As Negras da Costa tocam bombo, caixa, ganzás e reco-reco e dançam. As músicas, geralmente são formadas por interessantes quadrinhas e cantadas repetidas vezes por todo o grupo. Pai Velho, Mãe Velha, o Dirigente e as Baianas ou Negras são personagens deste folguedo. O Dirigente veste terno completo, chapéu de palha e porta uma bolsa “de mulher”. O Pai Velho usa terno completo de cor preta e é incumbido de carregar nos braços a Calunga. A Mãe Velha, juntamente com as Baianas ou Negras, vestem-se com as roupas tradicionais de baianas e carrega um balaio cheio de flores e frutas na cabeça. Em Quebrangulo, o grupo Nega da Costa tem origem por volta do ano de 1910, fundado pelo mestre Basílio, descendente de escravos, com o objetivo de resgatar a cultura de seus antepassados que dançavam a Negra da Costa nas senzalas.” Atualmente é o único grupo reminiscente deste folguedo.
O mais interessante foi a descoberta que viria em seguida, pesquisando sobre as origens do folguedo: “Mestre Théo Brandão (1907-1981) na magistral obra “Folguedos Natalinos de Alagoas” contando com inquéritos realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e com informações pessoais do folclorista maior, faz um levantamento completo de todos os folguedos folclóricos do Estado. Nesse levantamento realizado em 1957, é registrado o folguedo “Negras da Costa” em dois municípios Alagoanos: Santana do Ipanema e Mata Grande.
A pesquisa feita pelo IBGE e por Théo Brandão levou em conta, também, o livro do escritor santanense Oscar Silva, “Fruta Palma”, da crônica “Cinzas de um carnaval” de onde foram extraídas partes do texto para embasar o estudo, conforme descrito a seguir: “ ...Finalmente passava o tradicional “Negras da Costa” (...) rapazes vestidos de negras, saias e ancas de molambos, a girar pela cidade, dançando, rodopiando e torcendo os quadris (...) andavam, não pelo meio da rua, mas em (...) casas onde entravam para dançar”.
E transcreve as letras das músicas cantadas pelo grupo:
“Ô raio! Ô sol
Suspende a lua!
Nêga da Costa
Já anda na rua”.
Esta mesma quadra é cantada por palhaços de circo deste modo:
“Ô raio, o sol,
Suspende a lua,
Olhe o palhaço
No meio da rua”
A outra letra registrada pelo escritor, é também cantada em Quebrangulo:
“Nêga da Costa
Que anda fazendo?
-Ando na rua,
Comendo e bebendo
Identificamos vestígios contundentes para corrigir o período histórico em que o folguedo estava em atividade nos carnavais em Santana do Ipanema. Eis os indícios:
a) A crônica de Oscar Silva refere-se a contexto do início do século XX, provavelmente na década 1910-1920, embora seu livro tenha sido publicado em 1953 a primeira edição;
b) O autor discorre sobre o dia a dia das festividades, citando inclusive os rituais dos blocos carnavalescos, quem confeccionava os adereços e acessórios (Seu Hermídio), além das apresentações das bandas de música Aratanha, fundada em 1918 e extinta em 1925; do maestro Juvino, tio de autor e Carapeba, fundada em 1908 e extinta em 1926; do maestro Queirós, que faleceu em dezembro de 1924;
c) Outro detalhe importante foi o tempo em que a cidade dispunha duas bandas de música, cujas apresentações estão descritas na publicação. Período estimado entre 1918 e 1924;
d) Tadeu Rocha, escritor e jornalista santanense, faz a seguinte afirmação essencial sobre os costumes da família do sobrado e o convívio com o povo santanense, constante do livro Modernismo e Regionalismo: “Uma farta despensa completava-se com finos talheres, cristais e porcelanas, e o sobrado todo iluminado a bicos de acetileno ostentava um piano “pleyel” e um enorme gramofone inglês. No primeiro andar e no sótão residia a família do coronel Manoel Rodrigues da Rocha, verdadeira autoridade do município. A enorme sala de visitas fim-do-império, com cinco portas envidraçadas, abria para receber o governador Costa Rego, o governador Euclides Malta ou o arcebispo D. Sebastião Leme. Mas também os humildes clubes carnavalescos da cidade, com fantasias de “morcegos” ou “Negra da Costa”, subiam as escadas e dançavam livremente na ampla sala de visita.”;
e) Com as informações acima, podemos afirmar da existência do grupo carnavalesco Negras da Costa em Santana do Ipanema em 1920. Constata-se, também, contemporaneidade entre o folguedo e os personagens santanenses Coronel Manoel Rodrigues da Rocha (1857-1920) e o Maestro Manoel Vieira de Queiros (+1924), conquanto a manifestação folclórica não tenha prosperado e se encontre extinta.
“O escritor Bezerra e Silva, em sua juventude presenciou o “Clube das Negras da Costa” em Palmeira dos Índios, informado que em 1920, o folguedo já era tradicional. As Negras daquele município eram formadas por homens e saíam apenas no carnaval. Trajavam saias brancas, bem engomadas e bem armadas “rodas de saia”, camisas bordadas, torso na cabeça, “africanas” grandes brincos e colares de vários tipos e tamanhos. (Entrevista concedida ao folclorista Théo Brandão em 1976).
Para dar maior indicação que eram baianas negras, legítimas, tingiam o rosto e os braços com “tisma” de panela. Existia, como no grupo de Quebrangulo o “pai velho” e a “mãe veia”, esses personagens são comuns a muitos dos antigos clubes de carnaval de Alagoas. O cortejo era acompanhado por cuíca, harmônica e tambor.
A dança é um frenesi de homens, jovens e meninos, com o corpo todo pintado de preto, vestidos de baianas, rebolando e se estrebuchando ao som do maracatu, num supremo deboche à dominação branca nos engenhos e casas grandes do Brasil Colonial. É um evento imperdível e, quem nunca viu, pode se preparar, porque a alegria vai tomar conta. A garra do grupo de Quebrangulo, município distante 133 km de Maceió, é de fazer chorar de rir – puro escárnio, misturado à força guerreira dos artistas que se entregam à preservação de tão rica manifestação secular.” (Site Alagoas Boreal)
“O folclore alagoano tem suas raízes com origem nos três elementos colonizadores do povo brasileiro, ou seja: o negro, o branco e o índio.
As manifestações folclóricas acontecem durante todo ano, de acordo com o período festivo. Segundo estudiosos, é provável que o Estado possua 29 variedades desde danças e torés aos folguedos vinculados a festejos natalinos, festas religiosas e carnavalescas. Beleza e originalidade é o que não faltam ao folclore alagoano, conhecido nacionalmente pela desenvoltura e traje dos grupos, que difundem a cultura do Estado em todo país e em outros continentes.
Os folcloristas pioneiros são os responsáveis pela decantada riqueza das manifestações folclóricas de Alagoas, com destaque para Théo Brandão, homenageado pelos alagoanos com um museu que recebe seu nome.
O essencial para diferenciar a categoria dança da categoria folguedos é o sentido de representação, ausente nas danças e presente nos folguedos. No folguedo o indivíduo assume provisoriamente um ou vários papéis na apresentação, o que não acontece na dança em que continua a ser ele mesmo.
Alagoas é o Estado que possui a maior diversificação em folguedos. Segundo os estudiosos do folclore, possuímos treze folguedos natalinos, dois folguedos de festas religiosas, oito folguedos carnavalescos, sendo quatro com estrutura simples, três danças e dois torés, totalizando vinte e nove folguedos e danças genuinamente alagoanas:
Folguedos natalinos: Baianas, Bumba meu Boi, Cavalhada, Chegança, Fandango, Guerreiro, Maracatu, Marujada, Pastoril, Presépio, Quilombo, Reisado e Taieiras;
Folguedos religiosos: Bandos e Mané do Rosário;
Folguedos carnavalescos: caboclinhas, cambindas, negras da costa e samba de matuto;
Folguedos carnavalescos com estrutura simples: A cobra jararaca, boi de carnaval, gigantões (bonecas) e ursos de carnaval;
Torés: toré do índio e toré de xangô;
Danças: coco Alagoano, dança de São Gonçalo e roda de adultos e
Outras danças: capoeira, maculelê, dança da fita e quadrilha”.
Resumo dos folguedos da história cultural de Santana do Ipanema em atividade ou extintos:
Folguedos Natalinos: Pastoril (Em atividade)
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Pastoril do clube da melhor idade Nova Vida S do Ipanema Fonte: Portal Maltanet
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O mais conhecido e difundido folguedo popular alagoano, o Pastoril é uma fragmentação do Presépio, sem os textos declamados e sem os diálogos. É constituído apenas por jornadas soltas, canções e danças religiosas ou profanas, de épocas e estilos variados. Composto pelos seguintes personagens: mestra, contramestra, Diana, pastorinhas, cigana, anjo, demônio, pastor e borboleta. Com exceção do pastor, todas as outras personagens são interpretadas por brincantes do sexo feminino. O traje da maioria das personagens remete ao campo e é composto de saia, camisa, colete, avental e chapéu de palha O auto traz um “duelo” entre os dois cordões – o azul e o encarnado (como é denominado, no pastoril, o vermelho). A Diana é neutra na disputa e, por essa razão, tem roupa de duas cores: um lado vermelho e o outro azul. Nas mãos, as brincantes trazem um pandeiro enfeitado com as fitas na cor do cordão ao qual pertencem.
Entre as jornadas, as pastoras são chamadas em cena para receberem as contribuições financeiras da plateia – são elas que irão determinar a disputa entre os dois cordões. Depois de diversas apresentações, costuma-se fazer a coroação do cordão vencedor, ou seja, aquele que recebeu as maiores contribuições.Como os Presépios, origina-se de autos portugueses antigos, guardando a estrutura dos Noéis de Provença (França). Em fins da década de trinta do nosso século, surgiu em Maceió um tipo de pastoril diferente. Era um arremedo do pastoril comum, feito por rapazes, jovens estudantes, que pretendiam fazer graças e provocar risos. A essa interpretação do fato folclórico chamaram de “Pastoril dos estudantes” ou “Pastoril de estudantes”.
Fonte: FMAC/Wiki
Reisado (Em atividade)
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Reisado na festa de Senhora Santana Fonte: Autor
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Folguedo natalino, o Reisado alagoano tem sua raiz na tradição católica portuguesa que, como costume, saía de porta em porta anunciando a chegada do Messias durante o Natal, e o dia de Reis (06 de janeiro), período que compreende a representação do nascimento de Cristo.
Patrocinadas pelos senhores de engenho para animar as grandes festas na casa grande, as homenagens não compreendiam apenas esse período festivo. Os mesmos se apresentavam também nas confraternizações em outras datas para prestar louvores aos donos das casas onde dançavam.
Dentre os folguedos alagoanos o reisado se constitui como um dos mais fortes e mais antigos. É formado por cantores, dançadores e músicos, e dele surgiu o folguedo nominado de “Guerreiro”.
Fonte: VILELA, André Misael. Campanha publicitária para mídia impressa: Identidade cultural dos folguedos populares da cidade de Viçosa – AL
Taieras, Quilombo e Baianas (extintos)
Folguedos Carnavalescos: Negras da Costa e Ursos de Carnaval (extintos)
Danças: Coco Alagoano (em atividade)
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Coco vira e mexe de Santana do Ipanema
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O Coco é uma dança de origem negra e possivelmente surgiu na zona fronteiriça de Alagoas e Pernambuco, num cordão de serras ocupadas no século XVII pelo célebre Quilombo dos Palmares. A batida forte dos pés, também chamada de tropel, e o balançado do ganzá marcam o ritmo desse folguedo de origem afro-brasileira.
Em Maceió, por ocasião da virada do século XIX para o século XX, fundou-se uma sociedade com o nome de Cocadores Federais, composta de funcionários dos Telégrafos e da Delegacia Fiscal do Tesouro Nacional, com o fim de solenizar a entrada do novo milênio dançando-se o Coco e cantando emboladas.
O Coco pode ser dançado calçado ou descalço, e, aparentemente, não existe data exata para ser dançado, embora seja mais facilmente encontrado em Junho, devido ao período festivo dos santos Antônio, João e Pedro. A brincadeira do Coco pode ser dançada apenas com as palmas ritmadas de seus integrantes.
É importante ressaltar que o que predomina no Coco é o espirito de união comunitária. Alguns folcloristas afirmam que a batida do coco é devido ao período em que as comunidades faziam mutirões para construção de casas de barro. A batida do pé era a forma mais divertida de bater o barro.
Sidinéia Tavares – Referencias: wikialagoas.al.org.br e artigo Danças Folclóricas Alagoanas
Outras danças: Capoeira (Em atividade)
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Capoeira "liberdade" de S do Ipanema Fonte: Portal Maltanet
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A capoeira é uma expressão cultural brasileira que mistura arte-marcial, esporte, cultura popular e música. Desenvolvida no Brasil principalmente por descendentes de escravos africanos com alguma influência indígena, é caracterizada por golpes e movimentos ágeis e complexos, utilizando primariamente chutes e rasteiras, além de cabeçadas, joelhadas, cotoveladas, acrobacias em solo ou aéreas. Com fortes ligações à Bahia a Capoeira também se faz presente, de forma bem organizada, no estado de Alagoas. Uma característica que distingue a capoeira da maioria das outras artes marciais é a sua musicalidade. Praticantes desta arte marcial brasileira aprendem não apenas a lutar e a jogar, mas também a tocar os instrumentos típicos e a cantar. Um capoeirista experiente que ignora a musicalidade é considerado incompleto.
A palavra capoeira é originária do tupi-guarani, que significa “o que foi mata”, através da junção dos termos ka’a que significa “mata” e pûer que significa “que foi”. Refere-se às áreas de mata rasteira do interior do Brasil onde era praticada agricultura indígena. Acredita-se que a capoeira tenha obtido o nome a partir destas áreas que cercavam as grandes propriedades rurais de base escravocrata. Capoeiristas fugitivos da escravidão e desconhecedores do ambiente ao seu redor, frequentemente usavam a vegetação rasteira para se esconderem da perseguição dos capitães-do-mato
Fonte: FMAC/Wiki
Quadrilha (Em atividade)
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Quadrilha junina beija flor do sertão de S do Ipanema
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Dançada originalmente pelos camponeses ingleses, conhecida com “country dance”, na qual descendentes de celtas e saxões executavam velhos rituais pagãos num Reio Unido já cristianizado, espalhando-se pela França durante a Guerra dos Cem anos, com o nome afrancesado de “contredance”. A dança perdeu o formato roceiro característico e tomou um estilo de dança nobre ou dança de corte nos principais reinados europeus. No Brasil, a dança de quadrilha, assim como era chamada em Portugal, foi trazida praticamente com a vinda da Família Real Portuguesa, em 1808. No Brasil, durante o período regencial, a dança de quadrilha causava grande frenesi entre a alta sociedade da época, principalmente com a vinda de orquestras de dança de Millet, Cavalier e Tolbecque. A dança se popularizou e aqui ganhou várias derivações como a “Quadrilha Caipira” em Minas Gerais, o “Baile Sifilítico” na Bahia e o “Saruê” no Brasil Central.
Fonte: FMAC/Wiki
Música: Bandas de pífanos (Em atividade)
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Banda de pífanos fonte: Goretti Brandão
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As bandas de pífano, também são denominadas de Zabumba, Esquenta Mulher etc. Termo de origem portuguesa, surgem em todos os estados nordestinos.
Em Alagoas o grupo é composto por dois pífanos, em tambor, um tarol, um bumbo ou zabumba, um par de pratos e um triângulo.
O seu repertório consta de ritmos tradicionais do nosso folclore, benditos e músicas populares, aparecendo principalmente na zona rural, em festas de santos, romarias, vaquejadas ou acompanhando folguedos como Cavalhadas, Mané do Rosário, dentre outros.
Mais que crônica, uma autêntica reportagem sobre as origens do folclore alagoano, ou, melhor dizendo, da antiga capitania hereditária de Pernambuco. Parabéns, João, pelo sobrevoo panorâmico sobre nossa história.
ResponderExcluirObrigado pela leitura e comentários elogiosos.
ExcluirMais um texto-aula, riquíssimo em informações, para quaisquer consultas nos temas abrangentes pelo mesmo, com o selo JNFM de Qualidade.
ResponderExcluirObrigado Fernando pela leitura e recomendação.
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ResponderExcluirParabéns, João, por mais essa aula. Continue pesquisando, e publicando, essas pérolas, que servem para resgatar parte de nossa história, tão deliberadamente esquecida.
Obrigado Cláudio pela leitura e comentários.
ExcluirTexto que apresenta os costumes e tradições do povo alagoano, com excelente riqueza de detalhes. Parabéns, mais uma vez, JN.
ResponderExcluirObrigado Oliveira pela assiduidade nas leituras dos trabalhos e opiniões.
ExcluirUm belo resgate de nossa rica Cultura. Muito bom João!!
ResponderExcluirObrigado Mariana !
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