Sílvio Nascimento Melo, observador apaixonado pela história e cultura brasileira, em especial da sua terra Santana do Ipanema. Participou dos principais movimentos culturais santanenses nos anos 70 e 80, dentre eles “Movimento Candeeiro”.
Cronista e pesquisador do escritor santanense Breno Accioly que neste ano se comemora 100 anos do seu nascimento. Contribuiu como dirigente das AABB’s de Recife e Santana do Ipanema, Lions Clube de S. do Ipanema e Maceió - Jatiúca e Tênis Clube Santanense.
Membro da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Maceió desde 2006 e Conselheiro da ABRH/AL 2020/2021. Atuou no Banco do Brasil e atualmente é Gerente Corporativo de Gestão de Pessoas da Santa Casa de Misericórdia de Maceió desde 2005.
Agradecemos ao escritor a gentileza de ceder sua crônica para publicação neste blog. Boa leitura !
João Neto
O som da orquestra não sai da minha cabeça. Parece que ainda estou ouvindo a marchinha “Bloco da Solidão”, que o meu bloco inicia o Carnaval no sábado de Zé Pereira e só encerra a folia nas primeiras horas da manhã da Quarta-feira de Cinzas. É uma tradição do bloco. Sempre foi assim.
“Angústia, solidão
Um triste adeus em cada mão
Lá vai meu bloco,
Só desse jeito é que ele sai”
O sono ressacado não me deixa raciocinar se estamos na terça-feira ou se já chegou a quarta-feira de Cinzas.
“Na frente sigo eu,
Levo o estandarte de um amor,
O amor que se perdeu no carnaval”.
Não brinquei ao som da “Orquestra Teimosa” do maestro Miguel Bulhões nas prévias carnavalescas das maratonas da praça Enéas Araújo, não brinquei.
Não fui de bar em bar com meus amigos no sábado de Zé Pereira. Não fui nas toldas da feira, não fui ao Bar de Erasmo, ao Bar da Toca do Pato, ao Bar do Mário, ao Bar do Mundo Errado, não fui.
“Lá vai meu bloco vai,
Lá vou eu também,
Mais uma vez sem ter ninguém,
No Sábado, Domingo, Segunda e Terça-feira"
Bloco Pitu Kom Limão
Não saí no meu bloco, de rua em rua, de casa em casa daqueles que nos convidaram. Todo dia, da manhã até o entardecer do domingo, segunda e terça-feira, não saí.
Não vi o mela-mela e não vi o Bloco dos Caretas, o Bloco do Pau D’Arco, o Bloco das Quengas, o Bloco do Brasilgás, Bloco dos Cangaceiros, Bloco dos Piratas, Bloco dos Magnatas, Blocos das Tabacudas e o Bloco da Mundiça. Não vi o Bloco do Sapo e o Bloco do Pastoril, não vi.
Bloco do Pastoril, 1976
Em pé da esquerda para a direita: Tião , José Ormindo, Erasmo Queiróz, César, Edvan, Marcos de seu Pompom, Ialdo Falcão, Miguel “Fio”, ´Zé Neto Noya. Sentados: Antônio (cunhado de Joninhas), Petrúcio Lata D’Agua, Mário Jorge, Luiz Geraldo, Sílvio Melo, Aderval Carvalho. Deitado: Joninhas. Foto de autor desconhecido.
“E quarta-feira vem
O ano inteiro é todo assim,
Por isso quando eu passar,
Batam palmas para mim”
E não ri com as máscaras do Aderval Papafigo, com os personagens e performances do Reginaldo Falcão, com as músicas carnavalescas do Remi Bastos, não ri.
Não assisti à chegada de todos os blocos à praça da Bandeira, no finalzinho da tarde da terça-feira para, extasiados, aplaudirmos o encontro da Escola de Samba Unidos do Monumento, tendo à frente a cadência do Joãozinho de Zé V-8, com a Escola de Samba Juventude do Ritmo sob a batuta ritmada do mestre Tamanquinho, não assisti.
“Aplaudam quem sorrir,
Trazendo lágrimas no olhar”
Não fui ao Tênis Clube Santanense, todas as noites, do sábado à terça-feira, beber e cantar, sem entender até hoje porque todos nós dançávamos, sem parar, circulando o salão, extravasando ao ouvir o frevo “Vassourinhas” como se fosse a última música sempre, não fui.
“Merece uma homenagem,
Quem tem forças para cantar”
Não acompanhei a orquestra no amanhecer da quarta-feira, do Tênis Clube à praça Éneas Araújo, descendo a ladeira da rua Coronel Lucena, num único bloco só de foliões saudosos e chorosos, cantando e se emocionando com a música “Santana dos Meus Amores” do poeta cantante Remi Bastos, não acompanhei.
“Tão grande é a minha dor,
Pede passagem quando sai”
Não sofri a dor do amanhecer da quarta-feira de Cinzas, como se fosse a última de um folião apaixonado, não sofri.
A boca amarga, o coração apertado, a dor de cabeça, ainda bêbado nesse ano maluco de uma pandemia louca sem Carnaval, me pergunto: cadê o meu bloco? Sonhei?
“Comigo só,
Lá vai meu bloco, vai...”
Bloco da solidão (Evaldo Gouveia e Jair Amorim)(clique para assistir)
Maceió, domingo, em 14 de fevereiro de 2021
Boa crônica com romantismo
ResponderExcluirConcordo. Sílvio se expressou com muito romantismo. Obrigado pela leitura.
ExcluirRepassamos ao Sílvio.
ExcluirSílvio descreveu com maestria os carnavais de Santana. Participei por mais de 20 anos no bloco "Os Magnatas". Sem dúvidas, os melhores carnavais de minha vida. Parabéns ao Sílvio e a João Neto p publicação.
ResponderExcluirObrigado amigo. Sílvio descreveu com precisão os carnavais de outrora.
ExcluirRepassamos ao Sílvio.
ExcluirCarvalho.
ResponderExcluir"Quantos todos, ó quanta alegria, mais de mil palhaços no salão, alecrim continua chorando e o velho Carnaval passa"
Palmas merecidas Seu Silva
Obrigado Carvalho pela leitura e comentário. Repassamos ao Sílvio.
ExcluirBela Crônica! Parabéns ao Silvio e a você João Neto pela divulgação!
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