Vivemos tempos estranhos.
Surrealismo que surpreende até o mais cético dos homens. Coisas inimagináveis.
Até as cartomantes, visionários e videntes foram pegos desprevenidos. Nem Nostradamus (1503-1566) buscou em suas
visões tamanha tragédia no porvir.
Quem predisse
palpite da atual realidade foi o cantor baiano Raul Seixas (1945-1989), o
maluco beleza como se autodenominou. Sua canção “O dia em que a terra parou”
(1977) faz um relato de um sonho, profetizando o mundo em caos parecido com
esse que estamos vivendo.
O
certo mesmo é que o perigo está à espreita. Paira
sobre nós o manto invisível de medo. Vivemos em permanente desconfiança. O
cenário provocado pelo novo coronavírus (covid-19) é nocaute às regras e
convenções. Impiedoso, o mal avança e se alastra rapidamente em todas as
regiões do país; grandes e pequenas cidades. A ciência ainda estuda sua origem
e tratamento. Países envidam esforços para a descoberta de uma vacina. Milhares
de pessoas já morreram no País.
Reconhecemos que é um teste brutal aos
governos e sistemas econômicos, visto que não há um protocolo único a ser
seguido. E é exatamente por isso que o inimigo invisível se sobressai. Para
vencer o desafio hercúleo é preciso concertar, pensar, articular, mediar, ouvir
e implementar. Atitudes de líderes eficazes. Infelizmente, em falta atualmente!
Os
governos expuseram em abundância foi sarrabulhada, desunião e falta de
planejamento para gerenciar as crises de saúde pública, econômica, política e
social. Estamos sozinhos a esmo. Cada um por si e salve-se quem puder.
E tudo
foi parando. Gestores, na ausência de
plano federativo de gestão da crise, cada um foi tomando medidas que no seu
entendimento mais serviam. Enquanto isso, superlotação e falta de estrutura nos
hospitais e aumento de mortes em todas as regiões.
Nunca a
ciência foi tão desprezada e subjugada. Governos acham-se no direito de
questionar e ignorar pesquisas científicas e impor seus achismos à população e
isso tem efeitos desastrosos. O isolamento social se apresentou como única
forma eficiente para redução do contágio. Em consequência, economias estão
sendo destroçadas. O desemprego e a fome avançam tal qual a força de tsunami
social e de saúde pública exigindo dos governos ações que amenizem tanto
sofrimento e agonia.
Já
estamos há mais 60 dias em quarentena e não vislumbramos amenidades. Indústrias
fechadas, comércios, escolas e muitas pessoas nas ruas, indiferentes aos
alertas das autoridades. Muitos esnobam. Pessoas reclusas foram obrigadas a
intensificar convívio familiar e se espantam com a realidade do encontro
consigo mesmo. Em risco, a sanidade mental anda capenga no limiar da loucura.
Muitos seguem indiferentes como se nada estivesse acontecendo. Outros, simplesmente
fingem desprezar tudo o que estamos vivenciando como se fosse um filme de
ficção científica.
As redes
sociais se transformaram no palco geral de asneiras proclamadas aos quatro
ventos. Muitos
brasileiros agora são autoridades virtuais a serviço de coisa nenhuma, aliás,
da balbúrdia. A falta de consciência ou boa vontade para analisar a veracidade
das informações vem produzindo milhares de agentes disseminadores de notícias
falsas em volumes desmedidos, embaralhando ainda mais o pandemônio.
Diariamente
testemunhamos estímulo ao ódio e a polarização política, enquanto milhares de
pessoas morrem sem direito sequer a velório e sepultamento digno. Vergonha
nacional. Como será daqui para frente não sabemos. Somos um barco à deriva. Contudo,
a pandemia e o isolamento social estão produzindo inúmeras mudanças no comportamento
humano que não vê alternativa, senão ressignificar valores. A resiliência tomou
a dianteira de palavra de ordem. Novos paradigmas despontam. E, como diz um
velho amigo, assim caminha a humanidade.
28.05.2020
Publicação faz parte do Projeto Memória da Pandemia nas Alagoas sob coordenação de Luiz Sávio de Almeida e José Carlos Silva de Lima, publicado no blog campusdosavio.blogspot.com
Fonte: http://campusdosavio.blogspot.com/2020/06/joao-neto-felix-mendes-pandemia-de.html
Comentários
Postar um comentário