xará...

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