O vendedor de "quebra-queixo"

 

                 Sol a pino! Depois do almoço, o mesmo ritual! Lá estava ele! O vendedor de “quebra-queixo”, com seus versos previsíveis e entonação dos cantadores sertanejos:

 - “Quebra-queixo, Oi ele... É de coco, chocolate, mel de abelha, vitamina B-12 e leite moça...”

          Diariamente, com sua bandeja de flandre excessivamente reluzente de tão areada, seguia incansavelmente. Trazia consigo diversas versões dos doces: tradicional, com pedaços de coco, com recheio de amendoim e um doce chamado "morozilha" uma liga dura de açúcar com essência de groselha ou morango que se apresentava na cor branca ou rosa, certamente colorida com anilina. As frações eram cortadas com uma faca ou espátula. Difícil de ser mastigada era versão mais barata para os momentos de pouca grana.

                   Nós sabíamos que o "quebra-queixo" era de açúcar, água e coco. E o mais importante: saber o “ponto”. Esse era o segredo do acepipe simples e delicioso. Experiência adquirida após anos de prática.  Os ingredientes decantados na propaganda pelo Chico eram a alma do negócio. Sem a canção, faltava vida à guloseima. Era doce viciante! Experimentá-lo era convite à gulodice compulsiva.

                   Depois de muito tempo, reencontrei-o. Relatou-me sua experiência: 36 anos de ofício de vendedor pracista de doce “quebra-queixo”, profissão que rendeu sustento à família e vida realizada. Dediquei-lhe os versos:

doce "quebra-queixo"

                      

                                     O vendedor de quebra-queixo


               Lá vem o vendedor de quebra-queixo,

               Subindo e descendo ruas e avenidas

               Cantando cantigas maroto e faceiro

               Juntando meninos ao redor do tabuleiro

 

               Declamava: - É de coco, chocolate e mel de abelha!

               Sabíamos que tudo não passava de embolada,

               Mote de cantador, doceiro das ruas da cidade...

               Arte e exaltação ao labor de todo dia

 

               Mais um dia se vai, outro dia que vem...

               E de novo, o vendedor de quebra-queixo,

               Em alvoroço, reúne meninos nas esquinas...

 

               Lá se vai o Chico. Declina a ladeira do tempo...

               Adeus à canção, bandeja e faca amolada

               Vagam doces palavras, rimas e lembranças.                                                                              

  Publicação de janeiro de 2006, revisada em janeiro de 2020


Comentários

  1. Mais uma doce (literalmente) e suave crônica, escrita com uma concisão precisa, mas ampla para nos deliciar.

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  2. Muito bonito, João. Texto introdutório e poema. Dá saudade e a saudade é amiga testemunha do que foi vivido e, neste caso, lindamente trazido e recuperado para constar na memória de todos, os quantos se deliciarem, empáticos, com esse texto! Parabéns!

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  3. Excelente! Você escreve bem. Com sentimento, verdade e Amor. Comia também esse "Quebra-queixo". Abraços bom amigo.

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  4. Parabéns nobre confrade
    E amigo:
    João Neto Felix Mendes!
    São lindos os versos
    Do seu poema:
    O vendedor de
    "quebra-queixo"
    Me fez recordar
    Com felicidade ,
    As boas lembranças
    Do meu tempo de
    Criança quando ,
    Eu corria para também
    Quebra -queixo comprar!
    E as vezes quando eu não
    Tinha dinheiro para o
    Meu quebra -queixo
    Comprar , ele simplesmente
    Me dava um quebra-queixo
    De graça!
    Eu lhe agradecia ,
    E saia feliz !
    Saboriando
    Aquele delicioso
    Quebra-queixo!


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  5. Preciso do telefone dele

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