Darras Noya

  

Darras Noya - (1917-1979) 

                   

          Darras de Albuquerque Noya, nasceu em 25.10.1917, na cidade de Pão de Açúcar. Filho de José Rodrigues Noya e Antônia Rosa de Albuquerque. Família permaneceu na cidade até os seus quatorze anos. 
           Nos anos 30 a família mudou-se para Santana do Ipanema. Nesse período, inicialmente exerceu a atividade de comerciário. Atuou também no Educandário Escola Santana, como diretor de disciplina, na gestão do diretor Floro de Araújo Melo. 

         Homem intensamente dedicado às artes integrou elenco dos músicos da Filarmônica Santa Cecília, nos anos 30, sob a regência do maestro José Ricardo Sobrinho (Um Mágico da Música. Maria do Socorro Farias Ricardo.1997. pg.29) Inclusive, em parceria com o maestro José Ricardo, compôs várias marchas carnavalescas. Descrevemos a letra do frevo canção “Da Cor do Brasil”, composto pela dupla.

Frevo Canção “Da Cor do Brasil” (José Ricardo Sobrinho/Darras Noya)



Garota Bonita

De cor morena

Cor da Iracema

Cor do meu Brasil!

És bem cativante

Bela e fascinante

É muito mais linda

Que as tardes de abril



Eu Quando te vejo

Garota bonita

Com laços de fita

Acho-a divinal

Cabelos bem pretos

Semblante risonho

Bem fantasiada

Para o carnaval.


        Casou-se em 1939 com Marinita, que passou a assinar Marinita Peixoto Noya(1914-1973) professora que chegara a Santana do Ipanema juntamente com outras 25 professoras nomeadas pelo Governo do Estado para revolucionar e dinamizar o ensino local, além mudar os destinos da sociedade santanense e de muitos rapazes da época. Muitas se casaram aqui na terra. Além de professora foi diretora do Grupo Escolar Padre Francisco Correia. O casal teve dois filhos: Jose Peixoto Noya "Zé Neto" (1943-2015) e Nestor Peixoto Noya (1940-2016).

        Em Santana, Darras dedicou-se a diversas atividades ligadas às artes e às tradições. Integrou a banda jazzística “Seresteiros do Sertão”, como percussionista do grupo. Bastante integrado à comunidade, esteve presente a inúmeras manifestações artísticas e culturais da sociedade santanense.


Banda jazzística "Seresteiros do sertão". Darras à esquerda, 1948.


             Ingressou no serviço público em 1948, como servidor do Departamento dos Correios e Telégrafos.         Assumiu o cargo de telegrafista em Maceió AL, onde permaneceu por alguns meses. Em seguida, foi transferido para Santana do Ipanema, para exercer o cargo de Agente postal telegráfico (Chefe dos Correios). 


Darras telegrafista, 1965
         O telégrafo foi um dispositivo de comunicação utilizado nas décadas passadas. As mensagens eram transmitidas através de sistema composto por fios. Usavam códigos para que a informação fosse transmitida de forma confiável e rápida. O principal código utilizado pelos telégrafos foi o código morse, que surgiu com a criação de telégrafo elétrico na década de 1830. Samuel Morse criou e registrou a patente do telégrafo no ano de 1837. 

    Foi o principal sistema de comunicação à longa distância nos séculos XIX e começo do século XX. Foi muito utilizado por indústrias, governos e até mesmo pelas forças armadas de diversos países em momentos de guerra. 

        Com o surgimento e disseminação do telefone, principalmente na primeira metade do século XX, o telégrafo foi sendo preterido.

        Participou intensamente do movimento teatral citadino. Dirigidos por Augusto Almeida, encenaram vários espetáculos  juntamente com outros participantes, dentre eles; Albertina Agra, Geraldo Monteiro, Fernando Nepomuceno Filho, Sargento Barros, Eluzia Gomes, Cristália Queiroz, Lourdes Santana, Cleusa Pires, Raquel Freire, Alberto Agra, Margarida Falcão, Maria de Lourdes Agra, Maria da Luz Oliveira, José Melo, Everaldo Batista, dentre outros. As peças foram exibidas no auditório, então existente nos fundos do prédio da prefeitura municipal, no palco do cinema de Zé Filho, Cine Glória e salão de festas da cooperativa agrícola nos anos 50. (Caminhada, Djalma Carvalho,1994, pg. 31).




Teatro Deodoro, Maceió 1952. Elenco santanense do espetáculo "Feia"
    Em 1960 foi inaugurado serviço de difusão com alto falantes distribuídos pela cidade, durante a gestão do Prefeito Hélio Cabral. A direção dos trabalhos estava a cargo de Darras. A aparelhagem era ligada com o prefixo musical “Canção de Setembro, September song, Clique para ouvir”. Além dos informes do Município, eram divulgadas músicas, notícias e, eventualmente, programas de calouros. Na lida diária, iniciava o serviço de alto falante com seu estilo próprio: “Com esta característica sonora, entra no ar a “A Voz do Município” (Festas de Santana, Djalma Carvalho, 1977, pg. 80)

        Telegrafista por excelência, exercia o rádio amadorismo como atividade de lazer. Atividade também exercida por seu filho Zé Neto. Ambos tinham habilidade incomum no manuseio da digitação do código morse. A comunicação através da telegrafia requer concentração e apurada acuidade visto que o alfabeto é simbolizado pela emissão de bips sonoros longos e curtos produzidos por um artefato metálico com uma tecla digitadora.

        Integrou equipe de associados do clube de serviços Rotary Clube Santanense, importante grupo filantrópico de prestação de serviços ao povo santanense, conforme registros de 1969. 
   
             Destacava-se também nos esportes, praticando voleibol. Nos carnavais era o folião fervoroso, destacando-se dos demais. Perspicaz, seu passatempo predileto era colecionar lembranças. Anotava curiosidades, letreiros incorretos e quaisquer fatos incomuns eram dignos de sua atenção e curiosidade. Dedicou especial atenção à filatelia e a numismática. 

          Pela fotografia tinha paixão especial. Sua máquina fotográfica, acessório inseparável. Ninguém fotografou tanto a terra que o acolheu; os monumentos, o povo, os costumes. Colecionador meticuloso, acumulou acervo numeroso e diversificado de Santana do Ipanema, tornando-se referência da história fotográfica da terra para historiadores, curiosos, escritores e pesquisadores.

Darras e sua máquina fotográfica, acessório inseparável.

        Deixou marcada a sua presença, pela dedicação com que rotulava, classificava e arquivava cada momento vivido. Dotado de argúcia incomum e elevado senso crítico, guardou reminiscências como se fora relíquias do baú existencial. Afeito ao exercício da comunicação comprazia-se em exibir suas preciosidades. 

            Deixou saudades quando concluiu sua coletânea de instantes e partiu. Jamais será esquecido. Seu nome está imortalizado, pois mesmo não tendo nascido nesta terra, foi um “santanense” de fato. Fervoroso cultor da história desta terra que o acolheu. Histórias que registrou com abnegação, paciência e paixão em cada fotografia que guardou e em cada lembrança aparentemente inexpressiva que cuidadosamente conservou. Foi uma verdadeira ponte de ligação entre as gerações do século XX. 

        Faleceu em 1979, após quase meio século de convívio com os santanenses. Pelo seu trabalho de preservação da memória e das artes santanenses foi escolhido para integrar corpo dos patronos da Academia Santana de Letras, Ciências e Artes, com a cadeira nº 6.

        Em sua homenagem, o museu histórico e de artes do Município criado pelo prefeito Hélio Cabral em 12.09.1959, teve o nome alterado para "Museu Histórico e de Artes Darras Noya” na gestão do Prefeito Genival Tenório, 1977-1982. 






Discurso de José Peixoto Noya (Zé Neto) proferido na solenidade de reabertura do Museu Histórico e de Artes “Darras Noya”, na gestão da Prefeita Renilde Bulhões, período de 2008-2012. 

        Gostaria de externar, nesta oportunidade, a minha alegria em estar presenciando a reabertura desta casa de cultura que leva o nome do meu pai Darras Noya, um santanense que aqui não nasceu, mas que, por muitos anos, incentivou e participou da cultura em nossa terra. 

        Eu diria que não há caminho mais importante do que aquele que nos leva em direção ao futuro, pois este é o caminho que os jovens seguirão durante o processo de crescimento e de amadurecimento. Este será um caminho repleto de promessas e descobertas, entusiasmo e esperança, se oferecermos o lenitivo. 

    Este museu é uma luz guia que deveria estar iluminando o caminho de nossos jovens. Um museu não é somente um prédio com muitas salas e coisas antigas. Ele é um repositório de ideias vividas e consagradas e obras notáveis. É um lugar em que armazenamos o conhecimento, a história e a beleza, um local magnífico que conta a história das tentativas do homem de iluminar a existência humana. Ele guarda o nosso passado através de manuscritos, objetos, fotos, e de muitas outras maneiras. 

        Um povo sem passado não tem história e esta casa foi criada há 50 anos, pelo então Prefeito Hélio Cabral de Vasconcelos, justamente com a finalidade de preservar o que vivemos e como vivemos. Infelizmente, durante muitos anos, funcionou apenas como uma casa de guardar coisas velhas, quando na realidade, esta “velharia” representa dignamente o que conseguimos ser. 

        Senhora Prefeita: o povo santanense está de parabéns, com este ato de reabertura do nosso museu histórico, diga-se de passagem, que nunca deveria ter sido fechado. Não tenho procuração do povo santanense, mas tenha a certeza de que, da mesma maneira que eu e minha família nos sentimos orgulhosos e agradecidos, o povo também referenda este legado. 

       Um povo não se desenvolve sem cultura, nem nada se faz isoladamente e tenho a certeza que este também seja o norteamento da sua administração. Portanto, somente a título de sugestão, permita-me dar uma opinião, e outras opiniões, creio, também deveriam ser ouvidas, para que esta casa permaneça aberta por tempo indeterminado e seja utilizada pela população de maneira educativa e pedagógica, como deveria ser. 

        A sugestão é que, através dos órgãos da Secretaria de Educação e Cultura, seja elaborado plano estratégico permanente de treinamento do corpo docente do Município em História Santanense para difundir a cultura e tradições, inserindo visitas guiadas a esta casa, no intuito de transmitir e multiplicar os costumes e crenças. Obrigado.      

     

Publicação de janeiro de 2018, revisada em agosto de 2020





Comentários

  1. Parabéns meu tio! A história do meu avô e os anos vividos em Santana do Ipanema, foram intensos e realmente importantes para a cultura da nossa terra, como tão bem foram ilustradas e textualizadas aqui. Parabéns também pela dedicação e pesquisas até essa publicação e tantas outras. Sentimento de gratidão e felicidade.

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  2. É sempre muito importante pesquisarmos e buscarmos nossa história em pessoas q tiveram grande contribuição na vida de uma comunidade! Conhecia Darras Noya apenas pelo nome de nosso museu e, conhecendo sua trajetória em nossa Santana, vimos porque nossa terra desperta tanta paixão!

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    1. Obrigado Júnior pela contribuição. Precisamos conhecer e divulgar os personagens da nossa história. Darras Noya deixou grande contribuição à cultura santanense.

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  3. Parabéns Xará! Mais um belo relato e resgate da história e da cultura em Santana do Ipanema.
    Um abraço

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    1. Valeu Xará, obrigado pela leitura e comentário.

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  4. De grande importância, resgatar as histórias da cidade.
    Parabéns!

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    1. Obrigado pela leitura e comentário Antônio. Concordo contigo.

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