O
ano de 2020 iniciou trazendo renovadas expectativas de um ciclo promissor no
sertão. As chuvas de verão chegaram mais cedo amenizando o calor e renovando o
verde da vegetação desbotada do calor do sol causticante que a cada ano parece
mais intenso. Fazia gosto olhar as serras ao derredor da cidade. Pareciam se
unir no fraternal abraço ao povo do lugar.
- Fevereiro - Mês dedicado ao deus da purificação dos mortos, Februa, a quem os romanos ofereciam sacrifícios para expiar as faltas cometidas durante todo o ano.
Os registros oficiais da pandemia da covid-19 no Brasil tiveram início em 26 de fevereiro de 2020, após a confirmação de que um homem de 61 anos de São Paulo que retornou da Itália testou positivo para a SARS-CoV-2, causador da Covid-19.
- Março -
Homenagem a Marte (Martius), deus da guerra.
Maceió teve a confirmação do primeiro caso de
contaminação no dia 08 de março de 2020. Um homem de 42 anos que retornou de
viagem à Itália. A primeira morte ocorreu no dia 31.03.20: um homem de 64 anos,
natural do Acre, que morava na cidade há seis meses.
Voltemos ao sertão santanense.
Choveu no dia de São José, 19 de março de 2020. Para os sertanejos a chuva no
dia do Santo é uma benção especial. Garantia de fartura de milho verde nas
festividades juninas. Abaixo da festa de Senhora Santana, excelsa padroeira, é
o período mais aguardado e comemorado pelos sertanejos.
O riacho Camoxinga, nasce na serra
dos Meninos. Há anos adormecido, despertou sereno. A luz do dia refletia em
suas águas o firmamento. O som do correr tranquilo das águas era sinfonia
acalentando a alegria citadina. Muitos acordaram sobressaltados, correndo para
apreciar a paisagem inédita da foz do riacho desaguando sereno no rio Ipanema.
As chuvas se intensificaram nos dias
seguintes. No anoitecer do dia 25 de março, o riacho tomou cheia repentina e
foi ganhando força e intensidade nas horas seguintes como nunca ocorrera
dantes. Tornara-se rebelde inesperadamente. Nunca houve cheia tão feroz. Foram
horas de pânico e terror para os ribeirinhos. Cobrou de volta seu curso, irrompendo sobre tudo que encontrava pela frente, entornando pelas ladeiras e cheio de si, extravasou por onde quis antes de se entregar ao Ipanema, afligindo mais de 350
famílias.
Município decretou estado de
calamidade e a cidade foi notícia nacional despertando o sentimento de
solidariedade do povo, empresas e entidades. Inúmeras campanhas de ajuda foram
deflagradas pelo Estado com apoio da defesa civil, secretaria de assistência
social e diversas entidades.
Dias depois, o jornalista Malta
Neto, iniciou pesquisa na região e constatou que a causa das enchentes do riacho
Camoxinga não fora em razão de estouro de barragens como diziam alguns
e sim, pelo excesso de chuvas. Aliadas as precipitações intensas, sobrevieram ocorrências
de fenômenos climáticos raros, denominados “cabeças d’água” que aconteceram,
parece-nos, simultaneamente; na serra do Poço, na face voltada para o povoado
da Camoxinga dos Teodósios, na propriedade do senhor Irineu e Fazenda Chã
Grande, nas imediações da Baixa do Tigre, de propriedade do senhor Roberto
Salgueiro Silva. As reportagens foram publicadas no portal maltanet.
A cabeça d’água ocorre quando uma nuvem
volumosa se rompe de repente em forma de chuva rápida, despejando muita água
rapidamente, aumentando o volume do rio ou riacho, por isso ser perigosa. É
suscetível de ocorrer no verão haja vista o maior volume de chuvas. Os eventos
santanenses ocorreram em colinas. O volume d’água desceu rasgando
impiedosamente a terra e arrastando tudo o que tinha pela frente somando-se ao
volume natural da calha do riacho. Há histórico de eventos semelhantes
na região em décadas passadas.
Foto: Colina após o fenômeno climático cabeça d'água Local: Camoxinga dos Teodósios Foto: Portal maltanet |
Embora já houvesse orientação de
isolamento social em virtude da pandemia do novo coronavírus, a situação de
precariedade das famílias afetadas tornou sem efeito o isolamento social
pretendido para conter a propagação do vírus. As cheias do riacho Camoxinga
também foram pretextos para que muitos curiosos descumprissem e ignorassem as
regras sanitárias.
Como
se não bastasse a cheia do riacho e tantos desabrigados, ninguém imaginou que a
situação ainda pudesse piorar. E foi o que ocorreu! Em decorrência da intensidade
das chuvas nos municípios pernambucanos que margeiam a calha do rio e seus
afluentes, dia 30 de março o rio Ipanema tomou grande cheia, provocando a maior
elevação já registrada nos últimos 40 anos, atingindo 10,4 metros acima do
nível, segundo levantamento do serviço geológico do Brasil por sua sede em
Recife.
Foto: Cheias do rio Ipanema e o riacho camoxinga |
A enchente
assustou. O volume das águas foi tanto que atingiu o passeio das pontes do
centro da cidade, deixando a população em polvorosa, provocando estragos,
deixando um rastro de destruição e centenas de famílias desabrigadas e
desalojadas. Lamentavelmente os desabrigados da cheia do riacho Camoxinga foram
novamente atingidos, visto que as águas do Ipanema invadiram os mesmos locais da cheia do riacho nas imediações da foz e parte do bairro Artur Morais, com acréscimo dos ribeirinhos do rio Ipanema, elevando
para quase mil pessoas em estado de calamidade. Sorte nossa que as cheias aconteceram com diferença algumas horas de de uma para a outra. Não fosse isso, os atingidos já seriam o máximo nos primeiros momentos. A maior tragédia que se tem
notícia provocada pelas cheias do riacho e do Ipanema,
simultaneamente. Felizmente não houve mortes. Segundo a tradição oral a maior
cheia de que se tem notícia ocorreu em 1940, mas não há registros oficiais, nem
fotos. Dizem que as águas invadiram áreas maiores.
Foto: rio Ipanema e o riacho Camoxinga |
- Abril - Há duas versões: A primeira
baseia-se em uma comemoração sagrada: aprilis, feita em homenagem a Vênus,
deusa do amor. A segunda versão viria de aperire (abrir, em latim), referência
ao período de abertura das flores, no hemisfério norte.
O
mês foi dedicado às campanhas de solidariedade e socorro aos atingidos pelas inundações.
Vários abrigos foram instalados na cidade sob a coordenação das paróquias com
apoio de entidades e governo municipal. Toneladas de alimentos foram recebidas
de todo Estado para distribuição às famílias afetadas. Instalou-se mutirão
municipal para limpeza das vias públicas e minimização dos estragos.
As normas de isolamento social continuaram assustando pessoas e a
maioria teimou em descumprir as orientações sanitárias. A severidade do
isolamento social foi muito impactante para a saúde física e mental. As últimas
gerações jamais sofreram restrição semelhante.
As
pessoas se viram obrigadas a olhar para si mesmas e reavaliar as prioridades,
os valores essenciais da existência humana diante da limitação de circulação,
permanecendo em casa por mais tempo. Tristezas e frustrações também se
acentuaram. A parada obrigatória da quarentena trouxe, compulsoriamente, mudanças
para o comportamento social nas relações de trabalho com a implantação do “escritório em casa”, convivência familiar e alternativas de lazer e diversão em casa.
Ressignificar passou a ser a opção para encarar medos e incertezas no contexto
atual.
Semana que
vem publicaremos a parte final.
Boletim Covid-19 – Quadro evolutivo
no período
Casos |
Abr. |
Maio. |
Jun. |
Jul. |
Ago. |
Set. |
Suspeitos |
11 |
234 |
445 |
484 |
266 |
139 |
Confirmados |
0 |
103 |
318 |
994 |
1459 |
1553 |
Descartados |
22 |
125 |
434 |
1498 |
2255 |
2868 |
Recuperados |
0 |
65 |
213 |
747 |
1155 |
1315 |
Óbitos |
0 |
04 |
08 |
18 |
26 |
30 |
Fonte:
Secretaria Municipal de Saúde
Durante a pandemia,
de março a setembro de 2020
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